Antes de começar a entrevista, Jenny Coelho de Souza Liberato se apressa para mostrar o jardim de casa, cheio de plantas nativas.

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– Sempre gostei de mato, queria trabalhar com plantas. Só troquei de profissão depois de conhecer o meu marido – conta a sócia da Clínica São Lucas.

Para a sorte de Itajaí, a carioca apaixonou-se por Affonso Liberato, que na época estudava medicina no Rio de Janeiro. Os dois vieram para o Sul do país em 1946 e começaram a modificar a história da cidade. Jenny tinha 24 anos e conta que não hesitou um segundo em mudar de ares. Encantada com a cidade e com o povo cordial que aqui encontrou, ela revela que achou o seu lugar no mundo.

– Senti que fui acolhida pelo povo. Tudo aqui me encantava, o rio, a mata, as praias, a forma com que as pessoas viviam. Para mim, era tudo muito poético. Eu gostava de andar a cavalo pela cidade, passear por aí – lembra.

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Quando chegou, Jenny ia a cavalo até a Praia de Cabeçudas, onde o acesso era muito complicado. Todo o trabalho era para entrar na água, coisa que o povo de Itajaí não tinha o costume de fazer na época.

– As pessoas não entendiam muito bem eu entrar na praia. A água era bem mais revolta do que é hoje, pois não havia as interferências humanas que vieram depois. Era muito repuxo, dos poucos que se arriscavam, muitos acabavam morrendo afogados – revela.

Cabeçudas ainda é o local favorito de dona Jenny, servindo de inspiração para a empresária. Ela conta que durante os anos que trabalhou na revelação de exames, passava a maior parte do dia em uma sala pequena e fechada. As lembranças da natureza eram o que a mantinham feliz. A função de Jenny, na então fundada Clínica São Lucas, foi essa durante aproximadamente 20 anos. Até que resolveu retomar os estudos e cursar uma segunda faculdade: Medicina. Ela, que já era formada em Farmácia, foi até a Universidade Federal de Santa Catarina estudar e conquistou o diploma aos 52 anos.

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A médica diz que se impressiona regularmente com o tamanho de Itajaí. Ela comenta que ainda se assusta com as tantas ruas, prédios e construções que a cidade ganhou nos últimos anos.

– Vejo que a faculdade fez a cidade crescer, não dá para ter um mundo civilizado sem instrução. O mundo todo mudou muito, a comunicação e a educação o fizeram evoluir. Para mim, a tendência é Itajaí crescer cada vez mais – opina.

Otimista quanto ao crescimento, a médica não esquece dos problemas que precisam ser resolvidos. Ao longos dos 67 anos que mora aqui, ela foi sempre proativa durante os períodos em que as dificuldades atingiram a cidade. A não resolução do problema das enchentes é um assunto que a deixa frustrada.

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– Precisa ser resolvido, não é possível que pessoas tenham ainda que perder tudo o quê tem. Uma senhora como eu, com 91 anos, se perde tudo, como vai fazer? Não tem condições de recomeçar uma vida. O problema precisa de uma solução – reclama.

Jenny defende Itajaí com unhas e dentes. Foi assim que ela trouxe aparelhos de ponta para o tratamento médico de milhares de itajaienses. A decisão de investir em equipamentos caríssimos foi após a morte do marido.

A carioca diz que não é conformista e vai atrás de o que conseguir para tratar e cuidar de seus pacientes. Foi por isso que, cansada com a falta de aparelhos, ela tomou a escolha ousada de trazer tecnologia de ponta a Itajaí.

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– Penso que no Rio eu teria sido só mais uma. Aqui é a minha casa – declara.