O assalto a um banco em Criciúma chamou a atenção do Brasil e de outros países para Santa Catarina, em uma ação de ousadia e violência que envolveu mais de 30 criminosos. No entanto, casos desse tipo não são tão raros no Estado nos últimos anos e mobilizam as principais forças de segurança catarinenses em busca de respostas e culpados.

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O caso de Criciúma traz lembranças imediatas do violento assalto ao aeroporto Quero-Quero, em Blumenau, que ocorreu em março do ano passado. Os crimes têm semelhanças pela organização dos bandidos para a chegada e fuga — sempre usando carros de luxo e blindados — e pelo armamento pesado utilizado. Em Criciúma, os assaltantes usaram fuzis 762 e 556, além de uma metralhadora .50, que também foi usada em Blumenau e é capaz de derrubar helicópteros.

— No crime cometido em Blumenau, os autores ficaram na cidade por um prazo de aproximadamente nove meses. Obviamente que esse crime de Criciúma também teve um tempo de maturação, e com isso lograram êxito na busca de informações — comparou o delegado-geral da Polícia Civil de SC e chefe do colegiado de segurança de Santa Catarina, Paulo Koerich.

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Também em Blumenau, em setembro do ano passado, bandidos fortemente armados invadiram uma agência bancária em uma avenida movimentada da cidade em plena luz do dia. Eles atiraram contra a agência e usaram reféns como escudo, em cenas que também lembram os reféns no meio das ruas de Criciúma na última madrugada.

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Já em Joinville, na região Norte, a atuação mais vista nos últimos anos foi dos “caixeiros”, especialistas no assalto a caixas eletrônicos. A cidade chegou a ser tratada como um polo desses criminosos que atuavam no país inteiro.

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A violência e o tamanho desses crimes remete ao termo “novo cangaço”, que passou a ser usado para esses assaltos quase cinematográficos. No entanto, o consultor de segurança Eugênio Moretzsohn vê diferenças no perfil nas cidades:

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— O termo “novo cangaço” se originou no Nordeste quando pequenas cidades eram alvo dessas ações criminosas, e depois isso se expandiu para o Brasil inteiro. Eram sempre cidades com pequeno efetivo policial, mas não se pode dizer isso de Criciúma e Blumenau.

Para Moretzsohn, tratam-se de “crimes de oportunidade” e que são fruto de organização e estudo dos grupos criminosos, muitas vezes ligados a facções criminosas e com ramificações no país inteiro — e até mesmo no exterior.

— Devem ter feito um estudo. Em Blumenau foi a oportunidade de um carro forte, em Criciúma, a oportunidade de ser quase uma tesouraria do Banco do Brasil, com muito mais dinheiro que uma agência comum. São crimes que demandam um investimento absurdo, inclusive em contrainteligência, com disfarces. Mas, para eles, o alvo é compensador. Tem dinheiro, tem informação, vale o risco — avalia o consultor.

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O especialista lembra também que muitas vezes esse tipo de crime é praticado pelos mesmos grupos. Um exemplo é o homem acusado de envolvimento no assalto no aeroporto de Blumenau no ano passado, e que chegou a figurar na lista de criminosos mais procurados do Brasil.

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Além do caso em SC, ele já havia se envolvido no roubo a um centro de distribuição de eletrodomésticos no interior de SP e do grande assalto à base de valores da empresa Prosegur, no Paraguai, em 2017. Crimes desse porte, com altas quantias de dinheiro envolvidas, são usados também para financiar, em parte, as ações seguintes dos criminosos.

Crimes em cidades pequenas se repetiram no ano passado

Seguindo a linha dos crimes do “novo cangaço”, várias cidades pequenas de Santa Catarina foram alvo desse tipo de ação no ano passado. Cidades como Mirim Doce, Apiúna e Vidal Ramos, no Vale do Itajaí, tiveram assaltos violentos e de características parecidas.

No caso de Vidal Ramos, em dezembro do ano passado, duas agências bancárias foram assaltadas e os criminosos usaram uma tática que foi repetida em Criciúma. Na época, o grupo incendiou um caminhão na SC-110, que dá acesso ao município, para frear o avanço dos policiais. Em Criciúma, um caminhão foi incendiado no Morro do Formigão, atrasando o deslocamento de reforços vindos de Tubarão.

Em entrevista concedida na época da onda de crimes no interior, o então comandante-geral da Polícia Militar de SC, Araújo Gomes, afirmou que o tamanho das cidades e a existência de muitas estradas entre as localidades, muitas vezes na área rural, contribuíam para a fuga dos criminosos.

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Na época, Gomes ressaltou também a possível participação de pessoas com informações locais que davam suporte aos criminosos.

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