As ruas 7 de Setembro, Bahia, São Paulo, 2 de Setembro e Amazonas, em Blumenau, têm algo em comum: há uma década elas se revezam nos cinco primeiros lugares do indesejado ranking das vias onde mais ocorrem acidentes de trânsito na cidade. São desde as mais simples colisões traseiras, com pequenos danos materiais e prejuízos financeiros, até os graves choques que resultam em mortes e somam, um a um, 5.138 ocorrências no município só em 2017.

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Com 243 batidas registradas só neste ano, a 7 de Setembro lidera a lista pelo nono ano consecutivo. Mas o que a leva ao topo dessa relação? Por que uma via com três quilômetros de extensão, com asfalto considerado bom, que em alguns pontos chega a ter quatro pistas e sentido único do trânsito fica na liderança quando se fala em acidentes? Para especialistas, é uma soma de fatores.

Intenso fluxo de veículos nessas vias – consideradas arteriais –, aliado à pressa, velocidade acima do permitido e desatenção são alguns dos principais pontos. Para Márcia Pontes, coordenadora estadual do Maio Amarelo e especialista em trânsito, o fato de as pessoas trocarem aleatoriamente de pista, sem dar sinal, e em meio a faixas contínuas, é um dos principais fatores que resulta nos números de 2017 na Rua 7 de Setembro.

— Há uma série de pontos negativos na Rua 7, como desrespeito às faixas que indicam que o motorista não pode trocar de pista. Além disso, as pessoas não sabem manter distância de segurança e muito menos fazer uma frenagem de emergência. Se quem está conduzindo um veículo dirigisse como se tudo fosse dar errado, quase todos esses acidentes seriam evitados, mas não é o que acontece — ressalta Márcia Pontes.

Um levantamento dos dados sobre acidentes e o estudo de medidas em locais específicos é outro ponto essencial para reduzir esse número a curto prazo, conforme o especialista em trânsito Fábio Campos. No caso da 7 de Setembro, ele considera que é necessário avaliar a possibilidade de alargar a pista, dando mais margem para os motoristas caso sejam necessárias manobras de emergência.

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— Hoje temos quatro pistas lá, mas será que elas são seguras? O espaço precisa ser revisto, com estudos técnicos na área de engenharia para que o fluxo seja seguro — avalia Campos.

Amazonas foi a que mais registrou acidentes com vítimas

As cinco ruas citadas no início do texto somam juntas, até ontem pela manhã, 1.116 acidentes – 22,1% de todas as ocorrências em Blumenau em 2017. A Rua Bahia, com seus buracos e remendos, fica na segunda posição, com 238 ocorrências registradas. As ruas São Paulo (229), Amazonas (222) e 2 de Setembro (205) completam o top 5. Entre o ranking dos bairros, Centro (700) e Velha (683) acumulam os maiores índices de acidentes.

Márcia Pontes explica que o essencial é mudar a cultura do motorista, mas como isso requer tempo, dinheiro e paciência, outras ações têm que ser tomadas para diminuir esses indicadores.

O caso da Rua Amazonas, no Garcia, é o que motiva a discussão. A via registrou cinco mortes neste ano – todas no trecho entre os números 1.400 e 1.450 – e também é a que mais teve acidentes com vítimas: 57 no total. Na opinião da especialista, a engenharia de baixo custo é uma das ações que podem ser tomadas para, em um curto espaço de tempo, amenizar o problema e evitar ações imprudentes no entra e sai de veículos das transversais da principal via do Distrito do Garcia.

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— Cabe ao município referenciar os locais e definir medidas. As ruas não terão a característica alterada, seguirão da mesma forma, então onde for possível colocar faixas de pedestre, rotatória, melhorar sinalização vai amenizar o problema. O canteiro central evita ultrapassagens e traz vários benefícios ao trânsito. É algo que caberia muito bem na Rua Amazonas, por exemplo — sugere.

Plano de Segurança Viária em elaboração

O Consórcio Mobilidade Segura – composto por três empresas que venceram o processo licitatório em agosto deste ano – trabalha desde setembro na elaboração do Plano de Segurança Viária de Blumenau. Seterb, secretarias de Infraestrutura, Manutenção Urbana, Desenvolvimento, Defesa do Cidadão e Gestão e Transparência também auxiliam na montagem desse diagnóstico de equipamentos para monitoramento e levantamento das atuais condições do trânsito na cidade.

Após essa fase, a equipe responsável fará um projeto para a implantação de uma Central de Controle de Operações (CCO) e formará o chamado Sistema de Gestão de Trânsito. Tudo com o objetivo de identificar pontos em que há mais potencial para acidentes e definir estratégias, principalmente nas ruas que mais protagonizam ocorrências. O prazo para o levantamento das condições é fevereiro de 2018 e setembro do ano que vem para a implantação da CCO. O investimento total do plano é de R$ 6,6 milhões. O recurso é originário do Banco Interamericano de Desenvolvimento.