As digitais dos Senhores do Jogo do Bicho estão espalhadas pela vida pública. Por alguns bons anos, os bicheiros cariocas dominaram a política e a polícia, como consta da sentença, de 1993, da então juíza Denise Frossard, que condenou 14 integrantes da cúpula do jogo.
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Carlinhos Cachoeira é um exemplo acabado desse poder. Um dos seis filhos de um dono de banca de Goiás, ele tem o jogo no DNA. O pai não fez fortuna. Mas Cachoeira fez. Começou com uma aliança com estrangeiros e tornou-se o primeiro bicheiro eletrônico.
A essa aliança, ele teria somado um esquema de suborno, montando uma indústria de compra e falsificação de sentenças judiciais que permitiriam o funcionamento das casas de bingo, onde estavam suas máquinas de caça-níqueis.
O dinheiro que ganhou de maneira ilegal, investiu de maneira legal – em empresas de limpeza, laboratórios de remédios genéricos e outros empreendimentos. Para manter o sistema funcionando, seguiu a cartilha dos bicheiros: buscou facilitadores dos seus negócios que transitassem, com envergadura, no mundo legal.
Demóstenes Torres é um deles, uma parceria antiga que começou antes de o político ser eleito senador, em 2002. A todos os seus facilitadores, Cachoeira impõe uma única regra: na hora em que a casa cair, como diz o jargão policial, não usar a traição como uma moeda de troca para se safar.
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Aqueles que não seguiram a regra se complicaram. Basta lembrar o caso de Waldomiro Diniz, pivô do primeiro escândalo do governo Lula. Na época, como consta em sentença recente da Justiça, Diniz facilitava as ligações ilegais dos bicheiros, entre eles Cachoeira, com o poder. O ex-assessor não cumpriu o que havia combinado com o bicheiro. Acabou tendo uma de suas conversas com Cachoeira gravada e tornada pública.
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