– Sou um joinvilense chato e bairrista.
Em tom de brincadeira, é assim que Ozório Cândido Ferreira se define. Aos 84 anos, lúcido como jovem na flor da idade, o ex-estafeta de telégrafo mora sozinho e tem como distração os livros, escritos por ele mesmo ou por historiadores que ele admira.
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Em comum com outras pessoas de mais idade, tem muitas histórias para contar, e não perde uma oportunidade de compartilhá-las.
– Tenho muita coisa que seria interessante para uma matéria, os estudantes iam gostar de ler – diz.
E para provar, abre as memórias, muitas vezes ilustradas por objetos ou alguns papéis surrados que ele guarda com carinho. Viúvo, pai de seis filhos, avô de 12 netos e bisavô de duas crianças, Ozório publicou três livros por conta própria.
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“Revirando o Baú”, de 2005, fala sobre sua infância, fatos pitorescos de quem foi criado num Centro de Joinville com uma cara bem diferente da de hoje. Aos 14 anos, graças à influência do pai, conseguiu emprego como estafeta no telégrafo.
Virou o menino responsável por entregar os telegramas e caminhava pela cidade toda atrás dos destinatários. Daí conheceu muitas ruas e muita gente. Aquilo que pensa, sua visão do mundo, está no segundo livro, “Eu no Mundo” (2007).
Este ano, publicou mais um, “Joinville do Meu Tempo”, com o relato das pessoas que conheceu nos tempos de estafeta.
– Há muita pessoa ilustre na cidade que nunca foi reconhecida. Eu quero acabar com essa injustiça – conta.
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Por vontade própria, doa os livros para escolas de cidade e frequentemente é chamado para dar palestras. Além dos livros, Ozório propaga suas histórias nas várias coleção.
Já teve uma de moedas, mas se desfez das raridades para “pagar o tratamento de algumas doenças” (ele prefere não comentar sobre isso). Agora, a febre da vez são as réplicas de relógios antigos, encomendadas do Rio de Janeiro e que chegam a custar mais de R$ 1 mil.
E tem os papéis. O texto da Lei Áurea, um recorte de jornal com a Proclamação da República, a primeira apólice de seguros emitida em Joinville, uma sesmaria original, um resumo da história do telégrafo brasileiro e outros itens cuidadosamente guardados em plásticos.
– Já doei muita coisa para museus, faculdades, mas essas coisas se perdem. Acho que eu cuido melhor – diz, antes de emendar a frase com mais uma de suas muitas histórias.
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