O mundo vai conhecer neste domingo o campeão da Copa do Mundo. De um lado, estará a Alemanha, que aplicou uma impensável goleada de 7 a 1 sobre a Seleção Brasileira nas semifinais. Do outro, a Argentina, que busca a façanha de conquistar o título dentro da casa do maior rival.

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Independentemente de quem levantar a taça, a Copa no Brasil deixa legados e lições. Se para o futuro do País eles são contestáveis – há um série de prós e contras -, para as empresas eles são indiscutíveis.

O alto nível deste Mundial revelou um equilíbrio até certo ponto surpreendente entre seleções consideradas favoritas e as “zebras”, aquelas pouco badaladas e bem menos expressivas. Não passava pela cabeça de ninguém que a Espanha fosse tragicamente eliminada do jeito que foi.

Quem diria que a pequenina Costa Rica derrubaria dois gigantes na primeira fase e fosse cair apenas nas quartas de final para a Holanda, nos pênaltis?

A Copa mostrou que, quando se compete em alto nível, um “apagão” generalizado pode custar muito caro – o massacre alemão diante do Brasil dispensa comentários.

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Também reiterou que apenas nome, tradição e talento individual não são garantia de sucesso. E que em hipótese alguma deve-se subestimar um concorrente. Por outro lado, somente garra e determinação não fazem de ninguém um campeão. É preciso uma dosagem equilibrada entre esses fatores para se chegar ao degrau mais alto.

Em um Mundial de futebol, a cobrança por resultados é diária. Sem união, planejamento e trabalho em equipe, raramente se chega longe. Ter equilíbrio emocional para não sucumbir diante da pressão é vital.

Por algum motivo, seu time pode perder seu maior craque e terá de seguir adiante com as peças disponíveis no momento.

Qualquer semelhança com os negócios ou com o ambiente de trabalho não é uma mera coincidência, como podemos ver a seguir:

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Mexer no time quando necessário

Além de deixar a torcida apreensiva, a lesão de Neymar na partida contra a Colômbia evidenciou, na Seleção, um dilema comum nas empresas: a reposição de talentos. Por mais competente que o elenco verde-amarelo fosse, ficou claro que o camisa 10 do Brasil não tinha um substituto à sua altura.

– É importante não depender exclusivamente de um talento – avalia Elaine Oliveira, gerente de recursos humanos da Whirlpool.

Felipão escalou Bernard no lugar de Neymar contra a Alemanha, optando por manter o mesmo esquema tático. Alguns comentaristas esportivos cogitaram que o treinador da Seleção não tinha imaginado e nem treinado um cenário de jogo sem o seu melhor atleta.

Tal como o futebol, o mundo corporativo pune aqueles que não preveem diferentes cenários na disputa pelo mercado.

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Trabalhar em equipe

Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo foram tratados, desde o início da competição, como as principais estrelas da Copa. Talentos individuais indiscutíveis, mas que jogam em seleções muito dependentes de cada um deles.

A Alemanha, que para muitos apresentou o melhor futebol do mundial, não tem um grande nome, mas se destaca pelo conjunto, onde todos os jogadores cumprem seu papel.

Nas empresas, times fortes e equilibrados são mais propensos a atingirem os resultados propostos. A multinacional Embraco, por exemplo, utiliza a uma metodologia chamada Manufatura de Classe Mundial, cujo objetivo é buscar zero desperdício – seja na produção, na qualidade ou na segurança.

– Somente por meio do trabalho em time é possível implementar a metodologia, que exige que cada um, dentro do seu conhecimento, seja responsável por uma parte dessa implementação – conta o diretor de operações da empresa, Emerson Zappone.

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Aprender com o fracasso

A história traz inúmeros exemplos de empresas e profissionais que, mesmo no auge, sucumbiram, mas conseguiram se reinventar e retomaram o caminho do sucesso.

Em 1985, Steve Jobs chegou a ser demitido da Apple, companhia que ajudou a fundar. Retornou em 1997 e, depois disso, todos sabem o que aconteceu: os iPhones, iPads e iPods criados por ele ajudaram a fazer da Apple uma das marcas mais valiosas do mundo.

A Cia. Hering, maior empresa têxtil catarinense, quase faliu no início dos anos 90, quando os produtos asiáticos invadiram o País. Mas se reformulou, mudou sua estratégia e se tornou uma potência varejista, com faturamento anual superior a R$ 2 bilhões.

– O fracasso é a maior de todas as escolas – destaca o consultor Alexandre Prates.

A própria Alemanha é um exemplo de como o fracasso pode ser explorado como algo positivo. Em 2006, a seleção, assim como a brasileira, foi eliminada da Copa em casa nas semifinais. Depois disso, reformulou seu elenco e passou a investir na modernização da preparação de seus jogadores.

