Pela mesma porta da frente em que saiu, Hemerson Maria retornou ao Joinville. Na tarde desta segunda-feira, o treinador de 43 anos assumiu o comando da equipe da qual foi desligado em junho do ano passado após o início ruim no Campeonato Brasileiro. Neste hiato na relação entre clube e treinador, o caminho dos dois volta a se cruzar em um momento em que podem se ajudar mutuamente: com o Tricolor querendo chegar a mais uma final de Estadual e o profissional com o anseio de se desafiar e retomar a carreira que ficou parada por oito meses.
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Embora a torcida divida opiniões sobre a volta de Hemerson Maria – que deixou o JEC sendo criticado pelos poucos gols que o time marcava, problema que persiste até hoje -, o profissional conta com o respaldo da diretoria e da comissão técnica. Entre elés, é unânime. A prova disso é que sentaram ao seu lado, na sala de imprensa do Morro do Meio, o presidente Nereu Martinelli, o provável futuro presidente, Jony Stassun, e o superintendente de futebol João Carlos Maringá.
PC Gusmão deixa o comando do JEC
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Essa foi a primeira coletiva de imprensa em que Nereu Martinelli apareceu, em 2016, no CT do Morro do Meio. Preparando a sucessão presidencial, o atual mandatário tem preferido deixar Stassun sob os holofotes. Mas, no retorno de Hemerson Maria, ele marcou presença para admitir a “injustiça” que foi demitir o técnico após apenas cinco partidas no Brasileirão do ano passado.
– Quando o presidente vem aqui é sinal que as coisas não andam bem. Fomos injustos com ele em sua demissão após cinco jogos – admitiu.
Como uma de suas últimas decisões como presidente do JEC, Nereu Martinelli aprovetou para corrigir o erro e buscar um profissional em quem confie no trabalho
– Por que vou buscar um profissional que não conheço o trabalho se tenho uma pessoa que trabalhou no JEC durante 18 meses e deu o maior título da história? Trouxemos dois nomes que a gente não conhecia. O que aconteceu de novo? Nada – enfatizou Martinelli.
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Em sua extensa entrevista coletiva no retorno ao JEC, Hemerson Maria falou apenas em trabalhar. Ele avisou que a roupa suja será lavada internamente e que o momento é de se falar pouco e se fazer muito.
– Esse manezinho aqui vai arregaçar a manga e trabalhar muito. Não sou um milagreiro, mas posso contribuir para que o JEC saia desse momento difícil em que se encontra – destacou.
Confira a íntegra da entrevista coletiva com Hemerson Maria
Você chega ao JEC sem ser uma unanimidade entre a torcida. Como espera lidar com isso?
O Joinville é uma equipe, dentro do cenário nacional, muito grande. Tem uma responsabilidade muito grande com o torcedor. Não existe unanimidade na nossa vida e nem no futebol. Sempre haverá questionamentos. Como da outra vez, vou ter que superar tudo com trabalho. Agora, não é o momento de haver divisão. De se lamentar. Cada um tem sua preferência, mas é momento de reunir forças em favor do Joinville. Quando obtivemos acesso, em 2014, eu falei que o clube só seria vitorioso se tivesse a união de todos. Mais uma vez, eu peço para que todos apoiem o Joinville.
O que você fez nesse período afastado do futebol?
O tempo em que fiquei parado foi além do que havia planejado. São coisas do destino. Quando saí do JEC, na primeira semana em casa recebi vários convites, mas tive um problema de saúde grave com minha esposa e precisei estar do lado dela naquele momento. Eu faltei a formatura dela, eu perdi o aniversário de um ano da minha filha por causa do futebol. Eu sempre priorizei futebol, deixando de lado minha família. Naquele momento ela estava precisando do Hemerson em casa. Também tive um problema de saúde. Fui investigar o que estava acontecendo e estava com lesão muito grave no quadril. O processo cirúrgico foi chato e demorado. Foram quarenta dias que perdi na minha carreira. Fui procurado por equipes de Série A. Equipes grandes de Série B também. Foi um ano de batalha, que aprendi bastante. No dia 24 de novembro, meu pai sofreu um AVC e Deus quis que eu estivesse em casa para dar todo o suporte para ele. Foi um ano difícil, mas saí fortalecido. Aproveitei para me atualizar, vi bastante jogo. Hoje, sou um cara bem mais maduro.
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Quais são os problemas que você vê atualmente na equipe do JEC?
