Quase sempre, a primeira coisa que vem à cabeça quando alguém precisa de um hospital é a figura do médico. A gente não lembra que o sucesso do trabalho deste ou desta profissional faz parte de uma engrenagem, a qual começa a girar no momento em que o paciente chega, passa por diversas áreas, até a esperada alta. Sem muitas vezes aparecer, estes trabalhadores são responsáveis em dar suporte ao bem-estar e a preservação das vidas. Com a pandemia esta dinâmica intensificou-se.
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Muitas são as mãos que tocam a roda da engrenagem que agora tem que lidar com uma doença desconhecida. O Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC/Ebserh), em Florianópolis, que de 1º de abril até o último dia 17 atendeu 1.549 pacientes com a Covid-19, serve de referência. Com 18 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mais 50 leitos entre enfermaria e emergência, o HU precisou treinar os profissionais de todas as áreas e rever processos.

De uma hora para a outra, a rotina de Maria Lúcia da Silva Barbosa passou por uma transformação. Com a experiência de 33 anos de copeira, ela precisou se adequar as novas regras: não pode se contaminar e nem ser meio de transmissão do coronavírus para pacientes e funcionários.
— A gente passou por treinamento. Mas é difícil, pois toda hora tem que trocar roupas, trocar sapatos, trocar luvas, tem que sempre lavar as mãos. É uma coisa nova e que assusta a gente.
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Maria Lúcia sabe da importância do setor para o funcionamento do hospital. Se saco vazio não para em pé, o que dizer das pessoas que devido a problemas de saúde precisam de uma alimentação saudável, que chegue no horário certa e ainda caia no agrado? Com a serenidade de quem há mais de três décadas convive no ambiente hospitalar, Maria Lúcia responde com a esperança de dias melhores. Mas também aproveita para dar um recado:
— A gente que está aqui dentro e sabe o quanto a luta é difícil. Por isso eu digo, gente: se cuide. Use máscara, troque de roupa quando voltar da rua, lava sempre as mãos. Assim estará cuidando de você e dos outros.
A gente cuida da segurança de todos: tanto dos profissionais que estão na linha de frente com o aparato necessário, como dos pacientes. A nossa maior dificuldade é o volume grande de material, o qual precisa ser controlado e disponibilizado 100% para o pessoal assistencial. Aline Huber, chefe do setor de Suprimentos do HU

Aline Huber é chefe do setor de Suprimentos e faz parte do quadro de 1.600 funcionários do HU, exceto residentes e terceirizados. Neste momento, diz, o trabalho de controle se tornou mais essencial do que nunca. O almoxarifado precisa ter um desempenho que garanta segurança a todos, funcionários, pacientes e até do entorno, como familiares e visitantes.
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Mara Coelho é chefe do Setor de Hotelaria, responsável por toda a higienização do hospital, produção das refeições dos pacientes e funcionários, processamento de roupas, gestão dos resíduos produzidos, transporte dos pacientes.
O departamento sempre teve muito trabalho, mas a pandemia exigiu uma dedicação especial que passou, inclusive, pela necessidade rever e reforçar processos.
— Tivemos que treinar todos da equipe e dar suporte para a os que estão na linha de frente lidando diretamente com os pacientes.
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Itamar Domingos é farmacêutico hospitalar do HU há 27 anos. O setor interage com o grande leque de profissionais da instituição: médicos, nutricionistas, enfermeiros:
— Estamos todos profissionalmente empenhados. A pandemia não tem data para acabar e nós não sabemos como isso será minimante controlada – diz o farmacêutico, especializado em gestão hospitalar.
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A pandemia provocou mudanças muito rápidas na engrenagem de todo o hospital, observa Tatiana Tarkina, enfermeira da hemodinâmica do HU. Tatiana trabalha na instituição há 10 anos e conta que nunca viu tantas mudanças ocorrerem e num espaço tão curto de tempo.
Às vezes machuca e incomoda, mas a gente sabe que é necessário. Então a gente se organiza mentalmente para que consiga usar e fazer bem feito o nosso trabalho que é cuidar do paciente. Tatiana Tarkina, enfermeira do HU
A enfermeira também diz que raramente o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) foi tão intensamente observado durante os procedimentos. Mas por estar na batalha, mesmo usando os EPis, o trabalhador fica mais suscetível a pegar a doença.
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Para a enfermeira, cabe aos profissionais de saúde oferecer um acompanhamento digno. Porém, ela observa que todas as pessoas podem colaborar para minimizar o impacto da pandemia. Ela também fala de um sentimento comum aos profissionais da saúde: a privação de estar com os familiares.
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O que é um HU
Os hospitais universitários (HU) federais são importantes centros de formação de recursos humanos na área da saúde e prestam apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão das instituições federais de ensino superior às quais estão vinculados. Além disso, no campo da assistência à saúde, os hospitais universitários federais são centros de referência de média e alta complexidade para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Quantos são
A rede de hospitais universitários federais é formada por 50 hospitais vinculados a 35 universidades federais. Em Santa Catarina existe o HU da Universidade Federal de Santa Catarina, gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
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Serviço
HU-UFSC Média atendimento consulta mês (antes da pandemia) Atendimentos ambulatoriais: Cerca de 10 mil; internações: cerca de 850; emergência (Adulto; Pediátrica; Ginecológica e Obstetrícia): cerca de 5 mil;
Número de funcionários: aproximadamente 1600 colaboradores (sem contar residentes e terceirizados).
Número de leitos Covid-19: 18 leitos de UTI; 50 leitos entre enfermaria e emergência. Número de leitos: 215 Pacientes Covid-19 atendidos: 1549 atendimentos (de 01/04 até 17/07)
(Fonte: HU-UFSC)