Áudios das ligações que os bombeiros do Oeste de SC receberam durante o ataque a creche em Saudades, que deixou cinco mortos, mostram os momentos de desespero que os funcionários enfrentaram. O subtenente Lázaro Muller, que atendeu os chamados, relata como foi a mobilização das guarnições ao tomar conhecimento do atentado que chocou Santa Catarina e o país.

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> Ataque a creche em SC: o que já se sabe sobre crime que deixou 5 mortos

Na manhã do dia 4 de maio, terça-feira, o Corpo de Bombeiros recebeu três ligações da Escola Infantil Pró-Infância Aquarela, às 10h02min, 10h06min e 10h09min. Na primeira chamada, é possível ouvir uma funcionária dizendo: “Meu Deus, socorro, tem um maníaco aqui na creche. Tá esfaqueando”. A pessoa que fez o chamado não foi identificada.

Em alguns momentos da ligação, a voz da vítima fica mais baixa e o subtenente precisa tranquilizar a mulher para entender o que estava acontecente. “Calma senhora, calma”, pede o bombeiro. Em seguida, a funcionária fala: “as crianças estão todas feridas”. 

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Ouça o áudio 

O subtenente Muller foi quem atendeu a todos os chamados. Ele conta que a primeira ligação estava ruim, por isso, pediu duas vezes para a mulher repetir o nome da cidade. Como a central que fica em Chapecó atende toda a região, era preciso ter certeza que enviaria as ambulâncias para o local certo.

— A gente tem que estar preparado psicologicamente. Na primeira ligação, no próprio desespero da pessoa, a gente já sabe da gravidade dos fatos. Quem está orientando as guarnições, que é o meu trabalho, tem que ficar muito calmo. Depois que acaba tudo, você pára e pensa: “meu Deus, olha só o que aconteceu” — relata o subtenente. 

Lázaro Muller explica que, assim que atendeu a primeira ligação, além de mobilizar os bombeiros de Saudades, também acionou as guarnições da cidade vizinha, Pinhalzinho, e a Polícia Militar.

Ele conta que quando recebeu as duas ligações seguintes tentou tranquilizar as pessoas que estavam na linha e explicou que as guarnições já estavam a caminho.

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— Quando a gente atende já precisa relatar pras guarnições os tipos de cuidados que eles têm que ter para se proteger. Orientei os soldados do que se tratava, eu disse “olha pessoal tá acontecendo isso e vocês também têm que ter cuidado, precisam estar armados” — conta.

Com 38 anos de profissão, o subtenente Muller conta que já trabalhou por cidades de todo o Estado e atendeu todos os tipos de ocorrências, mas diz que nunca viveu algo como o ataque à creche em Saudades. 

— Eu sempre digo que eu saio de casa pra ir trabalhar e não sei o que vou encontrar pela frente. Tem que estar sempre preparado para o pior. Já atendi várias ocorrências grandes, com bastante repercussão, mas não como essa. Como foi com crianças, isso mexe com a gente, como bombeiro e como ser humano — relata.

O ataque

O jovem de 18 anos invadiu a creche Infantil Pró-Infância Aquarela na manhã do dia 4 de maio. Armado com uma espada, ele desferiu golpes contra uma professora e uma agente educacional. Quatro crianças também foram feridas pelo homem. Três delas morreram.

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Os corpos das cinco vítimas foram enterrados na quarta-feira no Cemitério Municipal de Saudades.

O único sobrevivente é um bebê de 1 ano e 8 meses. Ele foi transferido na quarta para o Hospital da Criança, em Chapecó. Segundo boletim médico divulgado nesta quinta-feira (6), a criança tem estado de saúde estável.

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