As provas que foram mantidas em segredo durante o processo do caso Vanisse Venturi vieram à tona com a condenação do marido dela nesta sexta-feira (31). A moradora de Agronômica, no Alto Vale do Itajaí, foi assassinada pelo companheiro em 2020. Isonir Venturi foi condenado a quase 26 anos de prisão por matar e esconder o corpo da vítima.

Continua depois da publicidade

​Receba notícias de Blumenau e região pelo WhatsApp

Como o cadáver nunca foi encontrado, o Ministério Público (MP) se cercou de outras provas para comprovar a autoria do crime. Entre os fatos revelados estão mentiras, perseguição e um flagra do filho mais novo que foi essencial para a acusação montar a cronologia dos acontecimentos.

Conforme o MP, um dia antes do assassinato, em 21 de julho de 2020, Vanisse brigou com o marido porque descobriu que ele a perseguia. Isonir chegou a colocar um rastreador no carro dela e clonar o WhatsApp da mulher para monitorar o que e com quem ela conversava, ainda de acordo com o registrado nos autos.

Os dois estavam em crise há anos, mas moravam na mesma casa porque o homem não aceitava a separação, já que não queria dividir os bens. Quando soube que o marido a vigiava, Vanisse decidiu enfrentá-lo e oficializar o divórcio. Conversou com a advogada, que no dia seguinte enviou uma mensagem a Isonir.

Continua depois da publicidade

A ação o deixou “irado”, como descreveu o MP. No final da tarde daquele mesmo dia, o homem seguiu Vanisse até o galpão ao lado da casa deles e, de lá, saiu sozinho. Um vizinho o viu voltando para a residência. Depois de ter cometido o homicídio, Isonir fez o jantar, algo que nunca ocorria, e disse para os dois filhos, de 12 e 18 anos, que a mãe estava no quarto com dor de cabeça.

O homem trancou a porta do cômodo pelo lado de fora, o que causou estranhamento nos filhos. O mais novo, inclusive, ficou no sofá da sala à espera da mãe, com as luzes apagadas. Isonir não notou a presença do menino quando deixou o imóvel mais tarde, por volta das 22h, com uma lanterna nas mãos. Antes disso, havia feito uma ligação para o irmão, Isael Venturi.

Além desse relato do garoto, o uso da internet ajudou os investigadores a comprovarem que o agricultor não estava dormindo, como alegou em depoimento. Isonir usou os dados móveis depois das 23h, já que estava fora da área de cobertura do wi-fi da casa. No dia seguinte pela manhã, o celular de Vanisse foi conectado a uma rede de internet, mas não desbloqueado (o marido não sabia a senha, contou o filho do casal).

Isonir dirigiu o carro da esposa e, no caminho, jogou o celular fora. Ele tentou argumentar que a mulher havia dormido em casa naquela noite, mas as evidências mostraram que ela desapareceu ao ir para o galpão no fim da tarde.

Continua depois da publicidade

O irmão do réu teria ajudado a esconder o corpo. Juntos, os irmãos possuem mais de 100 hectares de arrozeiras, conhecendo bem as áreas de matas, mencionou o MP. Isael disse em depoimento que sequer saiu de casa, mas, de novo, o uso de dados móveis durante o percurso ajudou o MP a desmenti-lo. O cunhado de Vanisse foi condenado a um ano e meio de prisão por conta da ocultação, mas pode recorrer em liberdade.

Além da sentença por homicídio qualificado por motivo torpe e feminicídio, Isonir terá de pagar R$ 1 milhão a título de indenização ao filho menor de idade, atualmente aos cuidados da família materna. Cabe recurso da decisão em primeira instância.

Leia mais

As duas incógnitas que ainda cercam a morte de farmacêutica em Itajaí