Há um ano, Joinville recebeu oficialmente um título que já era seu há décadas: o de Capital Nacional da Dança. Sancionada em 20 de julho de 2016, a lei 13.314 tornou o nome oficial, mas não garantiu que a cidade mantenha motivos para ser considerada o centro do País quando o Festival de Dança acaba.

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A não ser pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, são poucas as referências sobre dança que um turista pode encontrar ao chegar à cidade em outros períodos do ano. Para o presidente do Instituto Festival de Dança, Ely Diniz, o ciclo da cidade como referência em dança só estará completo quando houver, pelo menos, um teatro municipal e uma companhia municipal de dança, garantindo estrutura e agenda para que as apresentações não fiquem limitadas apenas aos dias do evento.

– Tenho certeza de que haverá retorno para as agências de turismo e para a rede hoteleira. A pessoa vem para cá, assiste aos espetáculos, come empadinha, marreco e vai visitar os pontos turísticos. Pode ir a São Francisco do Sul, ao Beto Carrero, subir a serra. Tudo isso já acontece durante o Festival de Dança – comenta Ely.

O diretor-geral da Escola Bolshoi, Pavel Kazarian, analisa que a estrutura que a cidade já conquistou para receber turistas agora pode ser usada para atrair visitantes de outra forma, em outros momentos do ano, como um segundo evento. Ele cita Gramado, na Serra Gaúcha, que se consolidou como cidade turística a partir do turismo cultural.

– Joinville tem capacidade para isso. Gramado construiu a sua identidade por meio da cultura e foram criadas outras atrações para o turista visitar na cidade – avalia Pavel.

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À frente da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), pasta criada no início do ano, Raulino Esbiteskoski afirma que o objetivo é ¿vender¿ este título ao falar sobre o calendário de eventos e apresentar a cidade pelo Brasil. No entanto, são poucos os planos para viabilizar outras ações neste sentido.

Neste ano, 7,8 mil participantes vieram para o Festival de Dança, entre estudantes, bailarinos, professores e artistas convidados. Ainda há turistas que vêm à cidade atraídos pelo evento: os hotéis da cidade chegam a 97% de ocupação, e o comércio tem aumento no lucro – em 2014, antes da crise, era de 15% em relação aos outros meses.

CONFIRA

Teatro Municipal

BENEFÍCIOS: ter um teatro municipal daria mais chances a Joinville de entrar na rota das turnês de grandes companhias de dança e ofereceria estrutura para os grupos locais e os espetáculos de companhias profissionais do Festival de Dança nas noites especiais. O Centreventos Cau Hansen é uma arena multiúso que, além de comprometer a experiência em alguns espetáculos, tem custo muito alto para montar a estrutura necessária para as apresentações cênicas. Já o Teatro Juarez Machado é muito pequeno e não atende às necessidades técnicas da maioria dos espetáculos. O diretor do Bolshoi, Pavel Kazarian, lembra que o teatro municipal fazia parte do acordo com o Bolshoi de Moscou para instalação da escola em Joinville.

STATUS: ele faz parte do Plano Municipal de Cultura e está no plano de governo da atual gestão. No entanto, o secretário de Cultura e Turismo de Joinville, Raulino Esbiteskoski, afirma que não há, no momento, orçamento para viabilizar a construção de um teatro.

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Companhia Municipal de dança

BENEFÍCIOS: a companhia é sonhada pelos profissionais de dança da cidade desde os anos de 1990 e foi prometida em várias gestões. A última vez foi em 2015, quando sua criação foi anunciada pelo prefeito Udo Döhler durante o discurso de abertura do 33º Festival de Dança. Naquele ano, os mestres da dança Cristina Helena e Marcio Melo, de Minas Gerais, chegaram a participar de um encontro com o prefeito, o então vice-prefeito, Rodrigo Coelho, e coordenadoras da Casa da Cultura para deliberar sobre o assunto. A ideia era formar a base do corpo de baile com alunos da Escola Municipal de Ballet e oferecer as vagas remanescentes a bailarinos profissionais de Joinville.Com a Companhia Municipal de Dança, seria possível garantir um calendário mais frequente de apresentações de dança na cidade.

STATUS: atualmente, este papel é desempenhado pela Cia. Jovem Bolshoi Brasil, formada por ex-alunos da Escola Bolshoi. A instituição também é responsável por promover a programação – neste ano, serão dez apresentações. Não há data, nem orçamento para a criação da companhia.

Museu da dança

BENEFÍCIOS: idealizado pelo Instituto Festival de Dança, o museu funcionaria como um ponto turístico na cidade. Segundo Ely Diniz, teria um perfil semelhante ao do Museu da Língua Portuguesa e ao do Museu do Futebol, com exposições interativas. Ele também poderia funcionar como centro de memória da dança, com acervo de livros e vídeos e espaço para pesquisa. Em setembro de 2014, uma portaria nomeou a comissão do museu da dança de Joinville, formando a equipe responsável pela elaboração do projeto de criação e implantação do Museu da Dança em Joinville.

STATUS: o secretário Raulino Esbiteskoski afirma que o museu foi assunto de reunião recentemente e pode ser viabilizado em breve, por meio de parcerias.

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Faculdade de dança

BENEFÍCIOS: o curso superior em dança proporcionaria a Joinville reunir profissionais da área acadêmica o ano inteiro em Joinville, movimentando também a pesquisa em dança na cidade e eventos estudantis. Alunos formados no curso técnico pela Escola Bolshoi e pela Escola Municipal de Ballet teriam a possibilidade de ingressar no ensino superior na área se quisessem ficar na cidade.

STATUS: o projeto começou a tramitar na diretoria da Udesc em maio de 2009 e, em 2013, o governo do Estado confirmou o aumento de repasse para a implantação do curso no campus 2 da Udesc, em Joinville, de R$ 4,4 milhões anuais. Nesta quarta-feira, a secretária regional Simone Schramm informou que será iniciado o processo para criação do curso técnico em nível médio em dança na Escola de Educação Básica Germano Timm, ao lado do Centreventos Cau Hansen.

Escola Bolshoi

BENEFÍCIOS: a instituição de ensino foi instalada em Joinville no ano 2000 por meio de um convênio com o Teatro Bolshoi de Moscou, que envia alguns de seus ex-bailarinos para atuarem como mestres da dança em Joinville.

STATUS: ela é, atualmente, o único ponto turístico com identidade de dança na cidade. Recebe, anualmente, cerca de 5.700 visitantes – a maior parte deles no período do Festival. No entanto, seus alunos precisam deixar a cidade para encontrar mercado de trabalho, tanto como bailarinos quanto para terminarem a formação acadêmica e tornarem-se professores. Também sente falta de espaço para suas apresentações: o Teatro Juarez Machado não comporta seus espetáculos completos e a plateia é limitada para atender a um grande público.

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Identidade visual

BENEFÍCIOS: em época de selfies, ter lugares e símbolos da dança pela cidade garante as fotos para os turistas e fazem os moradores criarem o sentimento de pertencimento ao título.

STATUS: os ícones da dança instalados pelo Instituto Festival de Dança e seus patrocinadores (um banco nacional colocou uma grande sapatilha laranja perto da entrada do Teatro Juarez Machado são usados pelos turistas para as poses em fotos. Eles ficam na cidade o ano inteiro e continuam sendo atração de visitantes, assim como a entrada da Escola Bolshoi.

– O próprio prefeito já falou que acha incrível que ninguém rouba, nem depreda estes ícones. As pessoas têm respeito, entendem que é parte da cidade – comenta Ely Diniz.