De sua casa, na Musician Village, bairro reconstruído de New Orleans, o músico porto-alegrense Riccardo Crespo contou como se prepara para enfrentar o furacão Isaac. Em 2005, quando o Katrina arrasou a cidade, ele estava me turnê pela Europa. Perdeu instrumentos, carro e a casa, alugada, foi submersa. Nos anos seguintes, ele ajudou a construir o lugarejo de Musician Village, iniciativa que o levou à capa do The New York Times. Por volta das 16h desta terça-feira, ele contou, por telefone, como estava a situação na cidade. Leia os principais trechos:
Continua depois da publicidade
ZH – Como está a situação?
Riccardo Crespo – Eu resolvi ficar em New Orleans, estou em casa. Comprei água e comida. Muitos vizinhos ficaram também, vai ser meu primeiro furacão na minha casa própria, na Musician village.
ZH – Você acredita que ele deve chegar que horas a New Orleans?
Crespo – Acho que 1h da manhã de quarta-feira ele irá tocar terra, na costa da Louisiana. Como não tem realimentação no Golfo, então ele já perde força. Agora há pouco, ele atingiu categoria 1, como furacão, 30 minutos atrás.
Continua depois da publicidade
ZH – É bem mais fraco que Katrina…
Crespo – O problema é que ele é muito grande, não está organizado, bem redondinho, como o Katrina. É uma cabeleira desorganizada (o formato do furacão, visto de satélite). Ele está se movimentando muito devagar, então, haverá muita chuva, durante muito tempo no mesmo lugar. Vai passar bem em cima do Lago Pontchartrain de novo, então será um bom teste parta os diques reformados.
ZH – A cidade está mais preparada do que em 2005?
Crespo – As pessoas estão mais preparadas. As autoridades também instalaram mais bombas de sucção, porque não há para onde a água ir. Refizeram parte dos diques que rebentaram. Essas estruturas são capazes de resistir furacões de categoria 3. Ou seja, não aumentaram a altura dos diques. Já começou a ventar aqui.
ZH – Não está chovendo?
Crespo – Tem vento, chove, para por um tempo. Vem vento, para e chove. New Orleans está pegando aquela curva do furacão. Ele está rodeando a cidade. Não houve evacuação obrigatória, como no Katrina, a não ser em regiões de maior risco.
ZH – Os seus vizinhos também ficaram?
Crespo – Na minha rua, está meio a meio. Eu estava indo, saindo, mas minha vizinha disse: “Para onde tu vais. Tu vais dormir na estrada” Decidi ficar, guardei meu carro, no qual eu tinha colocado tudo que é importante meu para recomeçar a vida em outro lugar. Então, voltei: comprei bastante água, comida, tenho um kit de emergência, comprimido para dor de cabeça, lanterna à bateria, rádio, sirene, pisca alerta, rádio. Uma coisa é certa: vai faltar luz. A recomendação é para que a gente não saia de de casa a partir de agora. Desde o Katrina, há 30 mil casas desabitadas, essas residências estão se deteriorando. Então, a possibilidade de que uma peça de azulejo, pedaço de madeira, saia voando é grande. Isso pode te machucar ou matar. No mês passado, houve a implosão de um hotel de 25 andares na frente do Bairro Francês, então está tudo lá ainda: ferro, lixo que pode sair voando com o vendaval.
Continua depois da publicidade