O assalto a banco em Criciúma, na madrugada desta terça-feira (1º), repete a onda de grandes roubos que aconteceram em Blumenau e região no ano passado.

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O poder de fogo dos criminosos, a utilização de reféns para garantir a fuga sem trocas de tiros, o monitoramento da área alvo da ação e a estratégia de fazer barricadas para atrasar a chegada de equipes policiais são alguns dos pontos semelhantes.

A comparação foi feita pelo próprio delegado-geral da Polícia Civil do Estado, Paulo Koerich, durante entrevista ao Bom Dia Santa Catarina, da NSC TV.

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O Vale do Itajaí viveu entre março e dezembro de 2019 um período de tensão com ações criminosas periódicas. A mais marcante foi o assalto ao Aeroporto Regional de Blumenau, o Quero-Quero, que resultou na morte de uma mulher vítima de bala perdida, e em dois seguranças gravemente feridos.

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Na ocasião, criminosos em carros de luxo entraram no aeródromo por um hangar, invadiram a pista e anunciaram o roubo contra um avião usado para o transporte de valores. Os bandidos estavam armados com AK-47 — fuzil de assalto russo que não é utilizado por nenhuma instituição brasileira — e metralhadoras acopladas nos veículos capazes de derrubar helicópteros (.50).

Quase R$ 10 milhões foram levados pelos criminosos e o crime foi considerado “o maior roubo da história de Santa Catarina” pela Polícia Civil.

Silêncio das autoridades e “roteiro cinematográfico”

O crime na Itoupava Central mobilizou as elites policiais do Estado, o mesmo que ocorre agora após a madrugada de terror em Criciúma. Na época, suspeitos chegaram a ser localizados em um hotel em Itajaí, no Litoral Norte do Estado, porém estavam apenas com uma pequena parte do dinheiro — cerca de R$ 20 mil.

As investigações ficaram a cargo da Delegacia de Roubos e Antissequestro de Santa Catarina, comandada por Anselmo Cruz, e o silêncio sobre novidades do caso imperou durante mais 10 meses.

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Em 13 janeiro deste ano, a Polícia Civil informou que cinco pessoas envolvidas diretamente no planejamento e na execução do assalto ao aeroporto de Blumenau haviam sido presas. Os investigadores também deram detalhes sobre como foi o crime — como o fato de a ação ter sido planejada por ao menos seis meses e a fuga do dinheiro ter sido feita por meio de um caminhão de lixo.

Entre os detidos estava o homem considerado o “cabeça” do crime, responsável por arquitetar todo o plano do assalto ao avião forte em Blumenau. A informação da prisão havia sido mantida em sigilo para não atrapalhar as investigações.

Uma semana depois, no dia 20, outro suspeito foi preso no interior de São Paulo — ele teria sido um dos oito homens que trocou tiros após o anúncio do assalto em plena pista do aeroporto.

Novo assalto com reféns e fuga em Blumenau

Menos de seis meses depois dos dias de terror vividos às margens da Rua Pedro Zimmermann, a Itoupava Central voltou a ser palco de uma ação criminosa.

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Bandidos fortemente armados invadiram uma agência do Bradesco, atiraram contra o imóvel e usaram reféns como escudo para evitar a troca de tiros com a Polícia Militar.

À época, policiais chegaram a confirmar que “ao menos R$ 500 mil” foram levados durante a ação, porém o número é maior, conforme fontes ligadas à investigação.

Crimes no Alto Vale

Cidades pequenas — e como consequência com pouco efetivo policial — também foram alvos de criminosos durante a onda de grandes assaltos no Vale do Itajaí em 2019. Em Mirim Doce, um assalto que ocorreu em uma agência em 1º de março, véspera de Carnaval, envolveu ao menos sete bandidos.

Cinco foram presos e dois morreram em um confronto com a polícia quase um mês depois do crime. O bando era formado pelo responsável por arquitetar o crime, que seria do Alto Vale do Itajaí, e os demais assaltantes eram do Litoral Catarinense, conforme os investigadores.

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O dinheiro, nesse caso, foi recuperado.

Já em Vidal Ramos, outro pequeno município da região, o assalto foi contra duas agências bancárias no início de dezembro. Criminosos chegaram a incendiar um caminhão na SC-110 para frear o avanço de equipes da polícia. Eles também usaram reféns como escudo — porém todos foram libertados no começo da fuga e nenhum ficou ferido.

Último assalto a banco foi em Apiúna

Menos de duas semanas depois do assalto em Vidal Ramos, foi a vez de moradores de uma cidade no Médio Vale testemunharem um roubo contra banco. No dia 17 de dezembro de 2019, criminosos invadiram uma agência do Bradesco, em Apiúna, fizeram reféns, atiraram contra a polícia e fugiram.

Neste caso, porém, o desfecho ocorreu mais rapidamente.

Um dos envolvidos no assalto era natural da cidade e foi o delator dos detalhes do crime. Em maio deste ano, seis meses após a ação, o último envolvido foi localizado em Lontras e preso.

Ele foi, segundo o delegado Ronnie Esteves, responsável por dar fuga a todos os envolvidos. Antes, outros assaltantes — incluindo o mentor, que estava debilitado, desidratado e ferido depois de ficar quase duas semanas em meio à mata — já tinham sido detidos.

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Por que tantos crimes semelhantes em SC?

Após o assalto ao Bradesco de Apiúna, a reportagem do Santa questionou a Polícia Militar sobre os porquês de tantos crimes semelhantes serem registrados no Vale do Itajaí. O então comandante-geral da PM, Araújo Gomes, relatou que há “três eixos” que justificam a onda de ações criminosas:

Primeiro, conforme o militar, é o tamanho das cidades e a quantidade de ligações entre localidades — as chamadas estradas vicinais. Araújo Gomes explica que essas vias contribuem para a fuga dos criminosos e dificultam o trabalho da polícia.

O segundo ponto, para o comandante, é o apoio local. Na avaliação da Polícia Militar do Estado, o grupo que vinha cometendo esse tipo de crime na região tinha o suporte de pessoas das próprias localidades para organizá-los.

O terceiro motivo é a proximidade do Vale do Itajaí com o Paraná, o que segundo Araújo Gomes acaba sendo um facilitador da fuga dos criminosos.

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— Trabalhamos com esses três eixos, mas não temos dúvidas que esses crimes estão com os dias contados — afirmou, à época, o então comandante da PMSC.

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