É um dos melhores registros audiovisuais já feitos sobre o mito do gaúcho este Artigas, La Redota com o qual Cesar Charlone abriu a mostra de longas latino-americanos do festival. A cinebiografia possível do herói “gaucho”, sobre o qual restam as impressões mais contraditórias e nenhuma imagem confiável, é original em sua abordagem, envolvente em sua construção narrativa e corajosa em sua independência.

Continua depois da publicidade

Uruguaio de nascimento, cineasta brasileiro por sua formação e seu trabalho pregresso realizado em São Paulo, Charlone é o fotógrafo de Fernando Meirelles (indicado ao Oscar por Cidade de Deus) e o diretor e roteirista do tocante O Banheiro do Papa (2007). Mergulhou no trabalho de reconstrução da trajetória de José Artigas (1764 – 1850) a partir dos esforços do pintor Juan Manuel Blanes (1830 – 1901) para criar a imagem do mito conforme se podia imaginá-la algumas décadas após a sua morte.

Blanes pintou o mais difundido retrato do fundador da identidade uruguaia usando os desenhos e as anotações de um espião espanhol que considerava Artigas nada além de um criminoso messiânico. À medida que centra o roteiro na viagem e nas consequentes observações deste espião, Charlone não se furta a registrar os questionamentos de seus opositores, o que dá a Artigas, La Redota um caráter não oficialista e uma riqueza dramatúrgica que só os filmes que respeitam as contradições de seus personagens possuem.

É o seu primeiro acerto. A partir dele e ao longo de suas duas horas de projeção, o realizador acaba forjando um herói de discurso sedutor e compreensão política visionária – o que revela sua admiração por Artigas. Também se trata de algo positivo: além de original, envolvente e corajoso, Artigas, La Redota é um filme honesto. Já é um ponto alto de Gramado 2012.

Continua depois da publicidade