As mulheres acham que não, mas está cada dia mais difícil ser homem. Sendo mais exato, ficou confuso. Antes os homens sabiam bem qual era a maneira mais correta de se comportar com as mulheres, qual corte de cabelo adotar, como cortejar, enfim, a expectativa era que o homem fosse apenas meio bonito, tivesse uma boa herança, falasse francês fluentemente e melhor ainda se usasse um bigodinho. Hoje não. Na quarta-feira passada, por exemplo, fui abrir a porta do carro pra uma desconhecida e ela me olhou torto. E o pior é que nem fiz por mal.
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A verdade é que nós, os homens, não sabemos mais muito bem do que as mulheres gostam, para lembrar o nome daquele filme tosco em que Mel Gibson, o mesmo ator que fez Coração Valente uns anos antes, depila a própria perna.
Dia desses circulou pela internet uma campanha que exigia o fim daqueles assobios que os homens dedicam às mulheres que julgam atraentes, o famoso “fiu fiu”. Ou seja, não basta só ler a poesia de Álvares de Azevedo, escutar Belchior escondido no quarto, frequentar restaurante vegetariano e aposentar a pochete, agora tem que parar de assobiar também. A campanha, que caracteriza o tal assobio como um “assédio sexual em espaço público”, causou certas controvérsias. Tenho um amigo que assobiava há mais ou menos uns 15 anos e ficou perplexo quando soube da mobilização, pois sempre considerou que estava arrasando.
– Agora só vou assobiar em locais particulares – concluiu, resignado.
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Por sua vez, minha tia Rosette Rosa, que sempre resolveu seus problemas de autoestima desfilando no entorno das construções civis do bairro onde mora, tirando proveito, aliás, da grande onda de especulação imobiliária que ronda Florianópolis nos últimos anos, enfim, minha tia discordou totalmente da campanha. Para os ouvidos de Rosette, fiu fiu é arte, música. Sempre polêmica, ela é a favor não da proibição, já que proibições nunca adiantaram a vida de ninguém, e sim da generalização do fiu fiu.
– Se os homens forem proibidos de assobiar para as mulheres, então eu não poderei mais assobiar para os homens? – pergunta.
De fato, a confusa situação do homem contemporâneo se complica um pouco mais quando, além de ter seu direito de assobiar ameaçado, passa a ser ele também objeto do assobio alheio, e isso tanto das mulheres mais saidinhas, como é o caso da minha tia, que assobia mesmo, quanto dos próprios homossexuais, que não por acaso também são homens. Qual Mel Gibson seremos nessa hora? O coração valente ou aquele outro que depila a perna?
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Minha intuição é que o homem hoje, mesmo o homem hétero, precisa ter aquele comportamento do jogador de futebol contemporâneo: aperfeiçoar a parte técnica sem comprometer sua disposição tática, defender sem a bola, ter liderança e ainda subir ao ataque para fazer uns golzinhos de vez em quando. Trocando em miúdos, vai ter que rebolar.