Poderia ser uma queda de braço, onde uma mão democrata encontrará uma mão republicana num embate de forças que deve definir o futuro da maior potência do mundo, mas os punhos usados serão os da retórica e da oratória.
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Afastados de um embate tão físico, o Barack Obama e o Mitt Romney se enfrentarão na próxima quarta-feira em Denver no primeiro debate das eleições presidenciais americanas televisionado para todo país, em momento no qual o atual presidente lidera as pesquisas com uma margem estreita.
A vantagem, entretanto, não é a certeza da vitória. A 38 dias das eleições, os cenários apontam para uma reeleição, mas os analistas ouvidos por Zero Hora são cautelosos ao proclamar uma definição do pleito. Embora haja uma desconfiança do real efeito de um debate nas pesquisas, houve momentos no passado em que eles fizeram a diferença (veja quadro ao lado).
Quem vai vencer o embate? A resposta é complexa: no cartel de batalhas de Obama, existe a vantagem evidente de um político que se fez pela força e precisão do discurso. Com Romney a história é diferente: a falta de controle sobre a própria língua pesou contra sua campanha em inúmeras gafes, que facilitaram a criação uma imagem negativa sobre ele.
– Acredito que os dois possam vencer. Quando a eleição começa a se aproximar, as pessoas pensam mais seriamente sobre seu voto – diz o professor de estatística e ciência política da Universidade de Columbia Andrew Gelman. – O debate pode fazer diferença, mas o motivo não é tanto porque um candidato pode dizer alguma coisa estúpida ou algo brilhante. Seu principal papel é explicar as posições dos candidatos aos eleitores.
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Economia deve ser assunto principal
Em desvantagem nas pesquisas, é a chance de Romney para desferir um ataque frontal e inverter a narrativa da campanha. Homem de negócios bem-sucedido, o ex-governador de Massachusetts vai ter a chance de expor os argumentos contra Obama que sua campanha não tem conseguido mostrar – justamente por perder tempo demais apagando os incêndios criados por ela própria.
Com um preparo intenso, metódico, os dois candidatos irão ao debate armados de foices retóricas e espadas verbais à espera de uma oportunidade, um vacilo, para esmagar o oponente – ou pelo menos quebrar a pose altiva de Obama ou desviar um fio de cabelo do penteado estático de Romney.
Para Jennifer Marsico, pesquisadora do centro de estudos American Enterprise Institute, o tema central de quarta-feira será a economia:
– Romney vai argumentar que o crescimento do déficit e a persistência do alto desemprego são evidências de que o país não está no caminho certo, enquanto o adversário dirá que os problemas econômicos são resultado das decisões feitas pela administração anterior (de George W. Bush).
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De fato, a economia não vai bem, mas a tendência é estável. Foi muito mais comprometedor para John McCain quatro anos atrás, porque os EUA estavam em colapso.
E para esse debate Obama ainda pode ter uma carta na manga, diz a especialista em eleições americanas:
– Ele vai sustentar que a decisão de socorrer financeiramente a indústria automotiva salvou a GM e acusar Romney de, na época, se opor à medida.
Um tema que poderia anabolizar o discurso republicano e colocar o presidente contra parede – a atual onda antiamericana que emerge do mundo árabe – deve entrar em foco apenas no último debate, no dia 22.
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No duelo pela conquista da Casa Branca, no dia 6 de novembro, tanto Romney quanto Obama vão entrar no palco nacional sem as armaduras dos marqueteiros e apenas com uma arma potente o suficiente para definir uma eleição: a palavra.
DEBATES HISTÓRICOS
O primeiro
– Em 1960, ocorreu o primeiro debate amplamente televisionado nos EUA, aquele que é considerado o mais importante da história do país. Quem assistiu pela TV, disse que John F. Kennedy derrotou Richard Nixon, ao passo que quem ouviu pelo rádio achou que Nixon havia vencido. Kennedy acabou eleito.
A gafe
– Na eleição de 1976, no debate entre Jimmy Carter e Gerald Ford, o republicano disse que não havia “dominação soviética no leste europeu”, o que era grande erro. O apoio ao candidato não caiu; de fato, até melhorou. Na última pesquisa da Gallup, ele tinha 49 contra 48%, embora Carter tenha vencido por 50 a 48%.
A definição de um homem
– Analistas acreditam que os debates entre Carter e Ronald Reagan, em 1980, ajudaram o último a se mostrar um candidato sério ao público. Até então, ele era visto ou como um ator de segunda categoria de Hollywood ou como um cowboy nuclear. Se reelegeu em 1984 e virou grande herói republicano.
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A arrogância imperdoável
– Em 2000, ano em que Al Gore e George W. Bush se enfrentaram, Gore revirava os olhos e suspirava enquanto o oponente falava, o que passou uma imagem de desprezo com Bush. Na época, as pesquisas mostravam Gore com oito pontos de vantagem. Depois do debate, a vantagem se reduziu para quatro.