Yasmin e Ana Clara eram só atenção. Miravam, compenetradas, as mãos de rendeiras como Norma, cujos dedos laçavam e entrelaçavam a renda de bilro e tramoias, heranças da colonização açoriana e patrimônio cultural de Florianópolis. Ali, separadas por meio século de vida, a rendeira e as aprendizes davam continuidade à cultura mané, exemplo de uma Ilha que não existe mais, mas que busca através de gerações manter viva nos pequenos a riqueza e tradição do mais puro artesanato ilhéu. Assim foi a estreia do projeto Mãos que Ensinam Mãos, ocorrido no sábado, na Escola Básica Municipal Henrique Veras, na Lagoa da Conceição.

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Além disso, a iniciativa visa dar oportunidade para que rendeiras e rendeiros, geralmente adultos e idosos, estejam mais próximos dos pequenos, fortalecendo o sentimento de utilidade e valorizando a contribuição desses artistas para a sociedade. Uma pesquisa feita pela orientadora educacional Diléia Pereira Bez Fontana observou que as rendeiras de Florianópolis não têm menos de 70 anos. A atividade, que para os antigos passava de geração em geração, hoje sobrevive nas mãos de gente como Norma Nunes D¿Ávila, 64 anos, que mora na Joaquina.

— Se as rendeiras não passarem os conhecimentos para as novas gerações, daqui a 20 anos não vamos mais ter rendeiras em Florianópolis. Então foi onde eu, trabalhando com crianças e idosos, percebi que precisava fazer algo para perpetuar a cultura açoriana — destaca Diléia, entusiasmada com a primeiro evento de um calendário que já prevê outras edições do Mãos que Ensinam Mãos que, daqui a três meses, estará em comunidades historicamente ligadas à renda de bilro, como Armação, no sul da Ilha, e Santo Antônio de Lisboa.

Vontade de criança

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E parece que a ideia de Diléia deu certo. Pelo menos foi o que mostrou Yasmin Borchartt da Silva Vianna, 10, que há tempos dizia para a mãe que desejava aprender a arte da renda de bilro. Começou a gostar ao ver a matriarca fazer tricô, mas a pequena queria era a renda. No sábado realizou o desejo.

Além da renda de bilro, também pôde conhecer fuxico e bordados, outras duas oficinas de cultura popular. Aluna da escola Henrique Veras, Yasmin pode seguir aprendendo a renda todas as sextas-feiras, no contraturno escolar.

— Ela já até me falou que quer fazer a renda no contraturno. Amou – resumiu a mãe de Yasmin, Patrícia Borchartt da Silva.

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Vizinhas na Joaquina e companheiras na renda

Quem também vai seguir aprendendo o ofício tão em desuso é Ana Clara Lima da Silva, 10. A garota conseguiu como professora de renda de bilro sua vizinha na Joaquina, a rendeira Norma. Atenta, mal desviou o olhar da atividade para falar com a reportagem, queria captar todos os detalhes do que as mãos da sexagenária faziam. A rendeira, que trabalha com a tradição desde os oito anos, se diz feliz de poder ensinar aos pequenos um pouco do que os anos lhe ensinaram.

— As crianças não vão trabalhar com a renda, como a gente, mas também não vão deixar a tradição acabar. Por isso que é muito bom ensiná-las – disse Norma, prontamente acompanhada pela vizinha Ana Clara.

– Estou gostando muito – definiu a pequena.

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