Desde que chegou a Santa Catarina, no final da década de 1980, o Movimento Hip Hop tem produzido talentos ímpares, que quando bem produzidos e agregados com aquela pitada de sorte, se prospectam para o alto consumo do segmento no país. Lembro-me que os predinhos do bairro Monte Cristo foram o berço da cultura de rua em Santa Catarina. Era ali, na badalada Avenida Joaquim Nabucco que os primeiros grafiteiros, B-Boys e B-Girls, MC’s e DJ’s se reuniam para os ensaios coletivos.
Continua depois da publicidade
Atravessamos a década, entramos nos anos 1990 e a pouca estrutura ainda fazia parte do dia a dia dos jovens da periferia, que encontraram nas rimas uma maneira de serem ouvidos. O novo point da galera passou a ser o Terminal Cidade de Florianópolis, que na época era a grande novidade da cidade e de quem fazia uso do transporte coletivo da Capital.
Entre os primeiros grupos de Rap estavam “Sistema Urbano”, “DNA”, “Paredão”, “Realidade Suburbana” e “Squadrão da Rima”, todos formados por MC’s homens. Até que, Jussara Lima, moradora do Maciço do Morro da Cruz, militante do Movimento Negro, decidiu mostrar que na cena também tinha minas com muita ideia para trocar e um bocado de talento que viria à tona com o primeiro grupo feminino da parada.
Foi através do “Declínios do Sistema” que ouvimos os primeiros discursos rimados sobre feminismo, inclusão da mulher e busca por direitos iguais. A estranheza tomou conta dos manos, é verdade. Mas, a cada ensaio ou apresentação, as minas do rap mostravam que todos fazem parte de um todo, mesmo que as adversidades históricas insistam em nos frear.
Passadas mais de duas décadas, com a internet sendo o principal veículo de comunicação, interação e divulgação da cultura que mais salva jovens no mundo, vemos milhares delas, produzindo, cantando e encantando multidões, aqui no Estado e fora dele. Conheça alguns dos nomes que fazem as vozes femininas ecoarem e manterem o rap forte no Estado, que além de shows tem eventos que mantém o hip hop em movimento, como a Batalha das Minas.
Continua depois da publicidade

Mana Moa MC (à esquerda na foto acima) é uma paulista de 26 anos, nascida em Carapicuíba e radicada em Floripa que se mantém firme nas rimas há nove anos. É através do seu som e das participações em batalhas que enfrenta as situações adversas de ser uma mina num cenário ainda masculino na maioria. A última pedrada sonora disparada por Moa foi “Levante Ubuntu”, videoclipe dirigido por Victor Quaresma, que traz reivindicações pra lá de atuais.
Karine Alves (à direita na foto acima), também chamada de Ka Alves ou K47, tem 29 anos, é nascida em Ponta Grossa (PR), mas vive em Florianópolis há quase duas décadas. O rap entrou na vida dela aos oito anos, quando ganhou de um primo mais velho uma fita-cassete, que tinha Wu Tang Clan de um lado e no outro Sabotage.
A adolescência foi um marco para Ka, que começou a arriscar os primeiros trechos rimados, com um grupo de amigos. Em 2008, participou da primeira batalha de rap, na Batalha da Alfandega. Neste ano, lançou o videoclipe de “Sonhos sobrevivem ao caos”, primeira faixa de um álbum previsto para 2020!
Thayná Rafaela (foto abaixo) iniciou os trabalhos no rap em 2014, quando tinha 16 anos. Foi quando, segundo ela, uma metamorfose tomou conta da vida dela. Apesar de já cantar samba, MPB e pagode, foi com o “Erreapê” que descobriu o dom de compositora, a representatividade e as oportunidades.
Continua depois da publicidade

Aos 17 anos, a moradora do Maciço do Morro da Cruz, na Capital, escreveu a primeira letra, denominada “Fada Encantada”, que nunca foi gravada. O início pelos palcos de Florianópolis como rapper foi no grupo “Kill & Os Ilhéus”. Lançaram o álbum intitulado “Raízes e Cicatrizes”, em 2015. Após um tempo, o grupo se desfez e Thayná montou outro grupo, os “Ilhéus MC’s”. Em 2020, Thayná vai lançar o primeiro trabalho solo.
Janaina (foto abaixo) é natural de Blumenau, faz rap desde 2001, quando fundou o grupo “Palavra Feminina” com duas amigas. Antes, já curtiam o movimento hip hop na cidade, desde o final dos anos 1990. Ainda assim, a blumenauense não se sentia representada 100%, pois quase não via mulheres nos eventos da cidade.

A música “Traficando Informação”, do rapper MVBill, a fez entender que as narrativas que o carioca fazia na música eram situações que ela, mesmo não morando na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, também já havia visto ou vivido. Foi aquele rap de denúncia, informação, autoestima para periferia que tocou o coração dela, fazendo compreender que através das palavras poderia tocar outros corações. Ela se prepara para lançar o terceiro álbum.
Negra Jaque (à direita na foto abaixo) é natural de Porto Alegre e moradora da capital dos gaúchos. Está inserida no cenário hip hop desde 2006.
Continua depois da publicidade
Depois de três discos gravados, tendo o último “Diário Obá”, sido lançado recentemente com conteúdos que celebram a força e o poder das mulheres.
Ju Sofer (à esquerda na foto abaixo) se envolveu com rap depois de ter uma depressão como diagnóstico clínico. A cura rimada veio há pouco mais de cinco anos, mas a queridona já teve som gravado com o produtor musical Marrom (ex-RZO) e caminha para o lançamento do segundo trabalho solo. O primeiro, intitulado “Comer, Fumar, Amar” foi produzido em parceria com o produtor Gustavo Goss.
Versa (no centro da foto mais acima) é MC, compositora, oficineira e freestylera. Reside em Florianópolis, foi integrante do coletivo “Trama Feminina” e dissemina produções e participa ativamente das batalhas de rima em todo o Brasil. Trabalha com rap desde 2016 e já se apresentou em diversas cidades por todo país.

Começou rimando na Batalha das Minas, onde conheceu mulheres que a inspiraram e incentivaram a soltar a voz, por isso valoriza muito essa conexão com quem se identifica com a música dela e busca ser uma incentivadora de mulheres.
Continua depois da publicidade