Gilberto Gil musicou o Sítio do Picapau Amarelo. Chico Buarque imortalizou Os Saltimbancos. A parceria de Toquinho e Vinícius de Moraes originou dezenas de pérolas, como O Pato e A Arca de Noé. As décadas de 1970 e 1980 foram a era de ouro da boa música infantil.
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Após um longo hiato, há muito não se via tantos artistas brasileiros consagrados retornando ao tema. De Adriana Calcanhotto, com seu Partimpim, passando por Pato Fu, com Música de Brinquedo, até Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra e companhia, com Pequeno Cidadão. Recentemente, foi a vez dos gaúchos Kleiton & Kledir, com Par ou Ímpar. Em comum, o fato de fazerem música para os pequenos – porém, nem um pouco infantilizada.
– Essa nova geração de artistas compõe para baixinhos inteligentes – declarou recentemente o produtor Nelson Motta.
A música acompanha o ser humano por toda a vida, e é na infância que ela vai começar a sua significação. Com vários papéis, ela está ligada ao desenvolvimento da linguagem, da cognição e da sociabilidade. Ela também influencia no modo como a criança vai lidar com a afetividade, alimenta vínculos interpessoais, constrói sentimentos e estimula descobertas importantes, entre outros benefícios. Sua importância é tal que pesquisas apontam que bebês apreciam música dentro do útero, reagindo a estímulos sonoros.
– Notoriamente, há um reflexo da mídia e da internet nessa tendência. As crianças estão recebendo cada vez mais informações, de todos os lados, e a nova geração de músicos está atenta a enfoques mais atuais – afirma a professora de pedagogia da Feevale Denise Arina Francisco.
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Denise lembra que, apesar da roupagem moderna das canções criadas para o público mirim, a essência lúdica continua:
– O mundo infantil permanece com suas brincadeiras, seus personagens, ídolos e heróis. Sem isso, não há infância, nem na literatura, nem no cinema, nem na música.
A melodia, muitas vezes, é o que mais importa e agrada, desde a criançada até os pais.
– A riqueza da música feita para crianças é encantadora. Hoje, fugimos daquele tradicionalismo, de ter só piano e violão. Explorar os múltiplos instrumentos e despertar para esse universo musical é benéfico em vários aspectos, até para a relação entre pais e filhos. Acredito que muitos dos novos intérpretes fazem música pensando não só nas crianças, mas também nos pais – destaca a professora de música Suzana Vasconcelos.
Com o recém lançado Par ou Ímpar, a dupla Kleiton & Kledir (na foto que ilustra essa reportagem) concretizou um sonho antigo: tocar para crianças. Nesta entrevista ao Meu Filho, eles revelam a alegria que foi embarcar no mundo infantil.
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Zero Hora – Qual é a inspiração para compor para esse público?
Kledir – O desafio foi fazer canções para uma garotada que vive em apartamento e brinca com videogame. Esse é um disco para crianças de hoje, não é uma volta ao passado, mas não queríamos falar de PlayStation, pois pode ser uma moda passageira. Acabamos descobrindo que certos assuntos e brincadeiras são clássicos, ficam pra sempre. Como é o caso do Par ou Ímpar. E isso deu uma direção para o trabalho. A vontade é fazer muita coisa a partir desse disco. Já estamos montando o show de lançamento e pensando em gravar um DVD.
Kleiton – O mundo infantil é mágico, muitas vezes surrealista. Não é fácil compor para crianças, como muita gente pensa. O Dorival Caymmi dizia que a música que ele queria ter composto era Ciranda Cirandinha. Um dos maiores compositores brasileiros sabia que não era tarefa fácil fazer o “simples”. Nossa busca foi nessa direção. Música com conteúdo, mas sem intelectualizar. Falando o mais próximo possível da linguagem das crianças.
ZH – Há uma mensagem a ser passada ou é só diversão?
Kleiton – As duas coisas. Algumas letras têm histórias deliciosas que vão envolvendo a criança em sua narrativa. Em outros momentos, algumas expressões diferentes, sons originais de instrumentos esquisitos, vozes de crianças pequenas, vocais de todo tipo, violinos, vozes de bichos conduzem quem ouve a um mundo lúdico divertido, mas sem cair no lugar-comum. Por outro lado, isso tudo foi gravado com muito rigor, o mesmo que sempre tivemos com todos os nossos discos não infantis. Ou seja: diversão sim, informação também, mas tudo feito com muito esmero.
Nova safra
:: Música de Brinquedo (2010) – Pato Fu
– No disco, a banda mineira apresenta canções tocadas com instrumentos de brinquedo ou com brinquedos musicais, e crianças fazem o coro. As canções reproduzem à risca os arranjos originais de temas conhecidos nas vozes de Rita Lee, Roberto Carlos, Paul McCartney, Tim Maia, Elvis Presley, Temptations, Amelinha, Ritchie, Titãs, Paralamas do Sucesso e B.J. Thomas.
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:: Partimpim (2004) e Partimpim 2 (2009) – Adriana Calcanhotto
– Com letras inteligentes, os álbuns tiveram uma ótima aceitação pelo público – o primeiro disco vendeu mais de 100 mil cópias. Traz a conhecida versão Fico Assim Sem Você, do repertório de Claudinho e Buchecha.
:: Par ou Ímpar (2011) – Kleiton & Kledir
– O novo trabalho da dupla gaúcha radicada no Rio de Janeiro traz músicas do universo infantil tocadas com vuvuzelas, assovios, estalos de língua e celopentes (mistura de pente com papel celofane). Nas letras, show de magia (O Mágico Estrambólico), implicâncias com as manias do sexo oposto (Trova do Guri e da Guria), piada com os próprios gases (Planeta Poft) e encantamento com um bichinho de estimação (O Cão Salsicha).
:: Pequeno Cidadão (2010) – Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra (ex-Ira!), Taciana Barros (ex-Gang 90) e Antonio Pinto
– Formado pelo quarteto em parceria com suas crianças, o grupo Pequeno Cidadão apresenta repertório de canções infantis cuja inspiração vem dos próprios filhos, da experiência como pais e também das lembranças de infância. Mescla rock, psicodelia e forró em músicas que abordam temas comuns como amor, a hora de largar a chupeta, futebol e animais.
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:: Grandes Pequeninos (2009) – Jair Oliveira
– Um dos integrantes do Balão Mágico, Jair Oliveira, o “Jairzinho”, lançou esse livro/CD inspirado pelo nascimento de Isabela, sua filha com a atriz Tânia Khalill.