Internamente, a gente vai falar sobre isso aí. Seria antiético da minha parte estar falando. A gente viu os jogos do Joinville. Tinha dia que assistia mais de dez jogos. Eu sabia que esse momento do retorno poderia acontecer a qualquer momento. Ontem, antes de acertar com JEC, conversei com outras equipes. Quando falei com presidente (Nereu Martinelli), dei a palavra que hoje estaria aqui. A roupa suja tem que ser lavada em casa. Vou falar com o Maringá. Não gostaria de falar de problemas pois acho antiético. Tenho certeza que o PC Gusmão deu o melhor de si e é isso que vou tentar fazer.
De que forma você vai tentar recuperar o JEC?
Eu posso falar que sou um cara vitorioso na minha vida e na minha profissão. Posso falar que sou trabalhador, dedicado e humilde. Eu procuro extrair do grupo sempre o máximo. É isso que vou tentar fazer. Esse elenco do JEC pode dar mais. Tem qualidade, tem jogadores que não deram o seu máximo ainda. O recado que deixo pro torcedor, que é o mais fiel do Estado, é para não abandonar o clube. Vai ser um ano de muito alegria, mas para isso a gente vai precisar do apoio do torcedor. Sem a Arena lotada, que é nossa Catedral, não vamos conseguir virar o jogo. Esse manezinho aqui vai arregaçar a manga e trabalhar muito. Não sou um milagreiro, mas posso contribuir para que o JEC saia desse momento difícil em que se encontra
Quais são as lembranças que você guarda do Joinville?
Saí daqui com o sentimento de muita tristeza. Não sou uma pessoa que vai estar sorrindo sempre, mas criei relação de fidelidade, de entrega, com todos aqui. Lembro muito do Sagaz me abraçando e chorando. Chegamos a ser a equipe do mundo recordista de tempo de invencibilidade em casa. Conseguimos por dois anos seguidos chegar nas finais do Catarinense. A imagem daquele rio vermelho, preto e branco conduzindo o ônibus jamais vai sair da minha memória. Recepção do torcedor sempre foi muito calorosa. Não posso pegar uma borracha e apagar. Foram momentos marcantes. Mesmo em Floripa, lá na minha casa, assistia e torcia pelo JEC. Mas eu torcia muito pelo Joinville. Fiquei muito triste no dia que o Joinville caiu.
O que pretende fazer para o JEC recuperar o respeito jogando na Arena?
Sou natural de Florianópolis. Assim, quando chegava próximo de enfrentar o JEC, havia respeito grande. Falei com alguns atletas e eles sempre falavam que jogar na Arena era um inferno. Para que isso aconteça, tem que haver sincronia, química entre torcedor e equipe. Quem coloca fogo nisso, quem vai criar isso são os jogadores. Com brilho, determinação, vontade. Sobretudo com confiança. Vamos tentar resgatar o Joinville e a confiança.
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A falta de gols do JEC é uma das principais reclamações da torcida. Como pretende corrigir?
São raras as equipes que hoje tem poder financeiro pra trazer jogador de qualidade. Tem o caso do Atlético-MG que paga muito dinheiro pelo Robinho. O jogador de qualidade que tem no mercado tem custo que Joinville não teria receita pra trazer no momento. Quando isso acontece, tem que buscar soluções no elenco. Conheço alguns jogadores. Individualmente, acredito que alguns jogadores podem estar rendendo mais. Vou tentar extrair isso dos jogadores. Os atletas terão funções para executar dentro de campo. Quando eles tiverem entrosados, as coisas vão melhorar, com a equipe mais equilibrada. Para que aconteça isso, o grupo tem que ter confiança, estar motivado.
O que pesou mais para você aceitar o retorno ao JEC: a razão ou a emoção?
Tem muita paixão envolvida, lógico. Mas, nós profissionais temos que ser racionais. Quando foi feito convite, a gente analisou. A gente sabe do elenco que tem, das pessoas que estão aqui. O que me fez voltar, além da paixão e do envolvimento, é a certeza que o JEC dá um suporte muito grande para os profissionais que trabalham aqui. O Joinville tem a cara do povo da cidade. Cidade de pessoas trabalhadores, determinadas, que vão em busca daquilo que lhes é permitido ter. É isso que vamos fazer: trabalhar muito e falar pouco para que o Joinville volte a ser grandioso no cenário catarinense e nacional.