Na comunidade de Monte Alegre, em Camboriú, a jovem se viu grávida do segundo filho. Aos 17 anos, se considerou nova demais para encarar a responsabilidade. A barriga crescia e o namorado não reconhecia a paternidade, apesar de ter até escolhido o nome da bebê, Agatha Sofia. A adolescente resolveu então percorrer um caminho mais curto – aos três meses de gestação, aceitou entregar a filha a uma mulher que teria negociado o bebê com o irmão de 25 anos, e a cunhada, também de 25, moradores da cidade de Palmas (PR).
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No momento do parto, a jovem foi levada para Matinhos, também no Paraná, para dar a luz à criança. De lá, voltou sem a filha. Agora, aos recém completados 18 anos, mora com a mãe, que trabalha como diarista para sustentar a casa. A adolescente cuida dos dois irmãos gêmeos e do filho de um ano e nove meses. Sem trabalho e com pouco estudo, cursou até a 7ª série do fundamental, mora em uma pequena casa, no Bairro Monte Alegre. Arrependida e com vergonha de ser apontada na rua, passa agora os dias dentro de casa.
“Quero meu cobertor. A criança não me importa”
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A menina entregue no Paraná conviveu com o casal por três meses. Eles acreditavam na impunidade e ficaram surpresos com a chegada da polícia, no último dia 16. Durante o resgate da criança, o surto da mãe adotiva alarmou conselheiros e policiais. Aos berros, dizia para que não levassem o cobertor da criança.
– A criança não me importa, quero o cobertor – bradava, descontrolada, quando a agente pediu um cobertor para cobrir a menina.
Para o delegado Osnei Oliveira, são evidentes os riscos que a criança poderia vir a sofrer caso fosse criada pela mulher. Razão pela qual o conselheiro e diretor do Núcleo de Prevenção às Drogas de Camboriú, Manoel Mafra, lembra a importância do procedimento realizado para certificar que o casal está mesmo preparado para a adoção.
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– Não somos contra a adoção, mas que ela seja dentro dos procedimentos e dos preparos que deve ter. Nesses casos ilegais não sabemos qual é o fim. Pode ser um pedófilo ou mesmo para rituais- alerta.
Na avaliação do delegado, o arrependimento da mãe biológica, interessada em reaver a bebê por meio da Justiça, dificilmente reverterá a perda do poder familiar e a criança deve ir mesmo para a adoção. Em depoimento à polícia, a jovem disse ter ganho quantias em torno de R$ 250 a R$ 300 em mais de uma vez por mês. Depósitos na conta bancária da mãe também estão sendo investigados.
Para o delegado, a mãe adotiva disse ter pago em torno de R$ 600 por mês à intermediária na negociação, o que totalizou cerca de R$ 5 mil. Todos os envolvidos serão indiciados pela venda do bebê, por registro ilegal da criança e falsidade ideológica. Eles deverão responder em liberdade. Nesse cenário, o delegado não descarta que a intermediária tenha participação em outros crimes nos mesmos moldes.
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Confira a entrevista com a mãe:
DC – Porque você tomou esta decisão?
Mãe – Optei em dar porque eles ( o casal) não podiam ter filhos.
DC – E o que você pediu em troca?
Mãe – Só queria dinheiro pra comer, em torno de R$ 50 a 100 por mês
DC – Como você conhecia a intermediadora?
Mãe – Nós éramos vizinhas, no Bairro dos Municípios, minha mãe também conhecia ela
DC – O que você achava dela, você não ficava preocupada com o que poderia acontecer?
Mãe – Ela parecia uma boa pessoa. Me tratava bem, comprava as coisas no mercado pra mim.
DC – Porque você deu a luz em um hospital na cidade de Matinhos, no Paraná?
Mãe – Ela veio me buscar pra ter o filho lá. Disse que já tinha conversado com o médico, que seria cesariana e que seria em uma clínica particular. No dia 9 de junho fomos a Matinhos. Eu, ela, o marido dela e o filho. Fomos de carro.
DC – E quando você entregou o bebê?
Mãe – Depois quando fomos no cartório, eles registraram a menina. Estava tudo certo.
DC – E como foi que você registrou a criança no cartório?
Mãe – Ela (intermediária) entrou com ele (falso pai) lá e eu fiquei esperando, depois me trouxeram o papel para assinar.
DC – O que você sentiu quando entregou a sua filha?
Mãe – Amamentei um pouco antes, no carro, dei um beijo e entreguei pra ele. Fiquei com vontade de não entregar, mas ele já tinha ido.
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DC – Como está a sua vida agora?
Mãe – Fico dentro de casa, porque na rua as pessoas me olham torto. Na rádio me xingaram, não sabem o que estou passando.
DC – Você vendeu a sua filha?
Mãe – Não, jamais iria vender a minha filha. Não podia ficar em escolhi dar ela. Dei porque eles não podiam ter filhos e ela é obcecada por uma menina.
DC – Nos três meses que a menina ficou com o casal em Palmas, você manteve contato com eles?
Mãe – Não, eles disseram que não queriam contato comigo. Então achei ela na internet e ficava olhando as fotos que eles postavam dela. Queria estar junto com ela.
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DC – O que você pensa em fazer agora?
Mãe – Vou pegar a menina de volta.
DC – Depois que o caso foi divulgado pela imprensa, você entrou em contato com a Leoci?
Sandra – Ela me ligou na terça-feira, para saber como estão as coisas, falei tudo o que estava acontecendo e ela disse que iria ver o que poderia fazer e depois me ligava. Agora ligo pra ela e o celular está desligado.
Polícia resgata bebê que vivia ilegalmente com casal no Paraná: