Informações de credenciais acadêmicas falsas ameaçam a carreira do presidente do Yahoo, Scott Thompson. Da mesma forma, o ex-presidente da Hungria Pál Schmitt precisou renunciar ao cargo após ser acusado de plagiar sua tese de doutorado. Esses dois exemplos, divulgados recentemente pela imprensa mundial, dão a dimensão de como mentiras contidas em um currículo podem manchar a vida profissional de uma pessoa.
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Na ânsia de corresponder ao perfil exigido para preencher uma vaga, alguns candidatos acrescentam, omitem ou exageram sobre suas habilidades técnicas e comportamentais. Essas inverdades costumam ser desmascaradas pelos recrutadores, mas causam má impressão e geralmente resultam na desclassificação do processo seletivo.
De acordo com Leandro Vieira, diretor-executivo da Administradores.com, a maioria das maquiagens de currículo no momento da entrevista ou por meio de checagens simples. Uma conversação em inglês, por exemplo, já é o suficiente para verificar a fluência no idioma. O mesmo vale para outros dados: basta um questionamento mais aprofundado ou uma confirmação das referências com as instituições de ensino.
– Além disso, uma breve busca na internet e nas principais redes sociais virtuais já é o suficiente para verificar se as informações contidas no currículo são reais. Sem contar que revelam muito da personalidade e da vida pessoal do candidato – salienta Vieira.
Tentar enganar o recrutador
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pode fechar várias portas
Fora o fato de perder a oportunidade de trabalho ou de promoção, o profissional que tenta enganar o selecionador pode sofrer um desgaste na sua imagem frente ao mercado de trabalho, adverte Henrique Maia Veloso, administrador de empresas com ênfase em recursos humanos e autor do livro Estresse Ocupacional.
– Uma atitude como essa pode significar a perda de oportunidades e fechar mais de uma porta. As empresas se comunicam entre si para checar informações e até encaminhar pessoal – adverte Veloso.
Nem toda a inverdade incluída no currículo, entretanto, se configura um ato de má-fé, avalia Cesar Rego, gerente regional sul da Hays Recruiting Experts Worldwide:
– Existem, sim, certos exageros no que é descrito pelo candidato. Muitas vezes, pelo fato de ele próprio não fazer uma reflexão sobre a sua carreira e sobre suas competências. A pessoa realmente acredita que tem aquela habilidade ou inglês fluente. Cabe ao recrutador avaliar isso na entrevista.
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O que diz a lei
A mentira no currículo pode ter duas implicações legais, explica o juiz Eduardo Duarte Elyseu, da 1ª Vara do Trabalho de Porto Alegre. No âmbito da relação trabalhista, caracteriza a hipótese da dispensa por justa causa – quando se comprova o ato de má-fé contra o patrimônio do empregador, de fraude com o intuito de obter um proveito próprio.
– É uma falta grave, que quebra a confiança necessária para a manutenção do vínculo de emprego. Além disso, o profissional que mentiu prejudica também os outros candidatos que disputavam essa vaga, no caso em que a inverdade atestada ser requisito para o exercício da função – explica o juiz.
Na questão criminal, afirma o magistrado, o ato poderia ser enquadrado como crime de falsidade ideológica ou como “uso de documento falso”.
– Dada a frequência que isso tem ocorrido, existe um projeto de lei do deputado Carlos Bezerra, de 2009, que classifica como crime falsificar ou alterar o teor do currículo.
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Principais mentiras
Formação acadêmica – Incluir cursos que não foram concluídos ou sequer realizados. Há casos até de diplomas falsos, por isso algumas empresas exigem os certificados.
Idioma estrangeiro – Quando o candidato tem conhecimento básico e diz ser avançado, por exemplo. É uma das mais comuns e mais fáceis de serem desmascaradas. Muitas empresas fazem perguntas no idioma em que o candidato alega ter
fluência.
Experiência – O candidato diz ter atuado em uma área que não conhece.
Acréscimo de atribuições no cargo anterior – Dizer que fez parte de projetos nos quais não se envolveu e incluir funções que jamais foram desempenhadas. Há também candidatos que dizem ter desenvolvido sozinhos um projeto que, na verdade, foi realizado em grupo.
Supervalorização de cargos e funções – Para demonstrar experiência ou pleitear salário mais alto, o candidato troca o “estagiário” por “assistente” no currículo, por exemplo.
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Salário anterior – Alguns alegam que o salário anterior era mais alto – para tentar aumentar a renda – e outros dizem ter sido mais baixo – por medo de o futuro empregador não cobrir a oferta.
Maior tempo de permanência na antiga empresa – Por receio de causar a impressão de ser o tipo de profissional que não para nas empresas, o candidato mente que permaneceu por mais tempo.
Curso de informática – Dizer que domina determinadas ferramentas quando detém apenas conhecimento básico.
Garantia de mobilidade e flexibilidade – Dizer que tem disponibilidade para viajar ou mudar de cidade, por exemplo.
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Endereço – Alguns candidatos avaliam que a proximidade com a empresa facilitará a contratação, ou sentem vergonha de morar em bairros mais humildes.
Estado civil – Para determinados cargos que exigem maior mobilidade, o profissional solteiro pode ter preferência. Em outros casos, os casados podem ter preferência por, teoricamente, terem tendência de assumir um compromisso maior com o trabalho.
Idade – Determinadas funções pressupõem que profissionais mais velhos ou mais jovens sejam mais adequados ao cargo.
Motivo de desligamento – Por medo de causar má impressão, alguns profissionais escondem que foram demitidos do emprego anterior.
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Datas de entrada e saída de empregos – Para não parecer que estão há muito tempo desempregado, alguns candidatos esticam o tempo de permanência no trabalho anterior.
Trabalho voluntário – Sabendo que as empresas valorizam o voluntariado, há quem invente ter se envolvido em projetos sociais.
Experiência no Exterior – Com o mercado de trabalho cada vez mais globalizado, alguns candidatos dizem ter feito um intercâmbio ou trabalhado em empresas fora do país.
Fontes: Leandro Vieira, diretor-executivo da Administradores.com, Henrique Maia Veloso, administrador de empresas com ênfase em Recursos Humanos, Cesar Rego, gerente regional sul da Hays Recruiting Experts Worldwide e Eduardo Duarte Elyseu, juiz da 1ª Vara do Trabalho de Porto Alegre
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