Foi com a aviação que Armando Reimer, 70 anos, conheceu praticamente todas as capitais do Brasil. Piloto entre as décadas de 60 e 70, quando a pista do aeroporto de Joinville era de saibro e capim, ele colecionou boas histórias para contar, algumas até foram parar em páginas de anotações encadernadas.
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Mas foi por trilhos, em terra firme, que ele encontrou a sua verdadeira paixão. Hoje, o ferromodelismo tem mais espaço em sua casa do que as lembranças dos tempos de voo.
Em um cômodo no térreo da casa de Armando é preciso se abaixar para avançar a porta, porque ali passa um minitrilho fixo de trem que percorre toda a extensão da sala. É praticamente um santuário da ferrovia brasileira e internacional. As peças em pequena escala são confeccionadas pelo próprio aposentado, que vive com a esposa Anelore no bairro Anita Garibaldi. E não foi preciso cursos para que ele desenvolvesse a habilidade quando ainda tinha seus 20 anos.
– É fácil para quem se dedica -, explica, como se fosse a função mais simples do mundo.
– É só olhar os modelos, vem tudo explicado.
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Armando aprendeu a arte do modelismo se baseando em passos a passos de revistas e livros especializados e em imagens de enciclopédias. Usando latão e ferramentas simples, que ele foi colecionando em quase cinco décadas de dedicação ao hobby, o ferromodelista faz exemplares raros no País, alguns que até chegaram a circular em Joinville, e outros tantos que estão a pleno vapor na Europa.
São 200 horas de trabalho e dedicação em 700 pequenas partes que formam uma réplica perfeita de uma locomotiva a vapor completa, inclusive com vagões. O exemplar recebe um pequeno motor para se mover sobre os trilhos e pintura.
– Às vezes perco a hora nisso -, diz Armando, que tem cerca de 50 peças em casa, outras foram dadas de presente a amigos, já que o aposentado dificilmente as vende.
– Nem sei como dar um preço para um trabalho desses -, comenta.
No reduto, montado com minicenários de estação ferroviária e passageiros, apenas os gatos de estimação e outros apaixonados pelo hobby são bem-vindos. A mulher Anelore passa longe. É tanto cuidado com as peças, que Armando mesmo se encarrega da organização do espaço.
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Os três filhos não foram conquistados pelo ofício e nem os netos.
– Eles só querem saber do computador -, decepciona-se.
Em Joinville, Armando conta nos dedos os amigos que têm gosto em comum e se preocupa com o fim que será dado aos pequenos trens quando morrer. Ele até levou alguns exemplares a um museu com o intuito de doá-los, mas não foi recebido com a mesma disposição.
Apesar de acreditar que seu trabalho pode não durar muitos anos, em alguns momentos ele percebe o quanto a atividade ainda tem valor. Recentemente, ele participou do 3º Encontro de Ferromodelismo, realizado em Curitiba. Junto com um grupo de amigos, ele levou vários prêmios nas categorias locomotiva, vagão e litorina.