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A atual geração, que disputa a final neste domingo, já vem sendo preparada desde 2010, sinal de que nem tudo está perdido para o futebol brasileiro.

Persistir e superar obstáculos

Eles vêm de um pequeno país da América Central com apenas 5 milhões de habitantes, mas foram protagonistas de feitos heroicos nesta Copa. Os jogadores da Costa Rica surpreenderam ao levar a sua seleção à primeira colocação do chamado “grupo da morte” do mundial.

Venceram a tetra-campeã Itália, a aguerrida equipe do Uruguai e, de quebra, eliminaram a Inglaterra – todas campeãs do mundo. A desclassificação veio apenas nas quartas-de-final, e nos pênaltis, para a Holanda.

Mas qual o segredo dos costa-riquenhos, que têm um elenco tecnicamente bem mais limitado do que a maioria das seleções europeias? Para o consultor Roberto Vilela, a Costa Rica é um exemplo de persistência, característica indispensável nos negócios.

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– Os jogadores davam o máximo de si, porque sabiam que cada jogo poderia ser o último. E assim foram subindo um passo de cada vez – compara.

Nunca descartar a concorrência

A Espanha desembarcou no Brasil com pompa de favorita: atual campeã mundial, vencedora da última Eurocopa e líder no ranking da Fifa. Mas logo na primeira partida na competição foi goleada pela Holanda. Na segunda, a derrota para o Chile culminou numa eliminação considerada precoce.

O exemplo dos espanhois revela atenção máxima à vizinhança, que mesmo menos “badalada” pode surpreender. A Espanha se notabilizou por um estilo de jogo que acabou ficando “batido”. Mesmo com o placar desfavorável, “A Fúria” jamais abriu mão de seu esquema tático.

– Uma estratégia campeã se torna rapidamente mapeada. Todo mundo estuda e sabe como neutralizá-la – destaca o consultor empresarial Roberto Vilela.

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Viver sob pressão

É difícil imaginar a pressão que os jogadores da Seleção carregaram nos ombros neste mundial. Não é fácil jogar uma Copa do Mundo em casa diante de tamanha cobrança – da torcida, da imprensa e dos próprios atletas -, ainda mais com o fantasma de 1950 (a perda do título para o Uruguai no Maracanã lotado) assombrando a equipe o tempo todo.

Momentos de tensão são comuns e frequentes também nas empresas em diversas situações, e é preciso saber lidar com eles, por mais complicados que sejam.

– Ter uma equipe que consiga manter o equilíbrio em momentos difíceis e tomar as atitudes corretas quando a situação não está dentro do planejado sempre será algo decisivo para que se alcance a vitória – diz Edimilson José Corrêa, vice-presidente de desenvolvimento de TI e serviços da OpenTech.

Ter controle emocional

A imagem de Thiago Silva em lágrimas antes da decisão por pênaltis contra o Chile causou apreensão. Como capitão da Seleção, cabia a ele motivar os companheiros e demonstrar confiança diante de um momento decisivo – papel que coube ao volante Paulinho, que havia sido sacado do time. Depois do episódio, uma psicóloga foi chamada para trabalhar o lado emocional dos atletas.

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– Quando, neste caso, a psicóloga passa a ser um dos principais elementos, alguma coisa está errada no processo – acredita o consultor de empresas Roberto Vilela.

Nesses momentos, um líder tem que chamar a responsabilidade. Foi o que fez o goleiro Julio Cesar que, mesmo visivelmente emocionado no momento, disse que iria pegar duas cobranças de pênalti, o que acabou acontecendo. Felizmente, o capitão Thiago Silva se redimiu na partida seguinte, marcando um importante gol contra a Colômbia.

Saber a hora de virar o jogo

O Brasil levou cinco gols da Alemanha em apenas 18 minutos. Após a derrota nas semifinais, o técnico Felipão resumiu a atuação a um “apagão” da sua equipe. De fato, a Seleção não teve cabeça nem forças para reverter a situação. E o pior: em momento algum durante a partida mostrou ter poder de reação.

Nas empresas não é diferente. Durante uma negociação, por exemplo, o jogo também pode mudar. Foi o que aconteceu com a Tuper, que precisava encontrar, para um cliente, uma peça importada da Europa. Várias propostas foram feitas, mas a viabilidade do projeto não era aprovada.

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– Decidimos então fazer uma proposta mais agressiva e ousada, daquelas essenciais também em uma partida de futebol, quando se está perdendo o jogo. Modificamos a peça original de forma que a proposta brasileira fosse mais barata, mas tivesse a mesma eficiência da peça importada – conta Alessandro Besen Barbosa, diretor da unidade de Negócio da Tuper.

A Tuper virou o jogo, conquistando o cliente mesmo concorrendo com outras duas empresas multinacionais com tradição no mercado.