O asfalto ainda não chegou a nenhuma rua de Vanini, no norte do Estado. Mas a violência, sim. Mais precisamente às 10h25min desta sexta-feira. Três homens armados com espingardas calibre 12 e um revólver calibre 22 destruíram a tiros a porta de vidro da agência do Sicredi no centro da cidade. Roubaram dinheiro e sequestraram duas reféns. Elas foram libertadas menos de dez minutos depois. Os ladrões fugiram livres. A comunidade ficou presa no medo.
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Janaína Antunes, 25 anos, arrumava as prateleiras do minimercado ao lado do banco quando ouviu dois tiros. Espiou pelo vidro e avistou um Gol vermelho de portas abertas no meio da Rua General Osório. Mas a curiosidade foi vencida instantes depois por mais três disparos. Correu em direção aos fundos à espera do silêncio. Vieram gritos e o carro arrancou em alta velocidade. Sentiu medo, muito medo. Só saberia depois que a ousadia era tamanha.
Testemunhas contam que havia cerca de dez pessoas na agência. Umas no caixa, outras em atendimento. De repente, dois tiros de espingarda calibre 12 abriram caminho na porta de vidro. Entraram três homens. Dois estavam encapuzados e armados. Usavam luvas. O outro estava com as mãos ao alto e cara limpa. Era um refém, descobriu-se depois. Foram seis disparos dentro do banco e a ordem: não reagir e entregar todo o dinheiro.
Alguns deitaram no chão, outros se esconderam embaixo da mesa. Em vão. Enquanto um dos ladrões controlava a situação, outro encheu pelo menos duas sacolas de dinheiro. Foram no máximo três minutos de angústia até a saída. Na fuga, duas mulheres foram levadas como reféns. Uma era funcionária do banco. A outra, funcionária pública municipal. Forçadas a sentar no banco traseiro do carro, não reagiram. O Gol arrancou. Ninguém se feriu.
Cerca de cinco minutos depois, as duas mulheres foram soltas na localidade de Nossa Senhora da Saúde. Voltaram correndo para pedir ajuda. Os assaltantes abandonariam o veículo a poucos quilômetros de distância. Teriam entrado na mata e desaparecido. O carro só foi encontrado à tarde, sem vestígios. Na agência, restaram várias cápsulas de calibre 22 e calibre 12. E um boné preto imerso em vidros estilhaçados na porta do banco.
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Em estado de choque, o refém que foi forçado a entrar na agência com os ladrões contou seu drama. Segundo testemunhas, ele contou ter sido assaltado no fim da tarde de quinta-feira quando saía do trabalho em Nova Araçá, cidade próxima a Vanini. Teria sido mantido refém durante a noite toda. O carro dele foi usado pelos assaltantes no crime. Só no meio da tarde familiares conseguiram levá-lo de volta para casa.
Essa não foi a primeira vez que um banco foi assaltado em Vanini. O crime trouxe memórias de quase dez anos atrás, quando uma agência do Banco do Brasil foi o alvo. Mas daquela vez, contam os moradores, não houve um tiro sequer. A ousadia dos ladrões virou tema de debate na cidade. Em cada esquina, pequenos grupos se formavam para comentar o assunto. A maioria não viu, mas todos garantiam saber tudo da história.
O papo rolava solto e quase nenhuma pergunta tinha o silêncio como resposta. A única era o nome. Com medo, ninguém queria se identificar. Durante o dia todo, várias pessoas saíram de casa para ver os estragos no banco. Quem passava pelo local de carro, chegava a parar no meio da rua para observar. Teve gente que saiu do interior do município para conferir o local do crime na cidade. E se espantou com a cena.
A agência do Sicredi fica quase em frente à prefeitura de Vanini, do outro lado da rua. Quando ouviram os disparos, os funcionários correram para uma das janelas. Uma servidora tentou gravar um vídeo do crime, mas a ação dos bandidos foi tão rápida que ela conseguiu registrar poucos segundos de imagem tremida.
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O Sicredi, por meio da assessoria de imprensa, preferiu esperar o avanço da investigação para se pronunciar. A quantia roubada não foi informada. Por volta das 15h, a perícia chegou ao local em busca de vestígios para identificar os assaltantes. A Polícia Civil investiga o caso, mas ainda não tem suspeitos.
– Seguimos realizando buscas na região e aguardamos o levantamento da perícia para tentar identificar os autores – ressalta Adroaldo Schenkel, delegado da Delegacia de Furtos, Roubos e Entorpecentes (Defrec) de Passo Fundo.
A investigação confirmou que, além dos três assaltantes, havia pelo menos mais um homem envolvido no crime. Ele estaria em um Del Rey de cor escura, que poderia ter sido usado, inclusive, para a fuga dos ladrões após abandonarem o Gol no interior de Vanini. Segundo a polícia, os vestígios apontam que os assaltantes são experientes. Como são raros os roubos a banco na região de Passo Fundo, a suspeita é que eles formaram um grupo para atacar a agência ou vieram de outras regiões.