Enquanto o delator do mensalão mantém comportamento ostensivo às vésperas do julgamento, a antiga cúpula do PT age com discrição e tenta se manter longe dos holofotes.

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Hospitalizado desde quinta-feira para uma cirurgia de retirada de tumor no pâncreas realizada neste sábado, Roberto Jefferson (PTB-RJ) até o início da semana passada circulava com desenvoltura pelos ambientes políticos e chegou a desafiar o Supremo Tribunal Federal (STF).

– Não serei condenado – repetiu o presidente do PTB, recém reeleito para o cargo.

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A permanência no posto comprova que, mesmo cassado pela Câmara, o ex-deputado continua sendo a figura central do partido. Na legenda, os candidatos e eventuais coligações só são confirmados após a anuência do homem que revelou o suposto pagamento de propina a parlamentares.

Contendor do petebista durante a convulsão política de 2005, José Dirceu se exilou no interior de Minas Gerais em preparação para o julgamento. Apontado pelo Ministério Público Federal como líder da suposta quadrilha, o ex-ministro da Casa Civil buscou refúgio na casa da mãe, em Passa Quatro, pacata cidade mineira de 15 mil habitantes.

Dirceu recusou todos os pedidos de entrevistas e pretende acompanhar o julgamento pela TV, longe de Brasília. Depois de ter o mandato cassado pela Câmara, ele passou a atuar como advogado e consultor de empresas, sem jamais abandonar a vida partidária. Membro do diretório nacional do PT, ele é um dos mais influentes dirigentes da legenda.

Entre os principais réus do processo, ninguém supera a discrição de José Genoino. Obrigado a renunciar à presidência do partido após o escândalo, ele ocupa um cargo de assessoria no Ministério da Defesa e não fala com a imprensa sobre a denúncia desde 2005. Fiador dos empréstimos que teriam alimentado o mensalão, Genoino se afastou das discussões partidárias e evita até mesmo frequentar eventos políticos.

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Responsável por indicar os políticos que receberiam dinheiro do esquema, Delúbio Soares esteve em Brasília na ultima terça-feira, quando se encontrou com cerca de 150 militantes da juventude petista. Foi a última etapa da peregrinação do ex-tesoureiro, que percorreu o país apresentando sua defesa em sindicatos, associações de classe e entidades sindicais. Delúbio foi o único envolvido no escândalo a ser expulso do partido, mas foi readmitido em 2011.

O encontro de terça-feira, contudo, teve de ser realizado na sede da Central Única dos Trabalhadores, depois que a direção do PT não permitiu que Delúbio conversasse com os militantes na sede da agremiação. Durante três horas, ele foi tratado como “vítima”. Voltou a negar a compra de parlamentares, assegurou que buscou quase R$ 60 milhões para quitar dívidas de campanha, resumindo as irregularidades a crime eleitoral. Ao final, reforçou o coro pela absolvição.

– Tenham fé na Justiça – pediu Delúbio, aos camaradas.