Antes Albertina Prates criava sem saber o porquê, como um marceneiro que tem nas mãos ferramentas sem conhecer motivos para usá-las. Mas a razão sempre foi o ser humano, o corpo humano, que tanto aparece em suas obras e o qual ela procura entender há algumas décadas.

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– Meu motivo é o homem e sua dualidade. Não somos nem bons nem maus, é só a necessidade de encontrar um ponto de equilíbrio.

Depois de um período de pouca produção artística, a catarinense de 59 anos fechou 2013 como um ano de retomada. Na segunda semana de dezembro participou do salão anual da Sociedade Nacional das Belas Artes de Paris, uma mostra internacional em que são expostas mais de mil obras de artistas de todo o mundo no museu do Louvre.

Ela também fez parte de uma série de mostras coletivas pelo Leste Europeu e integra o grupo formado por 18 artistas de Florianópolis que abriu no ano passado a galeria Ponto dArte, na Lagoa da Conceição. Agora, para começar 2014, ela apresenta uma obra sua na exposição Fórum Econômico e Cultural Brasil-Itália, que abre nesta segunda no Círculo Ítalo Brasileiro Santa Catarina, Centro da Capital. Representantes dos dois países que participaram do evento homônimo em dezembro de 2011, em Roma, mostram os trabalhos agora por aqui. Albertina expõe a tela Cheiro de Jardim – Elfos II.

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Ao falar de suas obras, a artista conta detalhes e a história por trás de cada uma delas, sempre cheias de sincronicidade. Ela também se refere a elas como algo sagrado, um sagrado que está presente nas formas e na composição de seus desenhos e cores, nos seres mitológicos e na natureza humana ou não.

– A inspiração é como um chamado, uma necessidade de fazer algo.

Nascida em Criciúma, no Sul do Estado, reconheceu o próprio talento ainda criança, numa época e numa família em que a arte era considerada perda de tempo. Mesmo assim seguiu o caminho da sensibilidade, graduou-se em Artes pela Udesc, depois fez especialização em Artes Visuais Contemporâneas e pós-graduação em Gerontologia pela UFSC. Ela expõe seus trabalhos desde 1974, obras que passam pela pintura, desenho, mosaico e outras técnicas. Para o ano de 2013, tem planejadas exposições em São Paulo e em Roma, na Itália.

Além de artista, Albertina atuou como atriz e apresentadora. Em 1974, aos 22 anos, foi contratada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Seis anos mais tarde foi aposentada por invalidez. O diagnóstico foi regurgitação da válvula mitral, doença cardíaca em que há um escoamento anormal do sangue pela válvula do coração. Em 2011, sua aposentadoria caiu nas manchetes dos jornais de todo país juntamente com a de outras 114 pessoas, investigadas por irregularidades.

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Em defesa, ela afirma que na época montou um dossiê com documentos e exames que comprovavam sua doença e que o exame feito pelo Instituto de Previdência do Estado de Santa Catarina (Iprev) foi realizado por um médico ortopedista, e não uma junta médica, que a diagnosticou com infestação de lombrigas.

– Foi uma pressão psicológica que piorou meu estado de saúde. Me colocaram no chão, acabaram comigo – afirma.

Ela diz que não conseguia ir nem mesmo à farmácia, e que as pessoas olhavam para ela e a reconheciam.

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– Elas diziam: “Ah, você é a Albertina, a aposentada inválida, safada!”. Por causa disso fui cortada de exposições, meus colegas me execraram. As pessoas já me julgaram e condenaram, mas não podem me executar.

Em outubro de 2012, o Iprev determinou o arquivamento do caso ao comprovar a patologia e manteve a regularidade do benefício. Ela atualmente recebe uma pensão da Alesc no valor de 9.866,48 e é isenta do pagamento de impostos.

:: Agende-se

O quê: exposição Fórum Econômico e Cultural Brasil – Itália

Quando: hoje, 19h (abertura). Visitação até 28/2, segunda a sexta, 8h30 às 20h

Onde: Círculo Ítalo Brasileiro Santa Catarina (praça 15 de Novembro, 340, Centro, Florianópolis)

Quanto: Gratuito

Informações: (48) 3223-2352