Hoje, a Suíça é reconhecida como um dos países mais ricos do mundo, destaque em diversas áreas e com os melhores índices de qualidade de vida. Mas nem sempre foi assim. A crise que abalou a Europa no século 19 também influenciou a região, que precisou encontrar formas para voltar a se equilibrar.

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A ascensão das companhias colonizadoras foi uma das saídas encontradas pelos governantes para resolver a situação dos mais pobres. Maria Thereza Böbel e Raquel S. Thiago contam, no livro “Joinville Os Pioneiros: documento e história – Volume I: 1851 a 1866”, que a emigração foi incentivada com ajuda financeira para aqueles que aceitavam se arriscar nos países tropicais. Assim, foram reunidos os 61 suíços embarcados na Colon, vindos, principalmente, das regiões de Schaffhausen e Siblingen.

Nesse grupo, veio o casal Bartholomaues, 44 anos, e Elisabeth Schmidlin, 43 anos. O lavrador trouxe os cinco filhos e se instalaram no que era conhecido como Caminho do Meio, atualmente rua 15 de Novembro. Os imigrantes da Suíça também chegaram falando alemão, o que contribuiu para a confusão de muitas famílias e dos próprios historiadores que acreditavam que a maioria dos colonos embarcados na Colon eram alemães.

A historiadora Raquel S. Thiago explica que por causa da localização da Suíça na Europa Central, no cruzamento de grandes culturas europeias, foi natural a influência dos territórios vizinhos. Isso fez com que se falasse mais de duas línguas no país.

Alberto Schmidlin, 74 anos, morador de Joinville, foi criado como alemão, com cultura e traços típicos, inclusive sendo alfabetizado na língua alemã. Ele nem imaginava que sua origem era suíça.

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– Na escola, tive que aprender o português na marra – relembra.

Quando alguém o questionou sobre a origem do seu sobrenome, afirmando que não parecia alemão, seu Alberto se sentiu motivado a iniciar uma pesquisa intensa sobre seus antepassados.

Busca autônoma pelas origens

A primeira evidência encontrada por Alberto foi no livro “História de Joinville: crônica da Colônia Dona Francisca”, de Carlos Ficker, que trazia a lista dos embarcados na barca Colon, contendo passageiros com seu sobrenome e indicando a origem suíça. A publicação estava esgotada, e quem tinha não emprestava. Durante um ano, Alberto ficou na fila de espera de um sebo até conseguir seu exemplar.

– Quando me ligaram, pedi que minha filha fosse logo pegar para que ninguém comprasse. Ela até escaneou e mandou para uns parentes de Curitiba que nos procuraram – lembra.

O interesse aumentou e ele começou a guardar todos os materiais que encontrava, inclusive recortes do jornal “A Notícia”, que contavam a história de seus ancestrais. Foi assim que descobriu que Bartholomaeus e Elisabeth eram seus trisavôs. A casa da família, na rua Marechal Hermes, no Glória, foi localizada, e Alberto conseguiu conhecer e conversar com uma irmã do avô, que também lhe repassou mais dados.

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O avô Adolf, por sua vez, se instalou em Guaramirim, onde contribuiu muito com o desenvolvimento da região, montando uma igreja luterana dentro da própria casa.

– Nessa época, a região ainda pertencia a Joinville – explica.

Alberto enfatiza que tanto o pai quanto o avô contavam sobre a emigração, mas não tinham noção da origem suíça. Todos pensavam que eram alemães. Eles eram lavradores, assim como os imigrantes, mas Alberto resolveu “fugir”, vindo para a cidade para trabalhar. Nas idas e vindas, conheceu a esposa, Luiza Maria Schmekel, com quem teve dois filhos.

Hoje, Alberto mora no bairro São Marcos, comemorou 50 anos de casado em janeiro, e faz questão de contar a história para os sete netos. Entre as tradições, estão os almoços de família com frango assado recheado, assim como os avós faziam, além da cuca de café da tarde, e a fé luterana seguida à risca.

Família Tanner veio de Schaffhausen, na Suíça, com a Barca Colon

Outra família vinda com a Colon foi a de Conrad e Elisabeth Tanner. Eles embarcaram com nove filhos, entre eles Franz Tanner, que se casou com Margaretha Brodbeck. O casal é trisavô de uma família que também não sabia da origem suíça. Valdir Maurício Rudnick, 62 anos, foi informado pela produção da reportagem de que seus antepassados foram imigrantes pioneiros em Joinville. Sua mãe, Norma Tanner, era bisneta de Franz.

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– Minha mãe morreu muito cedo. Ficou órfã aos 13 anos, foi adotada por pais que lhe fizeram sofrer e trabalhar muito. Ela faleceu com apenas 53 anos.

Nascida em Joinville, Norma se mudou aos seis anos para São Bento do Sul. Foi lá que conheceu o marido, Avelino Lauro Rudnick. Juntos, vieram para Joinville para trabalhar. Avelino comprou uma oficina mecânica em Pirabeiraba e lá começou a atuação como empresário, que se estende até hoje, com inúmeros negócios.

– Sempre falo que nós trabalhamos, mas nossos ancestrais trabalharam muito mais. Eles tiveram que construir tudo do nada – diz.

Dolores Lütke Tanner, 74 anos, é tia de Valdir, e relembra a história de amor com Levino Tanner, seu marido falecido aos 45 anos. Os dois se conheceram em Pirabeiraba, em um dos bailes das sociedades tradicionais da região. Nessa época, os sogros já haviam morrido, então, ela não conheceu muitos descendentes da família.

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Com origem alemã, Dolores conta que as tradições se aproximavam das que o marido tinha.

– Gosto muito de cozinhar, fazer frango assado recheado, cuca. Também mantemos a religiosidade e somos ligados à música. Ele tocava gaita e repassou esse gosto para as quatro filhas – relata.

Valdir também foi influenciado pela paixão musical do tio e sempre busca saber mais sobre instrumentos e música alemã. Na sexta geração, Valdir Rudnick Junior, 24 anos, também desconhecia a origem do sobrenome Tanner. Na escola, estudou a colonização de Joinville, visitou o monumento à barca, mas nunca identificou a família entre os primeiros imigrantes.

– Acredito que eles enfrentaram muitos desafios e me sinto orgulhoso em saber que temos papel importante na fundação da cidade.

Há alguns anos, Valdir chegou a visitar a cidade de Schaffhausen a trabalho, mas nunca imaginou que a família havia emigrado de lá.

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– Com essas descobertas, estamos motivados a pesquisar e conhecer melhor a nossa história. Queremos saber para repassar às novas gerações – conta.

Da família Tanner que veio com a Colon, a filha Anna se casou com Louis Duvoisin, cozinheiro de Léonce Aubé, que montou um restaurante na Estrada Dona Francisca. Margaretha, um bebê de quatro meses, não resistiu à viagem, falecendo à bordo da barca. Balthasar, 11 anos, morreu apenas quatro meses após a chegada. E Elisabeth, que tinha nove anos em 1851, faleceu em 1855.

* Textos: Letícia Caroline Jensen, especial para o AN