Para uma segunda-feira, o movimento no entorno do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), na região central de Florianópolis, era intenso. Em frente ao prédio, viaturas na Polícia Militar. No interior do tribunal, mais PMs e revista. O aglomerado de engravatados demonstra a popularidade daquele que é tido pela direita como herói da Lava-Jato.
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No interior do auditório Teori Zavascki, no TJSC, as inúmeras fileiras de cadeiras com estofamento de cor vermelha estavam ocupadas por autoridades, políticos e pela imprensa, que esperavam pelo início da fala do Ministro da Justiça, Sergio Moro.
A palestra, prevista para começar às 10h30min, atrasou, tendo início às 11h05min. Moro, que foi longamente aplaudido, é o quinto convidado do Momento Brasil, série de eventos promovidos pela Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert) com personalidades do cenário político nacional.
Moro comparou o trabalho em Brasília à atividade desempenhada anteriormente, na Justiça Federal em Curitiba, ressaltando que há dificuldades e resistências a mudanças.
— Vejo o trabalho de ministro como uma continuidade do que era feito [como juiz]: fazer a coisa certa, do jeito certo, pelos motivos certos. A pretensão de fazer a coisa certa é essencialmente importante àquele que se dedica à vida pública. Agora como ministro o trabalho não é fácil, as dificuldades são imensas. Mudar é difícil, e mudar muitas vezes contrariando interesses é dificultoso – ressaltou.
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O ministro também destacou a importância da Operação Lava Jato no combate à corrupção.
— Temos uma tradição da impunidade e da grande corrupção. A Lava-Jato mudou esse padrão. Pessoas ditas como inimputáveis, pelo poder político ou econômico que detinham, responderam por seus crimes. Não foi fácil, nos últimos cinco anos como juiz, tivemos reveses, momentos de tensão que pensamos 'Será que acabou? Chegamos em nosso limite?'. Mas não desistimos. Confiamos na ideia de fazer a coisa certa — declarou.
Moro relembrou o convite feito pelo então presidente eleito Jair Bolsonaro, afirmando que relutou em aceitar a nova função, mas que tomou a decisão para ampliar o trabalho iniciado em Curitiba.
— De certa forma vejo esse trabalho como ministro como um passo adiante da carreira de magistrado. Confesso que quando foi formalizado o convite por Jair Bolsonaro, haviam muitas razões para não aceitar. Abandonaria uma carreira de juiz, um caminho sem volta, um salto no escuro. Eu mal conhecia o presidente, apesar de muitos afirmarem o contrário. Mas ali estava diante de um desafio de tentar levar esse trabalho que tinha sido feito contra a grande corrupção a um nível maior. Fui até o presidente e a conversa girou em torno desse compromisso — contou.
O ministro afirmou que também assumiu o ministério com a missão de buscar soluções para problemas de segurança pública.
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— No fundo, a única condição e compromisso foi a convergência entre mim e o presidente para consolidar os avanços contra a grande corrupção e avançar contra o crime organizado e a criminalidade violenta. Assumimos com o propósito de que, se nós podemos enfrentar a corrupção, nós podemos fazer algo sólido em relação aos outros problemas que afligem o Brasil. Nós podemos, sim, avançar com políticas públicas consistentes para resolver cada um desses problemas. Essa é a crença que me motivou a aceitar o cargo de ministro. Essa é a tarefa de um país, não de indivíduos específicos — declarou.
Por fim, Moro ainda elencou algumas das políticas adotadas pelo Ministério da Justiça desde que ele assumiu a pasta. Entre as ações, destacou a transferência de detentos ligados a facções criminosas de SP para outras prisões. Citou também o reforço do Coaf e a orientação para que cada Estado crie ou mantenha uma unidade especializada para investigar crimes de corrupção. Explicou ainda a criação de um centro integrado de operações entre as polícias federais e estaduais. Destacou, também, o controle nas fronteiras, ponderando que é impossível o controle completo de todas as fronteiras, na ação contra a entrada de entorpecentes no Brasil.
A agenda de Moro em SC se estende ao longo da tarde, quando terá compromissos com autoridades da PM e do governo do Estado. Além do ex-magistrado, já participaram do evento o presidente da República, Jair Bolsonaro, o vice Hamilton Mourão, o presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia (DEM) e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
O projeto
O Momento Brasil – Conhecer, Contribuir e Agir tem o objetivo de trazer ao Estado personalidades de destaque nacional para debater temas importantes voltados à política e economia, além de mostrar para os convidados e o público presente os conceitos da mídia regional.
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