O decreto de isolamento para a população de Santa Catarina começou dia 17 de março, mas eu já estava confinada dias antes diante do quadro de nove meses de gestação. Logo que se confirmaram os primeiros casos de coronavírus no Estado, comecei o enclausuramento com organização de uma rotina, escolha de um local adequado para o home office, definição de um horário obrigatório dedicado à vida pessoal, criação de um processo de comunicação com o mundo externo etc. Em poucos dias, isso estava finalizado e a rotina começou a seguir dentro dos padrões que se tem à disposição no momento.

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Mas é impossível esquecer a vida que já se teve. Liberdade para ir e vir, o abraço das pessoas queridas, o carinho na barriga que só cresce e que carrega o serelepe João Pedro, as caminhadas ao ar livre, o sol revigorante da praia, as reuniões de trabalho para decisões importantes, os papos ao pé do ouvido com assuntos confidenciais dos amigos e os momentos ao lado dos familiares. Acostume-se, tudo isso era vida comum e por um período não será. Pagaremos um preço justo para tentar sanar a contaminação e evitar a morte. Lamentação ou ansiedade ajuda? Não. Cumpra-se.

O que contribui com o momento é a reflexão de como seremos depois do confinamento obrigatório, que já reúne mais de um bilhão de pessoas em todo mundo. O caos que nos obriga a olhar para nosso lar como um ninho seguro e protegido não escolhe classe social – dias atrás matou um dos principais banqueiros do mundo. Apesar de um grupo de risco, não escolhe idades – a doçura as crianças pode levar o vírus aos avós. Não escolhe profissões – temos uma economia ameaçada a voltar para a recessão. Ou seja, nos colocou todos lado a lado, sem ao menos o apoio das mãos dadas.

O que ficará destes dias – sim, vai acabar -, dependerá de como cada um encarar este momento histórico para a humanidade. Para aquele amigo que vivia buscando um encontro e você nunca tinha tempo, o que você dirá? Na sua nova rotina, haverá um horário para ver o mar e sentir o barulho das ondas amenizando os pensamentos? E aquela visita aos seus pais, velhinhos, que moram distante terá um dia ou um final de semana inteiro? Tem ainda aqueles planos de jogar futebol com o seu filho no playground do prédio. Ele pediu várias vezes. Podia ter feito ontem, agora vai ter que esperar.

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Entre momentos de esperança e lapsos de desespero, o que nos resta é tirar lições. Haverá um novo tempo, haverá uma nova chance. Reflita sobre o que ainda virá e sobre o que restará desta experiência. Hoje você é obrigado a ficar com sua família, não quer ver o celular porque são muitas notícias ruins. Será que não era isso que a sua família queria? Tire da sua casa o que não lhe faz falta e depois siga limpo abraçando, beijando, dando as mãos mesmo depois da briga, valorizando cada coisa que você não pode fazer agora. Talvez precisássemos mesmo ter esse tempo para nos ressignificar.