O blumenauense Diogo Vruck, 27 anos, leva consigo o desejo de se tornar delegado de polícia desde os tempos da faculdade, mas a vontade de ver a Justiça funcionar para todos começou antes. Ainda na adolescência cultivava o sonho de ser engenheiro civil, vontade que herdou do pai. Terminou o Ensino Médio, foi aprovado no vestibular e a alegria foi interrompida pela obrigação dada aos jovens homens brasileiros: servir o Exército. Convocado, não conseguiu frear o alistamento e trancou a faculdade. O ano era 2008 e, quando a enchente assolou a região no mês de novembro, o rapaz se aproximou do que mudaria o seu destino.

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– Atuando ali tive muito contato com os policiais, civis e militares, vi a ação deles, e como sempre ia trabalhar em um abrigo diferente vi várias coisas acontecendo, muitas vezes erradas, e ninguém fazia nada para corrigir. Então comecei a pensar que gostaria de fazer algo para mudar isso, e foi aí que decidi que queria ser delegado de polícia.

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Ainda durante o serviço militar, Diogo prestou um novo vestibular. No começo de 2009 deixou o quartel e a engenharia para se dedicar ao estudo do Direito, já com foco total no concurso público. O principal objetivo do concurseiro é ser aprovado para a corporação catarinense, mas ele também pretende tentar ingressar nas polícias do Paraná ou do Rio Grande do Sul.

– São os três Estados da região e acaba tendo uma realidade mais próxima. Além disso já muda muita coisa. Mas de qualquer forma, as próprias provas são bem diferentes entre si, cada uma tem particularidades e cobra mais determinados assuntos.

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Desde 2014, quando concluiu a faculdade, o jovem se dedica exclusivamente à preparação para prestar o concurso. Está terminando a pós-graduação na Escola do Ministério Público de Santa Catarina – que também decidiu cursar como forma de preparação ao concurso de delegado, já que a exigência para promotores é ainda maior – e atualmente dedica pelo menos oito horas diárias ao estudo focado no concurso. A rotina tem início às 5h, quando ele acorda, toma o café da manhã e segue para o treinamento de crossfit.

– O concurso para delegado também tem a prova de aptidão física – diz.

Depois volta para casa, toma um banho e vai à biblioteca da Furb, onde permanece até por volta de 15h. Para a entrevista, Diogo levou os livros com os quais costuma se preparar: eram cerca de 30 volumes que enchiam o assoalho do porta-malas do carro, além dos resumos que ele mesmo faz como metodologia de estudo e ocupavam o banco de trás do veículo. Enquanto aguarda a abertura de um novo concurso para delegado em Santa Catarina o advogado divide o tempo entre muito estudo, alguma atividade física e o trabalho eventual no plantão do Juizado Especial Criminal da Ordem dos Advogados do Brasil, em Blumenau, já que uma das exigências do concurso que ele almeja é a comprovação de pelo menos três anos de atividade jurídica.

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Para conservar corpo e mente em equilíbrio, Diogo também faz acompanhamento nutricional e psicológico:

– Estou com 27 anos e tem uma pressão para que isso aconteça, inclusive minha mesmo. Meus pais me ajudam muito e tenho que agradecer demais a eles por isso, mas você sempre acaba se perguntando se aquilo vai valer a pena. Mas para mim, mesmo pesando tudo isso ainda vale, e é isso que faz a diferença lá na hora. Quem quer fazer concurso público só pelo salário ou pelo status não consegue ir para a frente, porque tem que ter um algo a mais que impulsione. É preciso foco, persistência, saber o que se quer.

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A segurança na permanência e a possibilidade de melhorar a qualidade de vida que fizeram com que o técnico de enfermagem Jorge Luis Serpa, 29 anos, fizesse a opção pelo serviço público. Em 2014 ele foi aprovado no concurso público da prefeitura de Gaspar, classificado na 42ª posição e, desde então, aguarda ser chamado para assumir o cargo.

– Ligo a cada dois, três meses para saber como está, porque a qualquer momento a gente pode ser chamado. Mas a última informação que recebi é de que a chamada está no 21º, 22º colocados e que vão prorrogar o concurso por mais dois anos.

