O estudo da narrativa visual pode soar como um termo desconhecido, mas garanto que você já folheou livros de histórias contadas apenas com imagens, sem o auxílio ou amparo de um texto, geralmente identificados como livros infantis. Lembrou? O resultado de uma intensa pesquisa sobre o tema iniciado pela artista, professora e mestre Maria Lúcia Costa Rodrigues foi transformado no livro “A Narrativa Visual na Literatura Infantil Brasileira – Histórico e Leituras Analíticas”, que será lançado em Joinville no dia 16 de março, às 14h30, na Livraria Midas e poderá ser adquirido por R$ 35.
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A pesquisa de mestrado em patrimônio cultural resultou na produção do livro por meio do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec), mas o aprofundamento na narrativa visual surgiu inconscientemente há alguns anos. Foi quando a menina de Ituporanga (SC), dona de cristalinos olhos verdes, teve o contato com o livro “O Corcunda de Notre Dame” (Victor Hugo, 1831), que inspirou sua vida artística e pessoal.
A poesia transcende no olhar de Maria ao recordar do personagem principal da história, o Quasímodo, homem que foi abandonado quando criança e vivia como sineiro de uma catedral em Paris. Suas imperfeições físicas não permitiam que as pessoas compreendessem sua extrema sensibilidade.
– As histórias podem marcar a vida das crianças, por isso é importante selecionar muito bem os livros para elas.
Engana-se quem acredita que livros de histórias narrados por ilustrações coloridas são destinados somente para crianças que ainda não aprenderam a ler. As obras são consideradas um gênero literário, porque possuem narrador, enredo, personagem, tempo e espaço, assim como as demais obras literárias. Uma característica muito comum é que são geralmente circulares, mas apresentam início e um fim. A diferença é que os livros exigem uma interpretação de imagem mais analítica e crítica.
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As crianças, normalmente criam o primeiro contato com a literatura com essas obras, mas ainda não são capazes de refletir sobre as imagens.
– O primeiro contato com o mundo que a criança recebe é por meio do som e da imagem, antes mesmo da alfabetização. E quando elas podem iniciar uma alfabetização visual crítica e compreensiva, não só decodificada, são introduzidas na alfabetização, rompendo este contato -, explicou.
Questionada sobre o pouco uso de livros de narrativa visual com alunos alfabetizados, Maria Lúcia afirma que o caminho ainda é desconhecido por muitos educadores e existe uma espécie de abismo na compreensão do tema. A dica é escolher muito bem as obras, colocar o livro certo com imagens de qualidade nas mãos das crianças para despertar o olhar crítico sobre o mundo.
– Falta conhecimento da linguagem visual, não se aprofunda no tema. É preciso compreender que ler a imagem é diferente de decodificar, é preciso saber pensar sobre ela, principalmente porque vivemos num mundo de imagens e não podemos apenas aceitá-las.
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O cenário em que Maria Lúcia fincou os pés ainda é desconhecido pelos pesquisadores. Ela relata que encontrou pouco estudo na área e os que existem são encontrados em capítulos de livros e não em uma obra completa. Além disso, existe a dificuldade na nomenclatura.
A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) classifica como livro de imagens e outros chamam de livros de ilustração. E é justamente a crítica sobre a falta de nomenclatura correta que a pesquisadora aponta no livro. O contraponto é que uma imagem em si não conta uma história, ela apenas identifica elementos de um momento, mas não há possibilidade de descoberta do antes ou depois, ao contrário da narrativa visual contemporânea.
A obra possui uma narrativa visual construída pelas mãos da artista, que presenteiam o leitor nas primeiras páginas. O livro é indicado para educadores, artistas visuais, designers e produtores de imagem. Alguns já foram doados para bibliotecas públicas, universidades e escolas municipais.
Curiosidade
O livro “Ida e Volta” (1976), do artista Juarez Machado é o primeiro livro nacional feito com narrativa visual, selecionado como melhor livro sem texto em 1982, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
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Serviço
O que: “A Narrativa Visual na Literatura Infantil Brasileira – Histórico e Leituras Analíticas”, 136 páginas, Editora Univille, R$ 35
Onde comprar: Livraria Midas.