Se a voz rouca, a mão sem um dedo, o gosto pela bebida e pelas cigarrilhas, além do carisma e das dificuldades com a língua portuguesa, faziam do ex-presidente Lula um prato cheio para os humoristas, o mesmo não pode ser dito da sua sucessora, Dilma Rousseff.
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Dona de um perfil discreto, a presidente, conhecida pela seriedade de quem já sofreu com a tortura, desafia os imitadores no país. A ausência de traços caricatos na sua personalidade obriga os artistas a inventarem os mais variados perfis, que vão de uma Dilma sensível e vaidosa a uma presidente mandona e desbocada.
– Lula é engraçado ao natural. Já Dilma é uma pessoa linear, que não tem nada marcante. Quem imita ela tem essa dificuldade, fica preso à linearidade da presidente – opina o humorista André Damasceno, um dos principais imitadores do ex-presidente no meio artístico.
Para superar essas dificuldades, o mineiro Gustavo Mendes, 23 anos, decidiu criar uma versão bipolar da presidente, encarnada no Casseta & Planeta Vai Fundo, da TV Globo. A Dilmandona grita ao dar ordens aos ministros, mas depois os afaga com o bordão “um beijo na alma”.
– Criei um perfil, porque na eleição os marqueteiros a chamavam de “mãe do povo”. A mãe é isso, briga e depois dá beijo. Essa bipolaridade e a maioria das coisas que coloquei na personagem são invenções minhas – explica Mendes.
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Em outras sátiras populares, como a Dilma Bolada, famosa no Facebook, emerge uma líder brincalhona e egocêntrica, que parece se divertir com a rotina presidencial – sem perder o tom mandão. Já a Dilminha, da revista Piauí, externa um lado mais “mulherzinha”. A personagem – que cultiva uma cômica paixão platônica pelo ministro das Minas e Energia, Edison Lobão – protagoniza o Diário da Dilma, onde lida com dilemas femininos como a escolha de um penteado.
Já a Dil Maquinista, do Zorra Total, da TV Globo, e a Dilma Duchefe, do Pânico, da TV Band, são as duas versões mais antagônicas da petista. Enquanto a personagem da atriz Fabiana Karla é a imitação mais light, a criação do humorista Márvio Lucio é masculinizada e violenta.
– A imitação do Pânico é uma caricatura um pouco exagerada. Já a da Fabiana é comedida, não tenta ser engraçada, e é utilizada como âncora do programa – analisa Damasceno.
Confira quem são os personagens:
Dilmandona
Encarnada pelo mineiro Gustavo Mendes, a Dilmandona do Casseta & Planeta Vai Fundo, programa da TV Globo que deixou de ir ao ar em dezembro, tem postura de general, mas costuma afagar os seus ministros com o bordão “um beijo na alma”.
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O ator foi um dos primeiros a imitar a presidente e fez sucesso na internet, para onde a personagem deve voltar a partir de agora. Em um dos vídeos antigos, dispara palavrões contra o ex-ministro Antonio Palocci, após vir a público a informação de que ele multiplicou em 20 vezes o seu patrimônio.
– Agora, quem vai ter que botar a cara para te defender? Eu! E eu sou sua mãe para te defender, seu filho da p.? Engole esse choro! – grita a personagem, antes de se acalmar e mandar um beijo para Palocci.
Dil Maquinista
A personagem de Fabiana Karla é a comandante do metrô do Zorra Total – atração da TV Globo por onde desfilam vários humoristas. Sorridente, é a versão suave de Dilma Rousseff.
A atriz reproduz com perfeição os movimentos corporais da presidente, como os braços cruzados e a postura ao falar, mas mantém um texto comedido, sem entrar em polêmicas.
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O início, porém, não foi fácil. Colega de Fabiana, André Damasceno lembra que a atriz chegou a alertar a direção do programa sobre a ausência de traços humorísticos na presidente. Interlocutores do Planalto dizem que Dilma aprova a imitação e presenteou a atriz com flores.
Dilma Duchefe
É a versão mais escrachada da presidente. Tem voz grave, comportamento agressivo e masculinizado. O sobrenome Duchefe é uma alusão à ligação de Dilma com o ex-presidente Lula.
A personagem é encarnada pelo humorista Márvio Lucio, o Carioca, do Pânico, da TV Bandeirantes. Em um dos esquetes, agrediu um garçom que a trouxe um copo d?água. Ao se encontrar com o ex-senador Demóstenes Torres, em frente ao Congresso, rosnou e latiu para o adversário.
Dilminha
A versão mulherzinha da presidente diverte os leitores da revista Piauí com um diário fictício, escrito pelo jornalista Renato Terra. Na paródia, Dilma é apaixonada pelo ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. Na seção, além de cutucar a sua “rival”, a argentina Cristina Kirchner, a presidente lida com dilemas femininos.
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“11 DE NOVEMBRO: Hum, acordei num bad hair day! Não há escova que dê jeito! Dane-se! Vou trabalhar de pijama”, escreve a Dilminha.
Dilma Bolada
O perfil fictício tem mais de 80 mil seguidores no Twitter e 150 mil no Facebook. Brinca com a rotina do Planalto. “Sou linda, sou presidenta, sou Dilma”, descreve a página. É a versão egocêntrica e brincalhona da presidente:
“Mesmo com as altas temperaturas, quem é linda, diva e competente não transpira. Por isso euzinha estou aqui no meu gabinete na 4ª reunião do dia do jeito como cheguei: exalando o perfume das mais lindas rosas vermelhas das manhãs holandesas”, diverte-se o “fake”.