Ler aquele romance novo, tomar um banho de ofurô, caminhar na praia ou matricular-se numa aula de dança flamenca. Quem não gostaria de dedicar parte de seu tempo para atividades fora da rotina? O difícil é encaixar esses pequenos prazeres na agenda, já tão atribulada.

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As brasileiras têm reclamado muito disso ultimamente nos consultórios médicos ou no divã. Querem mais tempo para si próprias. Para simplesmente serem felizes. Pare e pense: quantas coisas você também gostaria de fazer e que acabam adiadas em função da correria e das regras sociais?

A modelo Bruna Lecardeli, que ilustra a capa desta edição, tem só 17 anos e já se sente “sem tempo”. Levanta às 6h e volta para casa às 19h30min, depois de encarar o Terceirão e o curso técnico. Em dia de trabalho, às vezes, estende a correria até a madrugada.

– Tento equilibrar deixando os finais de semana para dormir e cuidar de mim – comenta.

Pensando nas queixas recorrentes das mulheres sobre a falta de tempo, a antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, desenvolveu pesquisas com mais de duas mil brasileiras. E a conclusão a que chegou é que as mulheres querem se sentir mais livres, e perder menos tempo com coisas com a obrigação de serem perfeitas no trabalho, na família e em casa.

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Elas querem a liberdade delas

Segundo Mirian Goldenberg, as mulheres são prisioneiras de regras invisíveis. Não param para perguntar: “quem disse?”, e assim não percebem que existe uma cultura que impõe regras que são reproduzidas pela mídia, pela família, pelas amigas, pelos homens. Mas são as próprias mulheres as principais responsáveis pela reprodução destas regras ao aceitá-las, mesmo que inconscientemente.

– Quem disse que mulher não pode se divertir sem culpa, ter prazer sem medo, ousar sem receio de ser censurada? Quem disse que é preciso casar, ter filhos, ser uma supermulher? Quem disse que ela não pode colocar a carreira em primeiro lugar? Ou que não pode ficar em casa e ser sustentada pelo marido? As respostas dadas nas pesquisas da antropóloga revelam que elas gostariam de ter, assim como os homens, mais liberdade, sem tanta preocupação com a opinião e a censura dos outros.

– Elas querem ser mais leves. Dizem que são muito mais cobradas do que eles: no trabalho, na família e na vida. Afirmam também que precisam ser atraentes, magras, jovens, sensuais, perfeitas. Sentem-se prisioneiras de um determinado modelo de mulher, enquanto eles podem ser muito mais livres em todos os domínios sociais e, por isso, ter mais tempo livre para fazer o que lhes dá prazer.