Nenhuma outra via teve um papel tão determinante para definir a vocação industrial de Joinville quanto a Rua Dona Francisca. Sua abertura, no século 19, permitiu o acesso da Serra ao porto do Rio Bucarein, na região central da cidade. Foi o início do comércio de erva-mate e da madeira, e da necessidade de cuidar das carroças utilizadas no transporte das mercadorias.
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Surgiram, naquela época, várias pequenas oficinas em Joinville para fazer a manutenção das peças, explica o professor de arquitetura da Univille e gerente do Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentável de Joinville (Ippuj), Murilo Teixeira Carvalho.
Desde então, Joinville tornou-se um dos principais polos econômicos da região Sul do País. O Distrito Industrial, cortado pela rua Dona Francisca, responde por 50% do produto interno bruto (PIB) do município e por cerca de 5% da soma de riquezas produzidas em Santa Catarina.
Durante o crescimento da cidade, o surgimento de outras vias importantes, como a BR-101 e as avenidas Santos Dumont e Beira-Rio, ajudaram a desafogar o trânsito sobre ela. Mas a intensificação do fluxo de veículos – a frota da cidade aumentou 136% de 2002 a 2014 – voltou a sobrecarregar a via, que sente o peso da idade.
Um trecho de pouco mais de cinco quilômetros no Distrito Industrial concentra os maiores problemas. Na pista estreita, de mão-dupla e com acostamento precário em vários pontos, carros, bicicletas, ônibus e caminhões dividem o mesmo espaço, gerando constantes acidentes – e que só não são mais graves por causa de outro problema, a lentidão do tráfego nos horários de pico nos pontos de acesso a empresas, universidades e outros bairros.
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A subsecretaria de Pirabeiraba realiza a operação tapa-buraco quase todos os meses.
– A estrutura da via não comporta o tráfego e o peso dos veículos. A duplicação é urgente – diz o subsecretário Nelson Banzen.
A tendência é de que os problemas se intensifiquem com a vinda de novos investimentos. O Perini Business Park, inaugurado em 2001 às margens da rua Dona Francisca, é um exemplo. Consolidou-se como uma potência econômica.
Um dos principais condomínios industriais do País, abriga mais de 150 empresas, 7,5 mil profissionais e ocupa 290 mil m² de área locável. E ele percorreu apenas a metade do caminho. Os planos para 2025 são de alcançar 550 mil m² de área bruta locável, 230 empresas e 16 mil trabalhadores. Ou seja, serão mais carros, ônibus e caminhões trafegando pela via.
O empreendimento fez a parte dele: duplicou o trecho que dá acesso direto às instalações, proporcinando um contraste na paisagem. Por alguns momentos, o motorista até se esquece que está na velha Dona Francisca.
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Mobilização empresarial
Existem três projetos no Ippuj para resolver os problemas do trânsito na rua Dona Francisca. Eles contemplam binário e elevado, mas a obra de maior envergadura é a duplicação de seis quilômetros da via, do trecho que vai da rótula do Tecelão, próximo à indústria Döhler, até a Estrada da Ilha. O investimento se equipara ao da duplicação Santos Dumont, explica o presidente do Ippuj, Vladimir Constante. O maior entrave é o custo, em especial o das desapropriações.
O assunto se arrasta há décadas. O projeto já ficou defasado e não sai do papel. Constante diz que, neste ano, a Prefeitura vai licitar o projeto executivo, passo importante para se habilitar a verbas federais, por exemplo.
Sem condições de bancar a execução sozinha, a prefeitura pede ajuda ao governo do Estado e tem o apoio da classe empresarial, que é diretamente afetada e reivindica melhorias desde os anos de 1990. Em março do ano passado, a Associação Empresarial de Joinville (Acij) entregou ao governador Raimundo Colombo um documento com as principais medidas, mas ainda não conseguiu obter o compromisso formal de apoio.
Recém-empossado, o secretário de Estado de Infraestrutura, João Carlos Ecker, diz que é preciso montar a equipe de governo e analisar todas as obras catarinenses antes de se posicionar sobre a Dona Francisca. Para Joinville, por enquanto, o que se sabe é a prioridade de concluir a duplicação da Santos Dumont.
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Para ajudar a pressionar as autoridades, em novembro do ano passado o vereador Sidney Sabel (PP) iniciou o movimento “Salve a Dona Francisca, Duplicação Já”, com apoio da Acij e do Perini Business Park. Até o final desta semana, havia conseguido apenas 769 adesões. A meta é intensificar as ações para alcançar a marca de 10 mil assinaturas.
DISTRITO INDUSTRIAL EM NÚMEROS
A região abriga 50% do PIB de Joinville e 5% do PIB de SC.
São 25 mil trabalhadores, o equivalente 15% da força de trabalho local.
Somente o Perini Business Park registra acesso de 84.255 veículos e 5.946 caminhões por mês.