Há 25 anos o Brasil não vivia uma eleição tão acirrada como a do próximo domingo. Desde 1989, quando Fernando Collor, Lula e Leonel Brizola se digladiavam no primeiro sufrágio direto para Presidência após a ditadura, o país não via três candidatos em condições reais de chegar ao segundo turno. Apesar da polarização entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), a uma semana da votação Aécio Neves (PSDB) mantém as esperanças – na matemática e na “onda da razão”.
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As estratégias dos candidatos ao Piratini na semana final de campanha
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Em uma campanha marcada pela queda de um jato com um presidenciável a bordo, as estratégias da semana derradeira incluem visitas aos principais colégios eleitorais, militância afiada e programas com apelo emocional nas duas últimas aparições no horário eleitoral da TV. O debate deste domingo, na Record, é tratado com zelo, porém o momento considerado mais delicado pelos comitês é o debate da Rede Globo, na próxima quinta-feira, a três dias da eleição. É a oportunidade ideal para convencer os indecisos, passaporte para o segundo turno.
Dilma tem a situação mais confortável. Na avaliação da cúpula petista, o turbilhão da morte trágica de Eduardo Campos, substituído por Marina, passou. Após ter a liderança nas pesquisas ameaçada, a presidente voltou a abrir vantagem e, na simulação de segundo turno, está numericamente à frente em um empate técnico com a candidata do PSB. Na terça-feira, o Ibope indicara Dilma nove pontos à frente da ambientalista no 1º turno e o Vox Populi, 18. Na sexta, o Datafolha apontou 13 de diferença e o Sensus, 10,1. Os números confirmam a tendência verificada desde o último fim de semana nas sondagens internas do partido. Os otimistas confiam em vitória no primeiro turno. Caso não seja possível, a meta é garantir pelo menos 10 pontos de folga, considerados confortáveis para administrar o round decisivo.
– Não trabalhamos com vitória no primeiro turno. Foi um período duro, marcado por forte politização – diz Miguel Rossetto, um dos coordenadores da campanha de Dilma.
A presidente deve reduzir a intensidade dos ataques a Marina. O discurso de ameaça às conquistas prossegue, reforçado por um balanço dos 12 anos do PT no governo. Nos debates, Dilma opta pelo contragolpe, com respostas recheadas de dados, estilo do qual não abre mão. Os programas na TV virão com uma candidata “mais afetiva e menos gerentona” e com a presença intensa de Lula.
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Uma briga acirrada pelo segundo lugar
Marina sabe que a esperam novos dias como alvo preferencial de PT e PSDB. Seus conselheiros definem a semana da “sobrevivência”, credencial para um segundo turno com o mesmo tempo de TV de Dilma. Por isso, no horário eleitoral os socialistas esgrimam com o “desejo de mudança”, exploram as suspeitas na Petrobras e evitam disparos virulentos.
– Não vamos devolver no mesmo tom a baixaria que sofremos dos dois adversários – afirma o candidato a vice, Beto Albuquerque.
As agendas denotam atenção com São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco. No reduto de Campos, a ambientalista vai aparecer ao lado da família do ex-governador, forma de aditivar a votação e compensar eventuais perdas de outros Estados.
Ameaçado de assistir ao segundo turno de casa, Aécio amplifica o discurso de maior opositor do PT. Vai ao ataque. Trata de corrupção e inflação contra Dilma, contudo, a mira está posicionada na testa de Marina. Conforme as últimas pesquisas, o mineiro aparece entre 10 e 4,3 pontos atrás da ambientalista.
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O tucano não prepara uma bala de prata. Ao contrário, quer explorar as contradições da rival e tentar desgastá-la dia a dia até o domingo. Sua equipe evita acusações pessoais, concentra os esforços na procura de pontos nebulosos ainda não explorados e no passado próximo a Lula. Com base em informações publicadas pela imprensa, o comitê organiza comparações entre declarações de campanha e posicionamentos antigos. As contradições encontradas são enviadas a nichos de eleitores com interesse no assunto, a exemplo de produtores rurais.
– No meio da semana que vem, vamos estar encostados na Marina – aposta Aécio.
Dilma Rousseff (PT)
40% na última pesquisa Datafolha
Com a bênção de Lula
O tom emotivo dos primeiros programas do horário eleitoral, que chegou a mostrar Dilma preparando macarrão na cozinha do Palácio da Alvorada, volta a ter mais espaço na TV. Junto, é reforçada a presença de Lula. O ex-presidente é o fiador do sucesso de um segundo mandato de Dilma. O marqueteiro João Santana aposta em produções cinematográficas para apresentar a mulher que, ao lado de Lula, trabalha para mudar o país. Os programas farão um grande balanço dos 12 anos do PT no poder.
