Artistas e moradores de Florianópolis que confraternizavam na Rua Victor Meirelles, no Centro, reclamam de uma ação da Polícia Militar de Santa Catarina (PM) na noite de domingo (20). O caso aconteceu pouco depois do show da banda Francisco El Hombre. Depois do encerramento da apresentação, por volta das 21h30, cerca de 200 pessoas permaneceram na via, boa parte delas dentro de um bar.
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Segundo testemunhas, por volta da meia-noite, a PM foi ao local após reclamações de moradores da região e solicitou que o bar fechasse as portas — o que, conforme relatos, foi feito. Menos de uma hora depois, ao menos 20 policiais voltaram ao local e teriam agido com violência para dispersar aqueles que permaneciam na rua.
— A polícia chegou e ficou do lado, até que de repente eles começaram a usar spray de pimenta, cassetete e bala de borracha sem qualquer razão aparente. Fomos até a viatura perguntar por que aquilo estava acontecendo e quem era o responsável, quando um dos policiais se destacou, disse que ele havia dado a ordem, e atirou na minha barriga à queima-roupa — relata Neimar Machado, 35 anos, que toca banjo e é vocalista da banda gaúcha "Cartas na Rua".
Procurada pela reportagem, a PM afirma que agiu de acordo com as circunstâncias e que o "uso progressivo da força foi necessário em razão do não acatamento das ordens e pelas agressões sofridas pela guarnição". Atual comandante do 4º BPM da Capital, major Serafin afirma que a primeira guarnição foi recebida com garrafas e copos. Esse fato é negado pelos frequentadores do bar.
Ainda de acordo com Neimar, durante a ação, um dos policiais gritou "aqui é Bolsonaro". O ator e comunicador Igor Lima, 38, também estava no local e conta que, após serem dispersados de forma truculenta, ainda foram perseguidos pelas ruas do Centro.
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— A maioria dispersou, mas o curioso é que, depois, eles (PMs) ainda saíram pelas ruas caçando o pessoal e atirando com bala de borracha. A gente sabe que é um momento que eles tão se crescendo, querendo intimidar. Uma amiga minha saiu bem machucada. Passamos a madruga no hospital porque ela teve uma luxação no dedo e cortou queixo — afirma Igor.
A mulher em questão é uma cineasta da cidade. Nas redes sociais, uma amiga dela, Cíntia Bittar, escreveu um relato sobre o que viu. Na manhã desta segunda, ela disse ter encontrado um dos projéteis que teria sido disparado pela PM.
— Quando olhei pro lado vi uma cortina de gás de pimenta e fui falar com um dos PMs na boa, falando que era pra relaxar, que o pessoal já tava dispersando mesmo e que não tinha necessidade de gás, nada disso. Ele respondeu "não tem necessidade de estar aqui na rua fazendo barulho também". Nisso eu escutei um tiro e quando vi tava rolando bala de borracha ali, no meio da galera — relata.
PM diz que fez "uso progressivo da força"
O major Serafin disse que não estava no local no momento da ação, mas diz que a PM tem o áudio da guarnição "desesperadamente pedindo apoio". A reportagem solicitou o áudio, mas não recebeu até a publicação desta matéria.
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— Depois disso, outras seis viaturas foram até o local para conter o tumulto. Houve necessidade do uso de spray de pimenta para evitar agressões múltiplas. Um homem tentou atropelar dois policiais, então esses policiais reagiram com disparo de bala de borracha. Sobre os relatos da situação, com certeza (os frequentadores) vão reclamar do excesso, assim como os PMs reclamaram da maneira como foram recebidos — encerra o major Serafin.
A PM destaca que aqueles que se sentiram lesados poderão fazer denúncia à corregedoria da corporação.