Se o trabalho no Carnaval fez Nita Saideles perder a audição, foi justamente a paixão pela festa popular que a fez escrever uma história de superação em Florianópolis. Com 56 anos e 35 de carreira, a artista plástica utiliza a arte para divulgar as belezas da cultura brasileira pelo mundo e ainda ensina crianças a utilizar as técnicas de pintura para mudar a realidade de vulnerabilidade social.

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— Sempre fui uma criança arteira, hiperativa, então a pintura tornou-se um desabafo para que eu pudesse me expressar — conta Nita sobre o despertar para as artes. Em 2004, durante o trabalho como secretária de cultura no Rio Grande do Sul, a artista parou de escutar durante um desfile de Carnaval. Começou a noite com o som carnavalesco e terminou com o silêncio.

Depois de receber o diagnóstico irreversível por médicos gaúchos, Nita decidiu morar em Florianópolis para tentar superar a depressão profunda que vivia. Depois de passar um tempo isolada na praia, a pintora mudou-se para Centro da cidade, conseguiu colocar um aparelho auditivo e recuperou parte da audição.

A superação fez com que ela investisse na arte como sua forma de expressão e de sobrevivência. Morando em um apartamento, fez o Parque da Luz de ateliê e contou com a ajuda até de pescadores para recortar os cartões que a fariam famosa por toda a Ilha. No Bar do Arante, no Sul da Ilha, perdeu as contas de quantos cartões com pinturas vendeu e começou a querer replicar a experiência de superação.

Projeto social ensina pintura para crianças

Com cascas de Jerivá, árvore nativa do Parque da Luz, Nita deu mais significado ainda para a sua história de superação. Entrou em contato com os projetos sociais de crianças em situação de vulnerabilidade social e criou a sua própria oficina.

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Para ensinar as crianças, o Carnaval estava presente novamente. Com as cores e as cascas, Nita ensina os pequenos a fazerem máscaras semelhantes às utilizadas em bailes carnavalescos tradicionais.

Segundo a artista, mais de mil crianças já passaram pelo projeto, realizado a céu aberto e em meio a natureza. Comunidades como a do Monte Cristo, Morro da Caixa e Vila do Mosquito são algumas que participaram das aulas. As entidades que atendem a comunidade surda também já foram abraçadas pela iniciativa.

Nita e uma de suas obras
Nita e uma de suas obras (Foto: Tiago Ghizoni)

Quando questionada sobre os momentos mais marcantes do projeto, Nita logo responde uma série de episódios. Mas, é a história de um menino triste, isolado, que a artista escolheu para ser a mais representativa.

— Sempre termino a oficina com uma palestra contando minha história de superação. No final, falei que eles podem pegar a história de vida deles e reinventar. Quando nos despedimos, ele disse que o que falei era tudo que ele precisava ouvir — contou Nita sobre a experiência.

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Tintas e telas invadem a Europa

Nita tem exposição marcada na França em março deste ano. Lá, ela irá produzir a sua tinta própria e produzir ainda mais obras. Mesmo sem revelar o segredo da fórmula, ela conta que o material tem origem nos restos de latas utilizadas na construção civil.

— Quando eu digo que vou pra lá, todo mundo me pergunta se vou fazer as minhas tintas. Eles adoram — comentou ao falar da troca de conversas com artistas europeus. Na Europa, a pintora tem uma missão: divulgar o Brasil por onde passa.

março a maio, 15 obras de Nita serão expostas na França. Além da mostra, a coleção de obras da pintora será cenário para a performance de uma bailarina francesa em uma apresentação que a feijoada será o prato servido aos convidados. Com a exposição “Raízes Brasileiras”, a pintora ficará 3 meses divulgando a diversidade artística dos brasileiros. — Eu sou uma artista do povo, por isso o pessoal lá gosta tanto — disse.