A última semana foi marcada por catástrofes de revirar qualquer estômago. Um atentado em Nice, no sul da França, deixou mais de 80 mortos após um atropelamento em massa. Um tiroteio que matou três policiais em Baton Rouge, Luisiana e deixou mais seis feridos. Uma tentativa de golpe militar na Turquia, que devastou civis e militares, matando centenas. Uma mulher esfaqueada na frente da própria filha de apenas sete anos, no Rio de Janeiro. As páginas de notícias sangram, mas ainda assim deparamos com aquela sensação cansada de outra vez. Nossa rotina parece estar tão abarrotada de tragédias que o impacto já não é o mesmo. O choque inicial logo dá lugar à sensação de normalidade, como se viver rodeado de fatalidades fosse o novo normal.
Continua depois da publicidade
:: Leia outros artigos de leitores do Santa
Recentemente em Itapema uma mulher foi estuprada no ponto de ônibus. Tudo o que fizemos foi ler a notícia na tela do celular como se não houvesse nada a ser feito. Nos conformamos com a ideia de que os recursos de segurança são escassos e cobramos pouco das autoridades. A política já é piada, os que levam a sério estão exagerando na dose de seriedade, enquanto o resto nem sabe mais quem é quem. “É tudo ladrão”, comentam nas redes sociais. “É tudo bandido”, “Tem que matar mesmo” e por aí segue a mentalidadelimitada de quem não consegue parar por um segundo e analisar os fatos.
O novo normal é ser racista e exibir a falta de caráter em redes sociais de pessoas negras. O novo normal é ser homofóbico e deixar isso bem claro em nome dos bons costumes e da moral da tradicional família brasileira. Aliás, nem se sabe mais o que é tradicional nesse mundo do novo normal. Não se sabe quase nada, mas opina-se sobre quase tudo. O novo normal é defender partido em vez de enxergar o quadro geral do país. É levantar bandeiras ignorando as demais. É apontar dedos sem autoanálise.
:: Confira mais notícias de Blumenau e região
Continua depois da publicidade
As notícias não param e tudo ao nosso redor se transforma numa velocidade alucinante. O novo normal é ser insensível, talvez como antídoto à dor que nos acomete quando somos obrigados a lidar com as mazelas humanas sendo despejadas em nossa timeline. Talvez esse comportamento agressivo em massa seja apenas um mecanismo de defesa, um grito de socorro de quem está exausto emocionalmente para lidar com tragédia atrás de tragédia. O que está acontecendo com a gente?
Quer publicar um artigo no Santa?
Colaborações para artigos devem conter entre 2.050 e 2.140 caracteres com espaço. Os textos devem ser enviados para leitor@santa.com.br com nome, profissão, endereço, identidade e telefone. O Santa se reserva o direito de selecioná-los.