Por um momento, esqueça expressões emblemáticas que remetem à Oktoberfest, como Parque Vila Germânica, Planetapeia e, claro, chope. Agora foque em nomes como Alessandro, Odete e Ricardo. Eles são personagens fundamentais para que uma das maiores atrações da festa se concretize e encante o público: os desfiles na Rua XV de Novembro, no Centro de Blumenau. Os três, ao lado de outras dezenas de pessoas que por vezes passam despercebidas pela multidão, trabalham para deixar tudo pronto. Faça chuva ou faça sol, a tarefa deles é garantir que todos estejam a postos, devidamente trajados nas carruagens para animar o público ao longo dos 1,3 mil metros da principal via da região central da cidade.

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O trabalho começa muito antes de os foliões pensarem em reservar um espaço na agenda. É o caso do Alessandro Engel, 37 anos. Apaixonado pela vida no campo, ele ganhou a tarefa de coordenar os 27 cavalos que participam das apresentações na Rua XV. O cuidado com os animais é permanente ao longo do ano, com alimentação equilibrada, visitas periódicas ao veterinário e adestramento. O coordenador das carroças e carruagens conta com o apoio de outras 40 pessoas, já que os animais ficam entre Pomerode e Massaranduba.

O serviço se intensifica quando a Oktober começa efetivamente. Nos dias de desfile, Engel nem vai para o trabalho habitual de jardineiro, o ofício fixo com que paga as contas de casa. Ele precisa dar banho nos animais, esperar secar e pentear muito, até o pelo brilhar.

A esposa, Bianca, foi quem incentivou o marido na atividade.

— Fiquei olhando aqueles animais, que a gente gosta tanto e falei para minha mulher: "Será que um dia eu vou poder coordenar ou desfilar?" — lembra Engel.

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Pouco tempo depois veio o convite da organização da festa. Uma inspeção nas 10 propriedades onde ficam os cavalos e uma avaliação veterinária foram suficientes para a confirmação. Há três anos Engel cuida dos animais, seleciona a equipe e contrata o transporte. Tem, inclusive, uma carruagem particular para colocar os convidados. Ele, porém, nunca cruzou a XV de Novembro.

Conforme as carruagens e as carroças são liberadas pelo coordenador, quem também sai para desfilar é a família dele. As duas filhas participam desde 2016, quando o pai começou a trabalhar na Oktoberfest. Amanda, de três anos, não perde uma apresentação ao lado da irmã mais velha. Juntas, sentem o encantamento de representar a figura do pai.

— Ele não pode estar junto com a gente lá, mas nós estamos por ele. É muito gratificante — afirma a filha Larissa, de 14 anos.

Gratidão do público

Ricardo Porto, de 56 anos, e Odete Cugik, de 68, nunca participaram de um desfile. Não que de fato desejem. Eles se sentem realizados em suas funções, que são primordiais para o espetáculo. Chamá-los de personagens anônimos, entretanto, não condiz com a realidade. Quem não perde uma apresentação e gosta de estar tipicamente trajado, provavelmente já os conheceu ou ouviu falar. É que enquanto o show toma conta da rua, eles estão suando a camisa.

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Há 30 anos, Porto trabalha na comissão de apoio aos desfiles da Oktoberfest. Bancário de profissão, ele tem a missão de liberar e mesclar os grupos e brinquedos, que vêm da Rua das Palmeiras e da Alameda Rio Branco. Tudo começou ao atender o convite de um colega de trabalho. De lá para cá, não parou mais e ainda levou a esposa para ajudar.

— Na quarta-feira, por exemplo, choveu e a gente estava lá e manteve o desfile da mesma forma. Muitas vezes as pessoas me encontram na rua e dizem "conheço você do desfile" — afirma Porto.

Carioca, o blumenaunse de coração diz se sentir realizado com a participação no evento, que tem papel importante em sua vida. Como está na cidade há muitos anos, enfrentou as enchentes de 1983 e 1984 e viu na festa uma saída para reerguer o ânimo dos moradores. Questionado se deseja um dia desfilar, é taxativo.

— Não. Gosto muito do que eu faço. Isso é uma alegria incrível, uma sensação de pertencimento. Nunca faltei nenhum desfile e a cidade toda respira a Oktoberfest — arremata.

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A costureira que veste muitos fritz e fridas

A alguns quilômetros da Rua XV de Novembro, próximo à Vila Germânica, fica a costureira Odete Cugik. Ela perdeu a conta de quantos grupos já vestiu para a Oktoberfest. Começou a costurar peças de trajes típicos como um trabalho pontual. Produzia as blusas e os vestidos das sobrinhas, para assistirem aos desfiles, mas uma cliente mudou a história.

— Ela coordenava a rainha e as princesas da festa e me pediu para fazer a roupa delas. Como tenho uma queda por esse tipo de traje, aceitei — relembra ela, que completa 23 anos de dedicação exclusiva à produção de roupas germânicas.

Com o sucesso do trabalho, Odete abriu a primeira loja, dentro do parque. Quatro anos depois precisou mudar de endereço por questão de espaço. Os grupos folclóricos também vieram e a produção não parou mais. No decorrer de todo o ano, ela e mais três costureiras se dedicam a criar um estoque de peças para quando a festa chegar.

O período é de trabalho intenso. As portas abrem às 9h e só fecham quando o último cliente sai.

— Já tive oportunidades de desfilar, mas não tem como sair daqui. Temos muito trabalho — afirma a costureira.

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Nas mais de duas décadas de trabalho com a confecção de roupas típicas germânicas, as lembranças são muitas e algumas até curiosas, como as vezes em que preparou os turistas para saírem da loja direto para o desfile, com a roupa normal em uma sacolinha. Ela confessa que quando os vê deixando o estabelecimento bate uma vontade de ir para a Rua XV de Novembro. Há pelo menos 15 anos, Maria Odete não tem mais tempo nem de assistir à apresentação. Isso, porém, não a impede de ter um plano ideal em mente e que um dia possa realizá-lo:

— Eu até quero desfilar um dia, mas aí com todo o meu pessoal junto, todo mundo que trabalha comigo — espera.

Última oportunidade em 2018

Neste sábado está programado mais um desfile. Se o tempo permitir, será o último da 35ª edição da Oktoberfest. O início está previsto para as 16h. Em caso de cancelamento, o anúncio será feito uma hora antes do começo da atração. Os portões do Parque Vila Germânica abrem às 11h e a programação encerra às 5h. Os ingressos custam R$ 40.

No domingo, data que a festa chega ao fim, as atrações seguem até a meia-noite e a entrada é gratuita. Às 20h, no Eisenbahn Biergarten, ocorre a eleição do trio que vai representar a próxima edição. Estão na disputa pela coroa 10 mulheres. Uma sairá com o título de rainha e duas de princesas. Para chegar lá, entretanto, vão precisar surpreender um corpo de jurados que vai avaliar critérios como: beleza e simpatia; postura e desenvoltura e capacidade de comunicação.

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