A Ilha da Magia não tem essa alcunha à toa: não faltam prédios, caminhos, trilhas e praias com lendas e mistérios entrelaçados na história. O Palácio Cruz e Sousa, bem no Centro de Florianópolis, não é diferente. De fantasma temperamental a badaladas misteriosas de relógios que já não funcionam, os corredores do edifício, que hoje abriga o Museu Histórico de Santa Catarina, aguçam a curiosidade e, quem sabe, até o medo.

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Construído por volta de 1770, o palácio já foi sede de governo da Província, na antiga Nossa Senhora do Desterro. Entre o século 18 e 19, sofreu diversas modificações: ganhou elementos arquitetônicos diferentes e foi ampliado.

Joaquina, temperamental e protetora

Antes de ser sede do museu, foi casa dos governantes de Santa Catarina. Entre eles, Hercílio Luz. Mas não é ele que vive pelos corredores do palácio. É, na verdade, a mãe dele, Joaquina Ananias Neves da Luz. Até hoje, há um quadro dela no palácio, conforme conta o presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Rafael Nogueira.

Muito temperamental, ele conta que Joaquina não gosta que seja mudada de lugar. Se isso acontece, há relatos, de quem trabalha no museu, de objetos que somem. Ela também cuida (e muito bem) do lugar onde morou.

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— Certa vez, quando o setor de cima ainda era aberto, uma senhora entrou na sala de jantar e foi impedida de entrar. Quando ela desceu, disseram que não é proibido entrar. Quando ela voltou com uma das funcionárias, ela apontou para o quadro e disse: “foi ela que me pediu” — conta.

Ela, no caso, era Joaquina. Atualmente, o setor superior só pode ser visitado com agendamento prévio, já que os cômodos contam com muitos objetos de valor. Até com o piso é necessário ter cuidado.

Recentemente, no entanto, Joaquina ficou mais calma. Rafael revela que o quadro da matriarca vai ser restaurado em breve.

— Acho que é foi uma das maneiras de retirar o quadro sem que ela reclamasse — brinca o presidente da fundação.

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Risadas e badaladas de relógio

Quem trabalha no palácio, no setor administrativo, ocupa o que eram os quartos das famílias de governantes que moraram no palácio. Não é raro que, a partir das 19h, se ouça nestes cômodos passos e risadas de crianças.

Também à noite, funcionários ouvem badaladas de relógio. A questão é que os objetos do museu não funcionam e nem nunca irão funcionar, conforme especialistas nestes itens.

Rafael conta, ainda, que o prédio também foi palco de episódios dramáticos, como em 1891, durante a Revolução Federalista, quando foi tomado de assalto por revolucionários contrários à política de Floriano Peixoto em Santa Catarina, vice-presidente em exercício na época.

Veja fotos antigas do palácio

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Sobre o palácio

Reformado diversas vezes, o palácio hoje tem um estilo arquitetônico eclético, com alguns elementos de Art nouveau, por exemplo. As paredes rosadas se destacam no Centro de Florianópolis, assim como o jardim.

O jardim tem dez estátuas esculpidas pelo artista italiano Gabriel Silva. Entre elas, a da padroeira do Estado, a Santa Catarina. Um deus grego e uma ninfa dos mares também incluem o elenco. Em 1910, os ladrilhos da calçada foram importados e assentados.

Só se tornou Palácio Cruz e Sousa mesmo em 1979, uma homenagem ao poeta catarinense. O prédio foi tombado em 1948, quando começaram as restaurações do projeto. Em 1986, passou a sediar o Museu Histórico.

Em 2023, o museu bateu recorde de visitantes: mais de 43 mil durante o ano, quase o dobro do registrado em 2019, último ano antes da pandemia, quando foram cerca de 26 mil.

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Em agosto, o museu deve receber uma exposição sobre a Revolução Federalista. No começo do ano, já recebeu uma sobre a imigração japonesa para Santa Catarina e também sobre a história do Carnaval catarinense.

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