Marina vai com as outras
A estratégia que deu certo não será abandonada. A artilharia continua forte contra Marina Silva (PSB) e seu programa de governo. O PT sustenta que a ambientalista é incapaz de governar em razão do reduzido apoio político. Também transforma Marina em ameaça às conquistas sociais, reforço do que fez em temas como pré-sal. A mensagem mira a classe C, fatia do eleitorado na qual a polarização com a ex-senadora é mais intensa. O termo “Marina vai com as outras” segue em uso.
Contra-ataque armado
Dilma cancelou agendas nos últimos dias para recuperar a voz e se preparar para os debates deste domingo, na Record, e de quinta-feira, na Globo. A postura mais ou menos agressiva será definida conforme o desempenho nas pesquisas de intenção de voto. Se a presidente mantiver a distância confortável para Marina, deve ser cautelosa. Dilma vai pronta para contragolpear. Deve rebater os tucanos com escândalos do governo FH e alfinetar a falta de apoio político e as mudanças de opinião de Marina.
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Marina Silva (PSB)
27% na última pesquisa Datafolha
A predestinada
Marina Silva vai carregar o tom emocional na TV. A mulher negra e pobre, nascida em um seringal no Acre e alfabetizada aos 16 anos, que vai governar “com os melhores”. O marqueteiro Diego Brandy busca a calibragem exata para pintar uma candidata forte, por isso o discurso firme. As críticas pela falta de propostas são rebatidas com projetos de ensino em tempo integral e passe livre para estudantes. A viúva de Eduardo Campos, Renata, gravou depoimento que será usado na propaganda, no mote “não vamos desistir do Brasil”.
Semana da resistência
Após semanas de pancadaria – mais incisiva por parte do PT -, o PSB aguarda debates pesados neste domingo, na Record, e, em especial, na quinta-feira, na Globo. Marina vai repetir as críticas à polarização entre PT e PSDB e deve explorar os escândalos de corrupção que envolvem as duas siglas. A campanha concentra em Rio, São Paulo, Minas e Pernambuco. Entrevistas e debate serão usados para destacar a continuidade de programas como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida.
Adeus, corrupção
Com dívida alta, suspeitas de desvio de recursos e de obras superfaturadas, a Petrobras continua na campanha – nas redes sociais, nas entrevistas e nos debates. Irregularidades foram creditadas ao loteamento de partidos feito pelo PT na estatal, personalizado na figura do ex-diretor Paulo Roberto Costa. A responsabilidade da compra da refinaria de Pasadena (EUA) tentará ser atribuída a Dilma.
Aécio Neves (PSDB)
18% na última pesquisa Datafolha
Voto útil contra o PT
O PSDB mantém a ofensiva para se apresentar como a verdadeira oposição ao governo federal, na continuação da linha do jingle “Marina é a Dilma com outra roupa”. O tucano reforça na propaganda da TV a trajetória da ambientalista dentro do PT e sua passagem pelo ministério de Lula, ao lado Dilma. O marqueteiro Paulo Vasconcelos vai insistir na “onda da razão”. Aposta na divugação da passagem de Aécio pelo governo mineiro para convencer o eleitor de que ele é o candidato mais capacitado.
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Corrupção e contradições
Em entrevistas e, especialmente no debate da Globo, Aécio deve bater nas adversárias de formas distintas. Vai ressaltar as mudanças de opinião de Marina Silva. Com base em informações publicadas pela imprensa, a equipe tucana prepara comparações entre as declarações durante a campanha e posicionamentos do passado da ambientalista. Dilma deve receber críticas por permitir o retorno da inflação, mas a atenção fica com a corrupção, com o caso Petrobras em alta.
Empurrão regional
Para tentar um salto nas pesquisas, Aécio pede um empurrão a líderes regionais consolidados como oposição ao PT. Concentra as agendas nos grandes colégios eleitorais, em especial no Sudeste. O mineiro quer usar a popularidade de candidatos que lideram as corridas para governador. São os casos dos tucanos Geraldo Alckmin, de São Paulo, e Beto Richa, do Paraná. Aécio também pede uma mãozinha do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), com avaliação em alta na Bahia.