É difícil de ver, mas quem passa pela rua Caçador, no bairro Atiradores, e prestar atenção num detalhe do muro da casa 67, vai encontrar a inscrição: “Vende-se tela com arte”. O artista que mora ali é um senhor de 79 anos, com corpo franzino, voz fina e baixa, mas um carisma que contagia o visitante.
Continua depois da publicidade
Ao abrir a porta da moradia, tem o orgulho de mostrar o que mais gosta de fazer: arte na tela. No sótão do imóvel está seu pequeno ateliê. Quando está inspirado, o aposentado José Sgrott busca imagens das cidades onde viveu para reproduzir em pinturas. Tem quadros que levam 15 horas para ficar prontos. Esse hábito de estar envolvido com alguma produção manual vem desde criança.
A argila que ficava próximo de um córrego, perto da casa onde morava, em Nova Trento, já era motivo para virar alguma imagem nas mãos de Sgrott, quando tinha oito anos. A mãe adorava ver naquela menino o talento para a arte. E ela era sempre presenteada com bichinhos e casinhas. Sgrott cresceu, abandonou a roça da família e foi viver em Brusque trabalhando numa marcenaria. Porém, não abandonou o gosto da arte e era na pintura que extravasava toda a sua inspiração.
Era nas imagens das paisagens da cidade e da sua terra natal que procurava revelar o talento para os outros. Sgrott sempre anda com uma máquina fotográfica nas mãos. Quando acha uma imagem bonita ou flor que chame atenção, fotografa e depois reproduz o cenário para a tela. A técnica da pintura ele aprendeu sozinho, mas sempre quis ser lapidado por gente especializada. A situação financeira não permitiu que fosse olhado por um professor.
– Tinha cinco filhos para criar. Não tinha como pagar para alguém me ensinar. Aprendi tudo sozinho – revela.
Continua depois da publicidade
Para ter mais um ganha-pão, passava nas casas para vender os quadros. Em Brusque, teve o seu melhor mercado porque as pessoas gostavam de comprar algo relacionado com a cidade. Mas a arte nunca deu muito dinheiro. Por isso, na década de 70 se mudou para Joinville com a família para conseguir um emprego melhor. Da cidade, pintou algumas casa em enxaimel e flores. Alguns dos seus trabalhos podem ser vistos na exposição permanente no Hotel Sleep-In.
Os seus quadros são bastante coloridos e mostram também passagens bíblicas, como Cristo pregando para os pescadores e também vários santuários, principalmente de Madre Paulina, em Nova Trento. A sua técnica lembra o estilo arte naïf, que tem uma característica primitiva de apresentar as obras.
– Eu adoro pintar. Pena que nem todo mundo dá valor. Me faz um bem quando alguém valoriza esse trabalho – disse, olhando para seu conjunto de obras na sala de estar.