Um ritual religioso. É assim que Juarez Machado define a metodologia que desenvolveu ao longo das décadas para transformar uma ideia em obra de arte. Hábitos que contribuem para a excelência de sua produção e outros costumes acumulados ao longo dos anos que revelam um certo requinte, ou romantismo, como ele gosta de tratar.

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O joinvilense se autoclassifica entre os últimos artistas a não abrir mão dos cavaletes, pincéis e paleta. O uso de materiais tidos como tradicionais ajuda a compor o charme dos ateliês que Juarez mantém nos seus apartamentos em Joinville, Rio de Janeiro e Paris e faz presença na bagagem sempre que o artista viaja. Para qualquer lugar que Juarez vá, o trabalho o acompanha. Até os hotéis podem se transformar em ateliês improvisados.

– Só preciso do espaço de um tapete para trabalhar – diz o artista, que, em viagens de carro, escolhia paradas estratégicas onde pudesse pintar a paisagem.

O tapete, diga-se de passagem, deve ser persa, escolha que demonstra o culto do artista ao seu espaço. Juarez pinta sem derramar uma gota de tinta, mesmo intercalando pinceladas com a degustação de um bom vinho, companhia indispensável ao trabalho, assim como o jazz.

– A música é ininterrupta nas minhas casas. Pode ter certeza que lá em Paris há algo tocando, mesmo que não haja ninguém.

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A preparação para a produção de obras não se esgota no ambiente, sempre organizado e limpo. Juarez manda confeccionar roupas e sapatos que usa especialmente para pintar. E os trajes não têm nada a ver com aventais ou guarda-pós, são roupas com as quais o artista poderia muito bem sair para um jantar em Montmartre, bairro parisiense onde mora.

Juarez prima pela qualidade das tintas que compra com mais facilidade na capital francesa, e que também encontra em São Paulo caso esteja no Brasil. Já os pincéis, que precisam ser feitos com pelo de porco – Juarez dispensa os sintéticos -, vêm de uma indústria joinvilense.

Para o artista, não existe indisposição para o trabalho. A rotina começa às 5 da manhã, com a limpeza dos pincéis e preparação dos materiais. Juarez não pinta com luz artificial, por isso aproveita ao máximo a luz do dia, considerada ideal para a sua atividade.

– Qualquer dia é dia de pintar – defende.

É com a “disciplina de agricultor” que Juarez nunca deixa o cavalete vazio, o que também revela o cuidado em não cessar seus compromissos.

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– Se eu estiver com todos os trabalhos prontos, já posso morrer, não é verdade?

Os lares da criação

A escolha dos lares de Juarez Machado está condicionada ao seu trabalho. As casas ou apartamentos precisam ser mais do que aconchegantes, devem estar aptos a se transformarem em ateliês. Juarez busca nestes imóveis as condições ideais para a sua produção. No Brasil, eles devem ter a fachada voltada para o sul, e em Paris, para o norte.

– O sol incomoda, é luz ruim para trabalhar com as cores – reclama.

O primeiro ateliê do artista joinvilense foi improvisado embaixo de uma escada, na pensão em que passou a morar assim que chegou a Curitiba para estudar na Escola de Belas-artes, em 1961. Quando o artista ganhou reconhecimento, seus ateliês passaram para prédios luxuosos e palacetes do século 18, sobretudo na França.

Desde 1991, Juarez Machado está instalado em três andares de um edifício construído especialmente para abrigar pintores em Montmartre, bairro conhecido por ser o reduto de artistas durante a belle époque francesa. A fachada é composta inteiramente por vidraças, por onde é possível ver a movimentação dos moradores por quem está na rua. Já em Joinville, a produção é adaptada para um apartamento que fica no edifício que homenageia o artista e onde a mãe dele morou até falecer, em 2011.

Todos os ateliês usados por Juarez Machado ao longo da carreira chegaram a ser tema de uma coleção de pinturas. Os espaços foram resgatados na série Atelier de Artista, de 1995.

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