O Festival de Música de Santa Catarina (Femusc) chega, neste domingo, à décima edição com um dado curioso: pela primeira vez, o número de participantes estrangeiros supera o de brasileiros. Dos 500 músicos inscritos, 256 desembarcam em Jaraguá do Sul com passaporte. Além de ser um atestado da qualidade curricular do festival-escola, a vinda de colombianos, argentinos, chilenos, peruanos, mexicanos, paraguaios e representantes de outros 15 países é incentivada pelos talentos que já passaram pelo Femusc e que hoje se destacam de alguma forma no universo dos sons.

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O Femusc pode ser uma porta para convites, seja bolsas de estudo, informação sobre audições e até ofertas de emprego. Se o participante for atento, bons conselhos podem ser absorvidos durante as aulas, sempre ministradas por professores com larga experiência. São essas oportunidades extras que ajudaram, por exemplo, o baiano Abner Silva a entrar para a Orquestra do Teatro Colón e a motivar o catarinense Carlos Eggert a ser um multiplicador do ensino da música na região.

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Sorte do público, que pode acompanhar, em primeira mão, muitos dos talentos que em breve estarão nas orquestras dos principais teatros do mundo. As oportunidades não são poucas: mais de 200 apresentações gratuitas serão oferecidas em Jaraguá do Sul e nas cidades vizinhas (Timbó, Barra Velha, Pomerode, Guaramirim e Joinville) até 31 de janeiro.

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Fagotista no Teatro Colón

O baiano Abner Silva (foto acima), 21 anos, passou por cinco edições do Femusc e soube tirar delas grandes oportunidades. Uma, em especial, o deixa mais próximo do reconhecimento internacional. Atualmente, ele faz parte da Orquestra Estável do Teatro Colón, de Buenos Aires, graças a um valiosa ajuda durante o festival-escola do ano passado.

– Em 2014, tive um empurrão vindo de uma professora pela qual tenho enorme carinho, a Catherine Larsen Maguire, fagotista e maestrina. Essa pessoa incrível me ajudou a preparar uma audição internacional, na Orquestra Estável do Teatro Colón.

Quando começou a participar do festival, em 2010, Abner ainda era um adolescente e fazia aulas de fagote havia três anos. A primeira experiência no evento foi como integrante do Projeto Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba), de Salvador.

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– Foi neste festival que eu despertei a vontade de conhecer mais outros povos e culturas.

Um ano depois de se integrar com músicos do mundo todo em Jaraguá do Sul, o fagotista foi estudar na Argentina e depois na Suíça.

– No Femusc, tenho tido a oportunidade de conhecer professores reconhecidos e tocar com alunos incríveis, mas o que mais me fascina é poder conhecer pessoas de distintos países.

Estudos e carreira nos EUA

Se hoje Anna Murakawa, 24 anos, cursa doutorado em violino, dá aulas e toca na Lubbock Symphony, no Texas, Estados Unidos, foi porque ela, além de talento, teve bons conselheiros ao longo de seu amadurecimento artístico. Alguns deles, a paulista encontrou no Femusc nas duas edição em que participou, em 2008 e 2011.

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– O Femusc foi uma peça chave para a minha carreira. Sempre confiei muito nas opiniões artísticas de Alex Klein e do professor Richard Young, dois grandes mentores. Em 2011, fui convidada a integrar a classe do professor Andrés Cardenes (também docente do evento) na Carnegie Mellon University, em Pittsburgh (EUA), devido ao contato com ele no festival.

Antes mesmo de surgir o convite para Carnegie, Anna já havia sido incentivada pelos professores do festival a embarcar para a Bulgária e estudar na Academia Nacional de Música Pancho Vladigerov. Depois do empurrão, ela voou ainda mais alto: concluiu mestrado na Universidade de Louisville, em Kentucky (EUA), onde foi professora assistente e spalla da orquestra acadêmica. Agora, com o doutorado em andamento, Anna só guarda boas lembranças das experiências em Jaraguá.

Ajuda na escolha profissional

A primeira edição do Femusc, em 2006, foi determinante para a escolha profissional de Dora Utermöhl de Queiroz, de 27 anos. A gaúcha de Getúlio Vargas, na época com 17 anos, havia se mudado para Erechim em busca de um professor que a ensinasse a tocar violoncelo, instrumento pelo qual se apaixonou, mas foi no evento catarinense que ela decidiu tratar a música como profissão.

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– Na época, eu tinha apenas um ano de violoncelo e utilizava um exemplar bem fora dos padrões, feito por um agricultor de origem italiana, que morava no interior de Erechim. Tive a oportunidade de ter aulas com grandes professores da Alemanha e EUA, e ainda um dos professores me deixou tocar um pouquinho em seu ótimo violoncelo. Assim, pude saber como era tocar em um superinstrumento.

Depois da estreia no Femusc, Dora entrou no bacharelado em violoncelo, voltando em outras quatro edições do festival. Atualmente, ela cursa mestrado em música contemporânea na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e é uma das professoras selecionadas no concurso da Universidade Federal do Ceará.

De aluno a regente de banda

Carlos Eggert, 31 anos, não se importa em voltar a ser aluno durante duas semanas ao ano. É na cidade vizinha onde reside que o trompetista e professor se reencontra com os estudos e renova as energias profissionais. Na décima edição do Femusc, não poderia ser diferente. O catarinense é novamente um dos inscritos do programa avançado.

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Carlos não está só. Incentivados por ele, outros três alunos de Schroeder também irão se juntar aos 63 músicos selecionados da região Sul. É este espírito que Carlos adotou depois de oito participações no festival e hoje multiplica com a Banda Municipal de Schroeder, da qual é regente:

– No Femusc, há troca de experiência de todas as formas, entre aluno e aluno, não só professor e aluno. Sinto que ainda somos carentes desta busca por excelência na região, e o Femusc incentiva a procura constante por conhecimento.

Carlos, que já foi destaque em solos do Femusc por duas vezes, aproximou-se da música a partir da participação em bandas na escola, aos nove anos. Com 14 anos, foi convidado a substituir um professor de música. Foi aí que ele percebeu que era chegada a hora de sair do ninho em busca de profissionalização. Fez teste para a Escola de Música e Belas-artes do Paraná e hoje tem o Femusc como “férias” obrigatórias para renovação de conhecimento.

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