*Por Winnie Hu e Matthew Haag
Nova York – Um edifício centenário de lofts foi adaptado para trabalhadores de tecnologia, com despensas chiques, assentos de arquibancada para reuniões e uma biblioteca para usuários do Kindle, onde os únicos livros presentes estão desenhados no papel de parede. Em outra parte de Manhattan, o Google está criando um vasto campus com escritórios espalhados entre três edifícios loft.
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Até mesmo algumas novas torres de escritório estão sendo feitas para se parecerem com lofts, com pé-direito alto, plantas flexíveis e colunas e canos expostos, que evocam a antiga Nova York para os recém-chegados da tecnologia.
O humilde edifício loft ajudou a transformar Nova York em uma potência industrial na primeira metade do século XX, com andares amplos e cheios de luz, repletos de trabalhadores costurando camisas e outros produtos têxteis, forjando metal e máquinas e trabalhando em linhas de montagem. Era uma versão utilitária de um moderno espaço de coworking.
Mas os lofts que uma vez definiram a paisagem da cidade acabaram sendo abandonados pelas empresas, deixados para artistas e proprietários em busca de mais espaço, e não tinham mais a preferência das autoridades da cidade, que os viam como relíquias ultrapassadas.
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Agora, os lofts estão de novo na moda, cobiçados por empresas de tecnologia que querem uma sensação autêntica de Nova York. "As pessoas costumavam pensar que esse tipo de edifício e essas áreas estavam obsoletos. Na verdade, é exatamente o oposto. Eles estão bem caros agora", disse Elizabeth Lusskin, presidente da Long Island City Partnership, um grupo de desenvolvimento econômico no Queens.

Executivos de tecnologia dizem que os lofts são versáteis, oferecem mais espaço e personalidade por um custo menor que o de torres de escritórios padrão, além de refletirem melhor sua cultura de trabalho colaborativa. E os próprios edifícios têm um passado que pode ser irresistível para empresas com tão pouca história própria.
"Os edifícios loft oferecem os espaços abertos, criativos e divertidos do Vale do Silício, combinados com o ambiente industrial urbano da cidade de Nova York", disse Matt Glickman, vice-presidente da Snowflake, empresa de software sediada na Califórnia e com escritório em um loft de Manhattan.
Em toda a cidade, há menos de cinco mil edifícios loft, quase todos concluídos antes da década de 1960, de acordo com o Departamento de Planejamento Urbano. Desde então, as regulamentações de zoneamento desencorajaram sua construção.
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A crescente demanda por lofts tem alarmado grupos comunitários que dizem que isso poderia gerar aluguéis mais altos, afastando moradores de longa data e pequenas empresas em favor das ricas companhias de tecnologia.
"Se você quer alugar sua propriedade e tem de escolher entre um artista e um espaço de coworking, dará preferência ao espaço de coworking", disse Gregory Louis, advogado do Communities Resist, grupo comunitário do Brooklyn. Carl Riddle, de 41 anos, artista e inquilino de um loft no Brooklyn, afirmou que as empresas de tecnologia são "uma ameaça direta aos artistas e artesãos".

Os responsáveis pelo planejamento da cidade disseram estar considerando mudar as regulamentações de zoneamento para facilitar a construção de novos lofts. Atualmente, as regulamentações adotadas em 1961 favorecem edifícios que são construídos com um propósito específico (como torres de escritórios ou pequenas fábricas fora de Manhattan), parte de um esforço na época para criar uma paisagem urbana ordenada e moderna.
Mais de 70 empresas de tecnologia, incluindo o serviço de streaming Roku, se mudaram para o distrito de vestuário de Manhattan, cheio de lofts, nos últimos cinco anos, disse Barbara A. Blair, presidente da Aliança do Distrito do Vestuário, que administra a melhoria dos negócios.
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Em Long Island City, Uber, Lyft e Via abriram escritórios no Edifício Falchi, um loft de 1922 que já foi um armazém da loja de departamentos Gimbels. Lá perto, um loft que foi usado como centro de encadernação de livros está sendo convertido em laboratórios e escritórios para até duas dúzias de empresas de biotecnologia.

Carol Willis, historiadora da arquitetura e fundadora do Museu do Arranha-Céu em Manhattan, disse que os lofts são uma parte essencial da história de Nova York, usados como armazéns ou indústrias leves no século XIX no Lower Manhattan e depois se espalhando para outros cantos da cidade.
Em um prédio loft na West 41st Street, no distrito do vestuário, dez dos 15 inquilinos são empresas de tecnologia, incluindo a Roku. O prédio oferece lounges e despensas com café e cerveja na torneira aos trabalhadores da tecnologia. Há televisores com grandes telas e skates pendurados na parede, além de uma biblioteca com uma mesa de sinuca.
"Esses edifícios do pré-guerra muitas vezes representam desafios de infraestrutura, mas adaptamos nosso prédio para lidar com a tecnologia moderna. O 'velho' encontrando o 'novo' é muito legal e nossos funcionários realmente apreciam isso", disse Diane Carlini, porta-voz da Roku.
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Quando Tim Armstrong foi contratado como o primeiro funcionário do Google em Nova York em 2000, transformou seu apartamento no escritório inaugural da empresa.

Agora, seu mais recente empreendimento, a DTX, uma empresa de produtos, design e tecnologia, está sediada em uma antiga loja de metais que foi transformada em um loft. Há áreas abertas com sofás, longas mesas e filas de computadores em um mezanino arejado. Ninguém tem salas ou mesas individuais. "A vida não é apenas estar em um prédio de escritórios brilhante. É estar em uma zona na qual você tenta descobrir as coisas que o mundo ainda não sabe que precisa", disse ele.
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