Enquanto espera, Jorge (foto acima) segue trabalhando. Prestes a completar 10 anos de serviço no Hospital Santa Isabel, em Blumenau, o técnico em enfermagem conta que decidiu fazer o concurso depois de passar por um período de intenso estresse. Atuava em dois empregos e tinha uma jornada que chegava a completar um dia de trabalho:

– Trabalhava na ambulância (socorro privado) à noite, saía e entrava no hospital, e ia até o fim do dia. Depois folgava na manhã seguinte, mas era muito cansativo.

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Depois deste período, ele optou por permanecer apenas no hospital, uma noite sim e outra não. Para reduzir o estresse pratica natação e cultiva outros hobbys, como participar da Gincana Cidade de Blumenau. A expectativa cresce à medida que o tempo passa. Com a estabilidade que o serviço público vai proporcionar, Jorge já faz planos.

Além de uma vida mais tranquila e com tempo para a família, o morador do bairro Água Verde também pretende estudar e se especializar, buscando atividades como a Psicologia, uma das faculdades que gostaria de cursar. Enquanto isso, torce para não esperar mais dois anos pela vaga que já garantiu.

Conquistar uma vaga no serviço público pode ser uma tarefa difícil, mas se há uma coisa que a crise ensina é aproveitar as oportunidades. Diferente de quem sempre teve o objetivo de entrar no funcionalismo público, Watson e Kleber, que perderam o emprego nos últimos meses, estão em busca de chance para voltar ao mercado e acreditam que o concurso é o meio de conquistar uma vida mais tranquila.

A rotina de Watson Willian da Silva, 27 anos, é a mesma há pelo menos seis meses: acordar cedo na segunda-feira, entregar currículos, percorrer agências de Blumenau e aguardar o contato para uma entrevista. Desde o início do ano, quando ficou desempregado, recebeu duas ofertas de emprego, mas conta que não está fácil encontrar uma recolocação no mercado dentro da sua área: Recursos Humanos. Além da experiência que acumulou na iniciativa privada, ele conta que já foi um concurseiro. Fez provas para vagas em todas as esferas – federal, estadual e municipal – e em diferentes cidades, como Balneário Camboriú e Camboriú.

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O principal motivo de se dedicar à busca de uma colocação no funcionalismo público é o mesmo apontado por outros: a estabilidade.

– Além da garantia de estar empregado, tem também a estabilidade financeira e os possíveis benefícios que se têm no serviço público, como bolsas para estudar. Tudo isso leva a considerar o concurso – analisa.

Apesar de ainda não ter conseguido a aprovação para uma vaga no setor público, Watson (foto acima) afirma que não desistiu de tentar. Porém, novas investidas terão de aguardar pois, como está desempregado, fica difícil arcar com os custos das inscrições, que giram em torno de R$ 150 (para alguns casos, pode ultrapassar R$ 250).

– Como não está fácil de voltar para o mercado, agora não tenho condições de fazer. Mas assim que puder, com certeza vou tentar outras vezes.

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O concurso público também é uma alternativa avaliada pelo motorista desempregado Kleber Alan Faustino, 38 anos. Enquanto aguardava a entrevista em uma agência de empregos, ele contou que está há pelo menos dois meses em busca de uma nova colocação que lhe garanta, pelo menos, o mesmo salário recebido quando saiu do trabalho anterior:

– Na minha área é muito difícil trocar de emprego na mesma faixa (salarial), às

vezes a diferença chega a R$ 1 mil. E hoje não está fácil encontrar, tem muita empresa fechando.

Ele diz que já pensou no serviço público como possibilidade para ter mais tranquilidade na vida, mas quando aparecia um certame com vagas na sua área ele estava empregado. Agora, Kleber (foto acima) acredita que o concurso pode ser a oportunidade de encontrar um trabalho estável diante do momento de incerteza do país.

– A estabilidade é o diferencial, né? Quem conheço que é funcionário público nunca saiu e essa oscilação do mercado deixa a gente sempre preocupado, então penso sim num concurso como uma boa possibilidade. Se aparecer um com vaga na minha área certamente vou fazer – enfatiza.