A morte do artista visual bageense Glenio Bianchetti causou comoção entre os colegas do meio artístico gaúcho. O artista, considerado um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira, era referência da gravura nacional e um dos remanescentes do Grupo de Bagé. Confira alguns depoimentos:

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Eduardo Vieira da Cunha, artista visual

“Ele teve uma importância muito grande para a geração posterior de professores e alunos do Instituto de Artes, ali nas décadas de 1960 e 1970. Era dedicado à causa, à cultura e à arte visual. Além disso, teve o Clube de Gravura de Bagé. Ele é, sem dúvida, uma referência para todos nós. Muitos professores que eu tive se referiam ao Biachetti como uma exemplo de artista. Mesmo com sua ida para Brasília, lugar em que teve papel fundamental, ele não perdeu o vínculo afetivo com Porto Alegre. Sempre falou da cidade com muito carinho.”

Luis Fernando Verissimo, escritor e colunista de ZH

“É uma pena. Fiquei muito triste com a notícia. Tivemos pouco contato depois que foi para Brasília. Cheguei a estudar com ele [Verissimo foi aluno de desenho de Glenio].”

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Luiz Antonio de Assis Brasil, secretário estadual de Cultura e escritor

“Glenio tinha um papel seminal na medida em que o Grupo de Bagé constituiu talvez o primeiro movimento artístico nas artes plásticas no Estado, formado como uma unidade de propostas estéticas. Ele sempre se manteve fiel ao Rio Grande do Sul, embora tenha se mudado daqui. Foi um dos grandes divulgadores da cultura do Estado com o seu trabalho, que, ao longo do tempo, sofreu algumas mutações. A grande marca dele era a abordagem da vida do campo. Do ponto de vista da cultura gaúcha, foi um dos mais expressivos artistas.”

Danúbio Gonçalves, artista que integrou o Clube de Bagé

“Ele foi um grande companheiro, um grande artista, muito capacitado. Embora tenha morado boa parte da vida em Brasília, sempre foi ligado à arte gaúcha. Fomos muito amigos e agora ele me deixa como único ainda vivo do pessoal dos Clubes de Gravura.”

Maria Tomaselli, artista visual

“Glenio foi embora de Porto Alegre nos anos 60, antes de eu chegar, então não convivi com ele. Para mim, foi um mito por causa da gravura. Foi ele que colaborou com o Clube de Gravura de Bagé para que a gravura ficasse tão forte no RS. Também é o fundador do Clube de Gravura de Porto Alegre. A partir daí, a gravura ganhou muita força no Estado. Tanto que comecei a fazer gravura aqui. Eu pintava também, mas se falava mais em gravura no meio artistico, tanto que acabei aderindo. Na minha opinião, a gravura de Glenio é mais forte, prefiro mais do que sua pintura. Aprendi também com o Clube de Bagé que em grupo nós somos mais fortes, fazemos um intercâmbio maior de ideias.”

Gaudêncio Fidélis, diretor do MARGS

“O papel da obra do Glenio Bianchetti é fundamental para o estabelecimento de uma tradição moderna para a produção do Rio Grande do Sul, com sua convicção de um pintor que não obedecia os dogmas daquela tradição. Isso sem falarmos na sua contribuição ao Grupo de Bagé do qual foi um dos fundadores. Suas gravuras e pinturas são representativas de um período de originalidade na produção local que com certeza irá permanecer no imaginário de conheceu sua obra em um período de rompimentos do qual ele participou ativamente. O MARGS possui em seu acervo 11 obras representativas dos diversos períodos da obra do artista e temos certeza que sua ausência será sentida pela comunidade artística.”

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Zorávia Bettiol, artista visual

“Glenio foi meu colega no Instituto de Artes aqui do RS, em ano de 1955. Foi o ano que me formei, inclusive. Ele já era um artista conhecido, só entrou no curso para se regularizar. Depois o reencontrei em Brasília. Tenho acompanhado as obras dele. É uma pessoa que lutou bastante para conseguir a sua expressão pessoal. Ele, com o Danúbio, o Glauco e o Scliar, foi muito importante na área da gravura. Esse quarteto formou o Clube de Bagé. É uma perda lastimável. Deixou uma grande obra para nós. Ele criou não tanto na gravura, mas na pintura. Tinha uma estilização muito própria, traços que eram só dele. Mais na forma do que nas cores.”

Vitório Gheno, artista visual

“Conhecia bastante o Glenio e todo o grupo de Bagé, que foi um quarteto excepcional para arte do RS. O que eles representaram aqui no Estado foi de multa expressão pictórica. Na última vez que falei com Glenio, conversamos sobre diversas coisas da arte brasileira. Ele estava ensinado arte com bastante conhecimento. Sempre foi um estudioso muito positivista. Tem uma pintura pessoal, forte. Tinha ótimo um clima pictórico, era um clima de alongar pinturas. Gostava muito de pintar figuras em ação.”

Neiva Bohns, pesquisadora e professora do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas

“(a morte de Glenio) Representa uma perda muito grande para todos que se interessam por certos aspectos da arte brasileira, que dizem respeito ao registro de situações da vida cotidiana. O Glênio participou, na década de 1950, do movimento dos gravuristas gaúchos que foram pioneiros na associação entre procedimentos de arte moderna e temáticas que tratavam da realidade da vida dos trabalhadores do campo. Estes artistas queriam fazer arte da mais alta qualidade, mas também queriam ampliar o acesso à produção artística por parte da população. Por essa razão optaram pela técnica da gravura, que permitia a tiragem em série e podia ser distribuída amplamente a preços muito baixos. Este grupo de gravura, que atuou em Bagé e em Porto Alegre, foi precursor, no Brasil, do trabalho artístico com preocupações políticas e sociais.”

>> Leia entrevista com o artista plástico Glenio Bianchetti

Veja galeria de imagens de Glenio Bianchetti e suas obras: