*Por Jane L. Levere

As viagens de negócios pelo mundo basicamente pararam com a pandemia de coronavírus. Quando voltarão, e qual será sua forma, ninguém sabe.

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"Todos terão de aprender a se sentir confortáveis perto das pessoas, especialmente em grandes aeroportos, em aviões lotados e em grandes hotéis e resorts de convenções", afirmou Henry Harteveldt, fundador do Atmosphere Research Group, empresa de análise de viagens em San Francisco.

Em uma pesquisa da Associação Global de Viagens de Negócios, um grupo comercial de agentes de viagens corporativas, quase todos os membros disseram que seus empregadores haviam cancelado ou suspendido todas ou a maioria das viagens de negócios internacionais previamente reservadas ou planejadas, enquanto 92 por cento disseram que todas ou a maioria das viagens de negócios domésticas tinham sido canceladas ou suspensas.

"A crise atual é algo que nunca foi visto antes", declarou John Snyder, executivo-chefe da BCD Travel, uma das maiores empresas de viagens.

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Os últimos resultados da STR, empresa de pesquisa de hospedagem, foram igualmente impressionantes: na semana que terminou em 11 de abril, a ocupação hoteleira nos Estados Unidos havia caído 70 por cento em relação à mesma semana de 2019, para 21 por cento; e a receita dos hotéis por quarto oferecido, o principal barômetro da rentabilidade, caiu 84 por cento, para US$ 15,61.

Esses declínios, disse Jan Freitag, vice-presidente sênior da STR, são os "mais acentuados" já medidos pela empresa, cujos dados remontam a 1987.

Cerca de um terço dos agentes de viagens corporativas da associação afirmou esperar que as viagens de negócios sejam retomadas nos próximos dois meses, enquanto cerca de um quinto acredita que sejam três meses. Outros 16 por cento nem arriscaram um palpite.

Uma pesquisa realizada este mês com 106 agentes de viagens corporativas que trabalham para clientes do BCD mostrou um pessimismo semelhante em relação a um retorno rápido, com pouco mais de 40 por cento dizendo esperar que as viagens de negócios voltassem aos níveis anteriores este ano. Outros dez por cento previram que elas não retornariam totalmente até pelo menos 2022, enquanto três por cento disseram que nunca voltariam.

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(Foto: Amanda Lucier / The New York Times )

"As viagens de negócios não voltarão antes de ouvirmos das autoridades de saúde pública que é seguro viajar. Quando conseguirmos que o vírus seja contido e, espero, um tratamento esteja disponível, acredito que as viagens de negócios começarão a ser retomadas, assumindo-se que a economia não entrou em uma recessão profunda ou, pior, em uma depressão", analisou Harteveldt.

E, independentemente do tempo, os especialistas preveem mudanças de curto e longo prazo nas viagens de negócios.

Companhias aéreas como American, Delta e Lufthansa já estão bloqueando assentos do meio em voos, disse Michael Derchin, analista de companhias aéreas, embora isso seja fácil de fazer quando os aviões estão voando com muitos assentos vazios.

Ele previu que, depois que as quarentenas forem suspensas, as companhias aéreas "farão muita pesquisa sobre qual será a natureza das viagens dali para a frente". Eles podem até reavaliar como vão dispor os assentos, para fornecer mais espaço aos passageiros, se o distanciamento social se tornar o "novo normal", afirmou ele.

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Paul Metselaar, executivo-chefe da Ovation Travel Group, uma agência de viagens corporativas em Nova York, disse que antecipou que as companhias aéreas ofereceriam "descontos como você nunca viu antes, já que estarão desesperadas para trazer as pessoas de volta aos aviões".

E espere esforços para promover a limpeza.

No fim de março, a Delta anunciou que estava estendendo a todas as aeronaves um processo de limpeza anteriormente usado em aviões internacionais: um programa noturno que envolve pulverização de desinfetante, eficaz contra doenças transmissíveis. Ela vai pulverizar aviões antes de cada voo até o início de maio, contou ele. Também vai desinfetar áreas muito manuseadas, como mesinhas, apoios de braço e bolsos traseiros, antes de cada voo.

Quanto aos hotéis, Freitag, da STR, escreveu em um artigo: "Marcas e hotéis precisarão convencer os viajantes que ainda não foram infectados de que seus hotéis são espaços seguros." Ele acrescentou que as operadoras de hotéis terão de "encontrar novas maneiras de comunicar aos hóspedes que as superfícies, maçanetas, telefones e assentos de privada estão limpos e livres do vírus".

Freitag disse no artigo que sua empresa estava prevendo que a receita por quarto oferecido este ano cairia 50 por cento em relação ao ano passado, "com uma forte recuperação" de 63 por cento em 2021. "Esses números mudam constantemente, mas o teor dos prognósticos é claro: esta é uma ruptura temporária. Severa, sim. Mortal, sim. Mas, ainda assim, temporária. Com isso em mente, não é muito difícil imaginar cenários de recuperação que apontarão para um crescimento prolongado e lento da indústria hoteleira dos EUA."

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(Foto: Demetrius Freeman / The New York Times )

A recuperação da indústria aérea pode ter uma trajetória diferente. Helane Becker, que monitora as companhias aéreas dos EUA para a empresa de serviços financeiros Cowen, afirmou acreditar que podem ser necessários de dois a cinco anos para o tráfego voltar a "algum nível que poderíamos chamar de normal". Ela espera que as viagens corporativas se recuperem antes das viagens de lazer, "já que os viajantes de lazer não têm dinheiro para viajar a qualquer preço". Mas, acrescentou, as viagens corporativas podem nunca "se recuperar totalmente".

Derchin disse que achava que a atual crise de caixa das companhias aéreas aceleraria a aposentadoria de aviões mais velhos e menos eficientes em matéria de combustível. A American já disse que estava acelerando esse processo, assim como a Lufthansa, a KLM e a Virgin Atlantic.

Evan Konwiser, vice-presidente executivo de produto e estratégia da American Express Global Business Travel, outra grande agência de viagens, previu que novos procedimentos poderiam ser abordados nas medidas de segurança aeroportuária existentes, incluindo a verificação da temperatura dos passageiros antes da partida ou à chegada.

Snyder declarou esperar que os clientes corporativos da BCD deem ainda mais ênfase à gestão de riscos e ao bem-estar de seus viajantes. Os especialistas em viagens também disseram que a pandemia afetaria viagens de reuniões e convenções, que, segundo eles, provavelmente voltariam após as viagens de negócios individuais.

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Uma das maiores incógnitas é o possível impacto em longo prazo do uso generalizado atual de ferramentas de videoconferência, como GoToMeeting, Webex e Zoom. Derchin, por exemplo, disse que, quanto mais tempo "tivermos a quarentena", mais pessoas que não tinham usado tais ferramentas anteriormente "vão se acostumar com isso".

Konwiser previu que as conferências com uma mistura de participantes virtuais e presenciais poderiam se tornar mais populares. "As pessoas ainda precisarão fazer networking, aprender, construir relacionamentos. Nada disso vai mudar. Provavelmente, haverá menos densidade e mais desinfetante para as mãos."

Mas Harteveldt não acredita que a videoconferência vá substituir as viagens de negócios. "As pessoas são animais sociais. Muitos empresários gostam de viajar. Suspeito que seus cônjuges também mal podem esperar para que voltem a viajar."

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