Ele tem nome de piloto de corrida de carro, adora o esporte, mas na pista fica mesmo no local destinado aos fotógrafos. Quem poderia imaginar que esse bisneto de fotógrafo, que brincava às margens do rio Cachoeira usando frutinhas de uma árvore como munição da xiloida, iria se tornar Ingo Hofmann, um trabalhador da indústria e fotógrafo de plantão?

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Ingo tem 60 anos, é casado, tem três filhos e é avô. Ele mora no mesmo lugar onde nasceu, no bairro América, e vê as mudanças na natureza da cidade como ninguém.

– Quando eu era moleque, não existiam esses prédios em volta de casa, não existiam muros entre as casas. Era tudo mais plano e quando dava cheia a água nunca chegava dentro da minha casa. Nessa última cheia, a água entrou em casa -, conta ele, que se assusta com o rumo que a natureza está tomando e com os desastres naturais dos últimos anos.

Ter o mesmo nome do maior campeão da Stockar Car deu a Ingo muitas histórias engraçadas para contar. Em 1971, ele foi trabalhar em Curitiba e, nessa mesma época, o corredor participava de provas em Curitiba, dentro de um Fusca. Os amigos e colegas de Joinville tinham certeza de que era o Ingo daqui que estava aprontando a façanha.

– Eles acreditavam que era eu mesmo. Viam as notícias e tinham certeza de que era eu que estava correndo -, diz ele, que só chegou a pilotar carrinhos de rolimã, como ele mesmo diz.

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O técnico metalúrgico estudou na Escola Técnica Tupy e hoje trabalha na empresa de mesmo nome. A paixão pela fotografia começou ainda na adolescência, quando ele ganhou uma câmera fotográfica Kodak Rio 400, aos 15 anos.

Dois anos depois, em 1968, ele fotografou uma corrida de carro pelas ruas de Joinville, em comemoração ao aniversário da cidade.

– Eles largaram da frente do Ginásio Ivan Rodrigues, desceram a rua, pegaram à esquerda na Campos Sales e entraram na rua 15. Ali era o ponto alto da competição com as curvas naturais da estrada. Foi incrível, mas uma pena que resultou em quatro mortes -, conta ele, que foi quem tirou as fotos históricas da época.

Durante muito tempo, Ingo continuou fotografando corridas, mas depois vieram o casamento, o trabalho e os filhos, e ele largou o hobby. Não tinha mais tempo nem disposição para viajar atrás dos campeonatos e passou a vida a trabalhar e gastar o tempo livre em casa.

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Até que em 2001 ou 2002 – “não lembro a data e é uma coisa que nem quero lembrar mesmo” – Ingo sofreu um derrame e ficou 15 dias sem conseguir comandar o próprio corpo.

– Foi terrível porque minha cabeça estava perfeita, pensando a mil, e o corpo não obedecia. Eu me sentia como aquelas marionetes. Foi um período muito difícil -, lembra ele, ainda com a expressão de sofrimento no rosto.

Mas a fase ruim passou e 40 dias depois Ingo já estava de volta ao trabalho. Depois do derrame, um amigo de Ingo o convenceu a passear mais e ele voltou a fotografar corridas.

– Ele disse: ?Chega desse negócio de Tupy-casa-casa-Tupy?. Aí me levou para São Bento do Sul em uma corrida e foi como se eu tivesse sido recontaminado pela emoção que sentia ao estar nesses lugares. Os sentimentos voltaram e eu não consegui mais largar.

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Com a cidade, esse joinvilense de coração e de nascimento tem uma relação muito próxima e cheia de informação. Ele é como um livro de histórias da época de ouro de Joinville, quando se podia ir até o Bar Sopp, que ficava na rua João Colin esquina com a Mário Lobo, onde agora é a Caixa Econômica, despreocupado.

– Você bebia, conversava e voltava para casa a pé, esquecia a bicicleta encostada na parede do bar. Mas não tinha problema, era só voltar para buscar no domingo de manhã que ainda estava lá -, lembra Ingo.