Eleitor republicano declarado, o professor de Política da Universidade da Virgínia Gerard Alexander, 46 anos, analisa o que está acontecendo no Partido Republicano e explica como o eleitor conservador vê Mitt Romney, o candidato com mais chances de vencer Barack Obama. Leia os principais trechos da entrevista a ZH:

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Zero Hora – Os pré-candidatos republicanos chegam às alturas e depois afundam nas pesquisas. Por que há tantos candidatos caricatos e sem chance real de vitória?

Gerard Alexander – Como no Brasil, a figura do presidente tem grande importância, o que incentiva muitos a tentar, mesmo que as chances sejam poucas. Existe um velho ditado na política americana que diz que, a cada manhã, cem senadores olham para o espelho e enxergam um presidente. E assim, muitos políticos americanos fantasiam com a ideia de chegar à presidência. No futuro, baseado no que aconteceu nessa campanha, mais pessoas ainda devem concorrer. Muitos candidatos passaram meses com menos de 5% nas pesquisas e, de repente, viraram os favoritos da semana. Nas próximas eleições, todo assessor político lembrará destes nomes que vieram do nada e tiveram sua chance.

ZH – Então essas eleições são como uma maldição para política americana?

Alexander – Umas das coisas que essas primárias vão fazer é inspirar muitos candidatos menores a entrar na corrida eleitoral. Vão pensar algo como: ‘se Michele Bachmann ou o Cain (Herman) não tivessem dito isso ou aquilo, eles poderiam ter conseguido. Mas se fosse eu, eu conseguiria. Eu poderia vir do nada e vencer’. E isso deve acontecer com republicanos e democratas.

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ZH – E o que quer o movimento conservador americano? Por que essa batalha encarniçada entre os candidatos?

Alexander – Em primeiro lugar, eu não acho que essa batalha é uma prova de grande divisão no partido. É natural que haja uma competição feroz para se tornar o número 1. É claro que existem diferenças ideológicas e de estilo entre os republicanos. Existem os mais libertários nos costumes e mais liberais em termos econômicos, que apóiam Ron Paul. Os conservadores religiosos, que ainda não encontraram seu candidato. E os que são moderados, mais preocupados com os negócios e apoiam Mitt Romney, que, por isso, se manteve tanto tempo na frente nas pesquisas. Não estou dizendo que ele se manteve sempre em primeiro, mas Romney seguiu firme sempre nas primeiras posições.

ZH – Parece que muitos candidatos são como calouros e Romney é o único veterano entre eles.

Alexander – (Newt) Gingrich, por exemplo, tem mais experiência em Washington (a capital do EUA) do que Romney, mas eu entendo concordo com você de que existe algo amador nas outras campanhas e que Romney é um profissional, sem dúvida.

ZH – Romney é o melhor candidato para esta eleição?

Alexander – Ele está muito bem posicionado para a eleição de novembro. Exceto pelo fator religião, todas as fraquezas que os conservadores veem nele, são fraquezas para os republicanos mas que podem virar vantagens na disputa com Obama quando toda a população votará. Por exemplo: ele é visto como o menos ideológico entre os demais candidatos, menos associado a um conservador em termos religiosos como Rick Santorum ou Sarah Palin, e mais ligados aos negócios. Isso poderá ser útil para ele. Muita gente da esquerda americana acha, por exemplo, Michele Bachmann ou Santorum extremistas religiosos e ignorantes políticos, mas veem Romney como alguém que poderia ser convidado para um jantar. Uma das grandes vantagens de Romney é que o que o enfraquece nas primárias, o torna muito forte nas eleições gerais.

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ZH – E o que pode pesar contra ele?

Alexander – O grande problema de Romney é que eu não faço a menor ideia do que ele acredita realmente. Ele mudou suas posições ao longo do ano de tantas maneiras que muito difícil saber o que ele pensa. Mas se você está satisfeito com o status quo, então não faz diferença se você apoia um candidato sem crenças firmes. Mas se você quer mudar o país, é preciso de um presidente que seja muito determinado. E Romney não se mostra determinado para nada, exceto se tornar presidente. Os conservadores tem medo que um presidente de convicções fracas não realizará nenhuma mudança. Às vezes, ele é visto como muito moderado.

ZH – Religião será um problema para Romney? O conservadores vão aceitar um mórmon?

Alexander – Por ser judeu, eu não faço essas distinções entre essas divisões religiosas. Na história americana, existiu muito preconceito de protestantes contra católicos, mesmo assim (John) Kennedy _ um católico _ foi eleito. A verdade é que existem pessoas que não acreditam que os mórmons sejam cristãos. Eu esperava que houvesse mais discussão em torno dessa questão, o que não ocorreu. Então, honestamente eu não tenho como responder essa questão.

ZH – Falando hipoteticamente, um membro do Tea Party (a ala republicana mais religiosa e purista) votaria em Barack Obama ou em Romney?

Alexander – Neste caso, eu acho que eles escolheriam ideologia sobre a religião.

ZH – Mas se Romney se ficar tão no centro, é possível que o eleitor não diferencie do Obama?

Alexander – Sim, é possível. Acho que muitos vão ficar realmente divididos entre os dois. Igual, todas as pesquisas indicam que ele está melhor nas pesquisas contra Obama. Ou seja, até mesmo as pesquisas indicam que ele é o melhor.

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