Poucas palavras foram tão desgastadas quanto o substantivo legado nos anos que antecederam a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos sediados pelo Brasil. Um ano depois da abertura da maior festa do esporte mundial, heranças estruturais da competição contribuem com o potencial econômico e turístico em uma região da Zona Oeste do Rio de Janeiro, a Barra da Tijuca.
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No bairro de classe média alta carioca a 30 quilômetros do Centro do Rio, famoso pelos shoppings e condomínios fechados ricos em parques, espaços de compras, lazer e serviços, como o Rio 2 e o badalado Península, foi construído o Parque Olímpico. A escolha levou em conta o espaço territorial e o caráter mais moderno da região. O principal complexo esportivo usado nos Jogos custou R$ 2,5 bilhões e abriga as três Arenas Cariocas, a Arena Olímpica do Rio, o Parque Aquático Maria Lenk, o Centro Olímpico de Tênis e o Velódromo, que no último domingo foi parcialmente destruído por um incêndio provocado por um balão. Nos Jogos, 157 mil pessoas chegaram a passar pelo espaço em um só dia.
Apesar da imponência das arenas, não reside ali o principal espólio dos Jogos para a região da Barra. O motivo é a ociosidade de espaços, dedicados a poucas competições que, embora garantam algum movimento, costumam ter proporções mais tímidas. Exceção feita à Jeunesse Arena. Submetido a uma concessão, o local sedia de tudo. Shows internacionais, jogos, eventos de UFC e de e-sports. Embora sirva de cartão-postal a turistas, o espaço também não se transformou em ponto de encontro e prática esportiva aos fins de semana – nem perto de se tornar um ¿Ramiro da Barra¿. Alguns dos motivos seriam as poucas opções de atividades e serviços, falta de bebedouros e de espaços à sombra para amenizar o calor que emana das lajotas.
Para quem vive em uma cidade como Blumenau, não chega a ser surpresa já que, por aqui, uma pista de bicicross construída para os Jogos Abertos de Santa Catarina em 2013 restou inutilizada menos de três meses após a competição. A pista de atletismo do Complexo Esportivo do Sesi, dedicada mais a treinamentos do que a competições, e o próprio Ginásio Galegão, até o ano passado limitado a pontuais jogos de vôlei e basquete, são exemplos de espaços esportivos que sofreram até serem melhor aproveitados e que lutam para escrever história diferente da das arenas olímpicas cariocas.
Herança dos Jogos na região da Barra está mais evidente fora das arenas
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Do portão para fora do Parque Olímpico, a herança dos Jogos está muito mais evidente. Começa pelas novas vias como a Transolímpica e o corredor de BRT que liga o bairro à região central. Mas o principal legado está no potencial turístico. A Barra da Tijuca é apresentada como um jeito diferente de conhecer o Rio. A principal vocação ainda é o turismo de eventos e negócios. Não poderia ser diferente no bairro que tem como trunfo para isso o Riocentro, segundo maior centro de convenções da América Latina – centro de convenções que, aliás, é mais um sonho de consumo na Blumenau que costumava sediar a extinta Texfair. Outro exemplo é o Rock in Rio, que em setembro terá a nova cidade do rock montada no Parque Olímpico para estimular o uso do complexo.
Há também uma vocação de turismo ecológico na Barra que muitas vezes passa ao largo dos roteiros tradicionais – e que o poder público quer incentivar. Alguns exemplos são os passeios de balsa na Lagoa de Marapendi, habitat de garças, capivaras e, dizem os guias, até jacarés. O ecotour pode ter até bandinha com clássicos da Bossa Nova ou do Carnaval. Embora menos emblemática que as orlas cantadas por Tom Jobim, praias como a da Macumba também garantem o sol e o banho no belo mar carioca.
O potencial turístico faz crescer as ofertas de serviço e hospedagem na Barra da Tijuca. São 12,8 mil quartos nessa região, em um universo total do Rio que saltou de 28 mil para 42 mil leitos após as Olimpíadas. O interesse faz redes como a Vert Hotéis terem três dos 18 hotéis no país – mais 22 novas aberturas estão previstas até 2019 – concentradas na Barra, com bandeiras que vão da hospedagem executiva (eSuites) aos hotéis com áreas de compras (Ramada) ou convivência e lazer para públicos mais jovens (Ramada Encore). A oferta hoteleira crescente faz lideranças turísticas definirem a região como um resort urbano e enxergarem ali um futuro turístico forte.
– A Barra trouxe um novo público, mostrou um Rio para todas as tribos. E não atingimos nem 60% do potencial – idealiza Michael Nagy, diretor do Rio Convention & Visitors Bureau.
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* O repórter viajou a convite da Vert Hotéis e da Avianca