A apuração dos 42 homicídios registrados em Florianópolis desde janeiro aponta que praticamente três em cada quatro crimes têm como motivação o tráfico de drogas ou desavenças entre os envolvidos. A mancha criminal ainda expõe a concentração das ocorrências em duas regiões: só o bairro Monte Cristo, que reúne as comunidades Chico Mendes e Novo Horizonte, no Continente, foi cenário de pelo menos uma em cada quatro mortes.
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Levantamento da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil, divulgado no “RBS Notícias” desta segunda-feira, indica que menos da metade dos crimes já têm autoria definida e apenas três prisões, além da apreensão de um adolescente, foram concretizadas desde o início do ano.
A dificuldade de se reunir provas para comprovar a autoria dos crimes é apontada como um desafio pelo juiz da Vara do Júri de Florianópolis, Marcelo Volpato de Souza, responsável pelos processos que julgam os crimes contra a vida.
Confira a entrevista:
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O judiciário já percebe os reflexos do aumento dos homicídios em Florianópolis?
Aumentou o número de solicitações de interceptação telefônica, de prisões temporárias. São requerimentos cautelares que são prévios ao processo para tentar apurar a autoria dos fatos. Há uma percepção de que houve acréscimo em relação ao mesmo período do ano passado.
Como todos esses casos devem repercutir futuramente?
Aumentando o número de homicídios, é inevitável que isso vá repercutir no trabalho da Justiça. Mas vai depender da taxa de resolubilidade. As informação junto à Polícia Civil é de que é cada vez mais difícil de se conseguir apurar os fatos, ter informações que realmente sirvam de elemento de prova para se chegar à autoria. Até por conta dessa onda de violência, as pessoas que presenciaram um fato têm medo de falar. Dificulta bastante o trabalho da polícia e acaba prejudicando o processo judicial.
A percepção é de que ocorrem conflitos entre grupos rivais?
Isto é visível. Os processos, em sua grande maioria, têm algo relacionado às drogas. Não necessariamente são todos ligados a facções criminosas. Às vezes, podem ser desentendimentos entre traficantes locais. Mas, na maior parte das vezes, há algum componente relacionado às drogas.
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Qual tem sido o grande desafio para a Justiça dar andamento às ações?
Uma dificuldade é que, mesmo tendo a possibilidade do depoimento protegido, mesmo assim (as testemunhas) não querem falar. Existem casos em que aparecem testemunhas, mas até esses têm sido difícil a autoridade policial conseguir declarações.
Florianópolis tem uma Delegacia de Homicídios e uma vara exclusiva do júri. A estrutura está à altura?
Da parte do judiciário, a estrutura é suficiente para atender a demanda. O Ministério Público tem duas promotorias dedicadas à Vara do Júri, na minha percepção tem estrutura para absorver esse trabalho. Em relação à delegacia, não poderia dizer. Mas as delegacias historicamente têm dificuldade de contar com efetivo suficiente para dar conta de toda a investigação. Seria importante que tivesse mais pessoas especializadas, uma estrutura maior.
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O senhor é otimista quanto à mudança dessa realidade?
O que me preocupa é que essa ascendência dos homicídios iniciou no ano passado. E a gente analisa as consequências. Como lidar para que o fato não aconteça? Vem a necessidade de ter políticas públicas direcionadas principalmente para as comunidades carentes onde os fatos ocorrem. Poderia ter um trabalho maior de educação, assistência social. Só aumentar o policiamento não vejo que vá conseguir resolver o problema.
Homicídios na Capital
https://infogr.am/homicidios_em_florianopolis