Até o dia 5 de dezembro, segue aberta para visitação a mostra de desenhos Cartas de Amor, do artista plástico Sergio Lopes, aberta na última segunda-feira na Helena Fretta Galeria de Arte.

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Devassar a intimidade e transportar o conceito de exposição para aquilo que de mais pessoal e intransferível existe: relações amorosas e suas contingências, encontros, desenlaces e separações. A proposta de Cartas de Amor não é apenas um desafio criativo, mas uma entrega que ultrapassa a exigência artística para reaver, no ato da mostra, um pedaço da vida afetiva do autor.

A partir de textos escritos em diversas etapas de relacionamentos amorosos, Sergio Lopes imaginou desenhos que contassem histórias cujas leituras pudessem se multiplicar – sobretudo, histórias verdadeiras, ao mesmo tempo íntimas e tocantes a todos.

Nos quadros, figuras de deuses, infantes, animais, máscaras, adereços e imagens publicitárias aparecem para tornar pública essa experiência do amor.

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As obras foram desenhadas em papel francês, com lápis crayon, caneta, tinta de tinteiro e algumas colagens.

O teto e as paredes da galeria também foram pensados para dialogar com os quadros. Logo na entrada da exposição, um aparador de madeira, soterrado por envelopes, folhas soltas e pautas de cadernos musicais, anuncia a metáfora da confusão amorosa: excesso, desvio, transbordamento.

Essa é a terceira edição da série Cartas de Amor, a primeira em Florianópolis. O conjunto de obras é diferente da última mostra, realizada em Caxias do Sul, cidade natal do artista, em setembro. Isso porque os desenhos expostos ficam à venda e, na próxima etapa, precisam ser repostos.

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Antes de Cartas de Amor, Lopes, que também é estilista, havia passado pela Capital catarinense com outros de seus trabalhos – a maior parte, pinturas – mas essa é a primeira vez que usa as próprias cartas como ponto de partida para criar. Escrever, aliás, pode ser o procedimento que estende a linguagem para além da duração do encontro amoroso – como ressalva uma pequena pintura na parede da galeria: cartas – nem sempre – de amor.

ENTREVISTA

Sergio Lopes, Artista plástico

DC – Por que essa escolha pelas cartas de amor?

Sérgio Lopes – Acho que, quando se conta alguma coisa, também pode ser por cartas. E creio que as cartas mais bacanas são as de amor. Cheguei à conclusão de que eu nunca tinha escrito cartas de amor de começo, mas sempre cartas de fim. Acho que elas são mais verdadeiras, porque as cartas de início querem mostrar o lado bonito, querendo conquistar. E as cartas de amor, quando se termina, são para justificar, pedir desculpas, saber alguma coisa, fazer perguntas. São muito verdadeiras. Talvez alguns escamoteiem alguma coisa, mas, as minhas, pelo menos, foram muito francas.

DC – E como foi possível desenhar e expor essas cartas?

Sérgio Lopes – Isso tudo vem sendo rascunhado há muito tempo. Resolvi pegar todo o trabalho que eu tinha, de cartas e e-mails, e trazer isso para uma escrita diferente, que é a minha linguagem. Através do desenho, criei essas cartas, que são de começo, de meio e de fim, embora elas não tragam isso de forma muito nítida. Acredito que cada espectador tem que fazer a sua leitura, não a minha. Por isso as cartas não têm título, eu não poderia identificá-las. Têm histórias, têm símbolos meus, então, pra mim, elas contam uma coisa, mas outras pessoas vão fruir de outra forma. As leituras podem ser infinitas. É isso que importa. O espectador ter o embate com a obra e dizer: pra mim, ela é isso.

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DC – Você disse que as cartas escritas em palavras contêm as histórias. Também procura referências visuais para fazer os desenhos?

É preciso ter alguma coisa pra olhar, porque a imagem que se faz na cabeça é outra. A imagem de um pássaro é diferente, quando se olha com mais atenção. Tem mais detalhes. Se eu for fazer uma cadeira, tenho que olhar pra uma, ou vai sair torta. A precisão exige que se tenha um banco de imagens.

Agende-se

O quê: Exposição Cartas de Amor, de Sergio Lopes

Quando: até 5 de dezembro. De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h30min. Sábados das 9h às 13h

Onde: Helena Fretta Galeria de Arte (Rua Presidente Coutinho, 532, Centro, Florianópolis)

Quanto: gratuito